Os vinhos portugueses continuam a ter potencial de aumento de exportação. Esta conclusão extrai-se da conferência-debate Vida Económica/BES que decorreu na semana passada em Dusseldorf, na Alemanha.
Com mais de 160 expositores presentes, Portugal teve a maior representação de sempre no maior salão mundial do sector.
No último ano, a exportação de vinhos portugueses para a Alemanha subiu 10% em volume e 15% em valor, justificando a aposta forte neste mercado.
«Estamos no momento de separar mais as estratégias Porto e Douro. Até aqui, o Douro veio atrás do Porto. Acho que neste momento o Douro tem um caminho próprio a percorrer. Já demos orientações para que não se provasse vinho do Porto e do Douro ao lado um do outro» - afirmou Luciano Pereira, presidente do IVDP, na abertura do debate organizado pela «Vida Económica», com o apoio do Banco Espírito Santo. Esta iniciativa decorreu no stand do IVDP na Prowein.
A presença do IVDP na Prowein é habitual e surge no seguimento de acções que estavam projectadas nos últimos anos.
«Relativamente aos nossos projectos para o vinho do Porto e o vinho do Douro nos próximos tempos, já é um assunto mais complexo. Essa complexidade advém em primeiro lugar do quadro económico global que estamos atravessar e que ainda ninguém sabe muito bem definir. Acreditamos que isto é uma crise do sistema como já tem havido outras, porventura mais fortes em determinados tipos de sector económico. Mas é uma crise como as outras e que vai passar. Neste momento, temos algum cuidado nos investimentos sumptuosos, porque não esperamos retorno correspondente» - salientou.
O objectivo da presença na Prowein foi mostrar os vinhos produzidos para quando houver uma recuperação económica voltar a haver um crescimento de volume de vendas e que exista um público-alvo melhor preparado e que saiba reconhecer de uma forma mais perfeita o valor dos vinhos. «A região demarcada do Douro é um terroir fantástico para a produção de vinhos, mas acreditamos que podemos fazer melhor do que o que existe. Vamos trabalhar para que dentro de 20 anos o Douro seja um território arrasador para a qualidade dos vinhos do mundo» - referiu Luciano Pereira.
Aumentar a acção de promoção
Portugal tem que aumentar o investimento em promoção de vinhos - afirmou Vasco Avillez, presidente da Viniportugal. Esta organização teve na Prowein o maior stand entre os expositores portugueses.
«Portugal tem uma produção de vinho muito grande: produz 7 milhões de hectolitros, consome 4,5 milhões de hectcolitros e tem de exportar os outros 2,5 milhões. Aquilo que produzimos é igual ao que se bebe em Portugal mais o que exporta. Portanto ainda temos que aumentar ligeiramente as exportações. Isto faz-se continuando a batalhar na promoção genérica em conjunto. É isto que se está a fazer cada vez com maior projecção e união entre as várias forças que promovem o vinho» - explicou. A Viniportugal faz uma promoção genérica. É necessário fazer esta promoção, mas não chega. As marcas têm de agir por sua conta e risco. «Quem tem marcas tem de as proteger e tratar delas» - salientou Vasco Avillez.
As exportações dos vinhos de mesa têm aumentado à média de 7% ao ano nos últimos sete anos. «O nosso objectivo é que o negócio do vinho atinja mil milhões de euros em 2012» - considera Vasco Avillez.
Para o presidente da Viniportugal, o país tem que aumentar a quantidade de dinheiro que é investido, que é muito pouco, se quer que as coisas aconteçam de facto neste capítulo dos vinhos. «A ViniPortugal investe três milhões de euros que nos são dados pelo IVV todos os anos mais o que conseguimos ir buscar a programas da economia, nomeadamente ao QREN. É preciso que o IVV, em vez de nos dar 30% da taxa de promoção, nos dê muito mais do que isso, porque a taxa cobrada é de promoção e portanto deve ser usada na promoção» - afirma.
É preciso continuar a educar os agentes económicos em geral, de forma a saberem o que é uma feira, uma prova de vinhos, tudo isto tem o seu savoir-faire que é preciso que os agentes económicos percebam para poderem tirar o melhor partido das ocasiões.
O papel da ViniPortugal é o de continuar neste esforço da promoção genérica e incentivar a que outros façam a promoção das marcas.
Para Vasco Avillez, o papel dos distribuidores locais é fundamental. «Estas feiras são óptimas para aprofundar essas relações. Agora é preciso trabalhar com profissionalismo e com rectidão. Se são distribuidores exclusivos, são exclusivos. O ideal é termos distribuidores em quem possamos confiar, e não investir directamente nos canais de comercialização. Vamos fazer de cada ameaça uma oportunidade».
«Portugal tem capacidade para produzir vinhos com uma óptima relação qualidade/preço, tem capacidade para produzir vinhos de nicho. Ao negociar com o distribuidor maior valor acrescentado, ele vai tratar melhor os nossos vinhos» - disse.
