Porto servirá para alavancar exportações da gama de vinhos alentejanos do grupo.
O grupo Esporão, que no final do ano passado concluiu a compra da Quinta dos Murças, no Douro, tem nos seus planos adoptar o antigo convento existente na propriedade de 150 hectares para fazer um "hotel de charme" com "10 a 15 quartos", adianta João Roquette. O administrador-delegado (CEO) da "holding" Esporão acredita que, no prazo de cinco a sete anos, o projecto avance nos 2.000 metros quadrados do edifício, criando uma unidade que seja ao mesmo tempo "de qualidade" mas "acessível" em termos de preço, explica, dando a actividade do grupo no Alentejo como exemplo na área de enoturismo. Falta agora "encontrar parceiros" para o projecto hoteleiro, investimento que o CEO do Esporão prefere não quantificar, mas do qual, reconhece, pode nascer "uma relação muito interessante" entre vinicultura e rentabilidade hoteleira.
A Quinta dos Murças representou, em finais de 2008, a primeira incursão do Esporão fora do Alentejo. João Roquette recusa avançar o valor do negócio da compra, mas acredita que o retorno "será muito rápido", no espaço de cinco anos.
Porto alavanca exportações
Na Quinta dos Murças é já sabido que o grupo vai aplicar três milhões de euros no espaço de três a quatro anos. A prioridade vai para a vinha, com reconversão de 20 hectares (apoiada pelo programa Vitis), a adega (com capacidade actual para 600 mil litros), e para a casa, onde ficará sediada a actividade comercial da segunda exploração vitivinícola do Esporão.
A compra da Quinta, que João Roquette assume como um projecto da actual equipa de gestão, que lidera desde Setembro de 2006, resulta de um namoro de dois anos, muito incentivado pelo enólogo do grupo, David Baverstock, com larga experiência no Douro.
O que o administrador-delegado da companhia pretende agora é, no espaço de oito anos, passar de uma produção de 120 mil litros para um milhão de litros no Douro. Só a título comparativo, no Alentejo, a Herdade do Esporão fez 11,56 milhões de litros (ou 14 milhões de garrafas) na última campanha.
A ideia, a médio prazo, é utilizar o Porto da Quinta dos Murças para alavancar internacionalmente a gama de alentejanos do Esporão. Com uma facturação anual de 34 milhões de euros, o Esporão realiza já 33% das suas vendas no exterior. Angola, EUA e Brasil perfazem 80% das exportações.
Além disso, o grupo pretende apostar também em "vinhos de mesa" na nova propriedade no Douro, "o que terá um impacto maior na visibilidade" junto do público. João Roquette prefere, para já, não desvendar o produto "topo de gama", que espera estar a vender já no "primeiro semestre de 2010", mas tem uma certeza: "não queremos repetir aquilo que já foi feito".
Na área oleícola, é provável que as 6.000 oliveiras da quinta resultem num "produto exclusivo" com a chancela do Esporão.
"Não estamos obcecados em coleccionar regiões"
A partir do início deste ano, a antiga Finagra passou a denominar-se Esporão. O capital continua a ser "100% da família" Roquette, sendo a mudança "bastante natural", considera o CEO: faz a ligação directa com a Herdade do Esporão, onde a Finagra arrancou em 1973. A compra da Quinta dos Murças, que vem coincidir com a alteração do nome do grupo, espelha a nova realidade: deixar de estar numa só região, o Alentejo, associando o Douro. "Estamos em mais de uma região, mas não estamos obcecados em coleccionar regiões", explica João Roquette. Outras diversificações são possíveis no portefólio, admite, mas não são prioritárias. Até porque, para já, há um plano estratégico (2006-2011) a cumprir: liderar o mercado interno; aumentar de 26% para 40% o negócio internacional e ganhar cota nos azeites. |