Exportação para a Alemanha cresce em contraciclo
«De acordo com os últimos dados da Aicep, os vinhos portugueses aumentaram em 15% em termos de importação em valor e 10% em termos de volume no mercado alemão, atingindo cerca de 34 milhões de euros em 2008» - revelou Mathias Meichsner, técnico do Centro da Negócios da Aicep em Berlim. Numa fase de grande concorrência no mercado da Alemanha, significa bons resultados do sector de vinhos portugueses seja no aumento da qualidade, ou nos instrumentos de marketing ou até na colaboração com os agentes económicos que actuam no mercado. Isto é importante numa fase em que o mercado alemão de importação global estava a crescer em termos de valor 4,2% e registou uma diminuição em termos do volume de importação.
«O mercado alemão é complicado por vários motivos, entre os quais a concorrência forte de outros países. A Alemanha é um dos maiores consumidores de vinho. Também há a concorrência dos próprios vinhos alemães, especialmente dos brancos e parcialmente nos tintos» - salientou o técnico da Aicep. Também há que considerar o efeito discount. Cerca de 50% dos vinhos comercializados na Alemanha são vendidos através das cadeias discount.
Diversidade não é sinónimo de fraqueza
«Os produtores da região têm sabido usar a diversidade pelo lado positivo» - afirmou Bruno Almeida, director da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Existem cerca de 35 mil hectares de vinha e cerca de 32 mil produtores de uva, ou seja, a média é um hectare por produtor de uva. Felizmente, na região tem havido alguns projectos de associação de produtores com bons resultados. Por outro lado, a própria CVRVV também tem feito um esforço para estar presente nos nossos mercados prioritários e apoiar esses produtores que por si só teriam dificuldade em promover os seus vinhos. Na Prowein participaram 14 produtores e 10 empresas através do stand da ViniPortugal.
«Temos incidido a nossa acção em cerca de seis ou sete mercados. O vinho verde é exportado para 100 países, logo era impossível fazer promoção em todo o lado. Este ano tem sido mais ou menos o mesmo plano. Este é o terceiro país que estamos a visitar. Começámos no Canadá e nos EUA. Fizemos também um plano de três anos em Angola, que é também um mercado importante de vinho verde. O primeiro mercado actualmente é os EUA. Tivemos um crescimento incrível nos EUA e estamos a exportar já três milhões de garrafas para lá. Para a Alemanha, são exportadas perto de dois milhões de garrafas. «O consumidor de vinho verde, hoje em dia, é muito mais diversificado» - salientou o director da CVRVV.
Mais informação no mercado
«Na Alemanha subimos mais em valor do que em volume, o que é um bom sinal de futuro» - considera Romeu Veloso, consultor. Os profissionais alemães, nomeadamente importadores, que testam o vinho português ficam agradados com a relação qualidade-preço mas sentem alguma dificuldade em impor os produtos no mercado pela falta de conhecimento. «Julgo que era preciso muito mais do que o que está a ser feito. Tem de haver massificação da informação do vinho português. Porque se isso não acontecer vai ser muito difícil esta aplicação de todas as outras medidas que são necessárias. Ninguém escolhe o que não conhece. Temos mesmo que melhorar mais do que os outros» -afirma.
Recorde de exportadores
Esta edição da Prowein onde há mais expositores portugueses - salientou Hans Walter, director da Walter & Cia, organização que representa em Portugal as feiras de Dusseldorf. Portugal foi o sexto país mais representado na Prowein, o que é significativo. O responsável pelas feiras de Dusseldorf considera necessário continuar a fazer o trabalho de casa para promover a marca de Portugal.
A elevada presença de exportadores portugueses numa conjuntura negativa reflecte uma maior aposta no mercado externo. «Nota-se isto não só na Prowein como na GDS, no sector do calçado, por exemplo. Em momentos de crise as empresas portuguesas tendem a reagir e procuram novos clientes» - salienta Hans Walter. Em outras feiras, no ramo médico, ou nos plásticos, nota-se esse crescimento neste ano de crise. Ao contrário do que seria de esperar em anos de crise, as empresas portuguesas apostam mais nas feiras internacionais do que nos períodos de conjuntura positiva.
Vinhos atraem novos investimentos
No sector dos vinhos há novos investimentos. Um dos exemplos é a marca Dona Matilde, criada pelos ex-proprietários da Porto Barros após a venda da empresa de vinho de Porto à Sogevinus (Grupo Caixanova).
Para Filipe Barros, este sector tem de ser visto mais a longo prazo. De facto, é um sector que demora a construir e demora a ter rentabilidades. Por outro lado, os vinhos são um sector muito regulamentado, o que pode dificultar o investimento. «Isto não acontece só em Portugal, porque, quando queremos exportar para os EUA, também nos confrontamos com muita regulação. Temos de, por exemplo, fazer novos rótulos, o que para um produtor são custos muito elevados. É cada vez mais complicado enviar amostras para potenciais importadores nos EUA» - acrescentou. |