Duas centenas de provadores apuram os sentidos no Concurso Mundial de Bruxelas que, pela primeira vez, saiu para o estrangeiro. E veio para Lisboa.
John Chua bebeu o seu primeiro copo de vinho aos 18 anos. “Not very good”, diz num inglês enrolado nos ‘éles’ o presidente da Chinelli, uma empresa que treina o palato do pessoal de bordo da Singapura Airlines.
Pelas papilas gustativas do senhor Chua passou então uma zurrapa; vinagre que, no entanto, provou ser insuficiente para desanimar a persistência oriental: “A experiência não foi lá muito boa mas pensei: aqui está o futuro.”Chua está a meio das 50 provas da manhã do 13.º Concurso Mundial de Vinhos de Bruxelas, pela primeira vez a decorrer fora daquela cidade. Do outro lado da janela da sala onde se sentam os provadores deste ano corre para a liberdade o Tejo.
Roberto Carlos já arrancou no Calhambeque. O concerto que levou milhares ao Pavilhão Atlântico, em Lisboa, prova que o rei vai velho mas reina. Ontem de manhã era difícil acreditar que alguém gritou ali, em Março, pelas baleias. A megainfra--estrutura de espectáculos da capital portuguesa está silenciosa, fecha- da como um ovo. Só a Sala Tejo, virada para o rio, se agita num zumbido de vinho a cair nos copos, empregados a deslizar entre as mesas onde estão sentados 200 provadores do mundo inteiro. É uma espécie de United Colors em torno do branco ou do tinto.
A prova é cega. Nenhum dos 200 provadores dos 43 países participantes sabe o que bebe. As garrafas vão à mesa encapuzadas em fato azul, as notas de prova são atribuídas depois de ritual pagão: roda o copo, cheira, aprecia-se o corpo do vinho como se fosse o de um ser humano bafejado pela beleza, leva-se à boca o copo. O vinho viaja no interior da cavidade bucal e é cuspido para as cuspideiras castanhas levadas e trazidas pelos empregados.
Chua participa pela terceira vez no concurso de Bruxelas que nesta edição se tornou no segundo mais importante pela quantidade de vinho provado – 3500 litros são eliminados após as sessões de prova que tiveram início na sexta-feira e terminam amanhã.
Depois de antever o futuro no fundo de um copo de mau vinho, o presidente da Chinelli resolveu aprender: primeiro na Alemanha, depois na Borgonha e em Bordéus, em França. Na forma aprumada como John Chua saca e põe os óculos ante o balão do copo cheio estão 12 anos de participações em concursos de vinho.
O filho defende a terra. O chá ficou, é certo, mas é morador na tradição. “Singapura é hoje em dia uma cidade muito cosmopolita. Temos sempre muito bons vinhos à disposição, até porque o imposto é igual tanto para aquilo que é muito bom como para o muito mau.” O ‘life style’ da cidade chinesa permite que até a garganta da classe média seja bem molhada. “Hoje em dia, as pessoas olham para os rótulos em busca de um ‘cabernet sauvignon’. Têm essa curiosidade. É só uma questão de ensiná-las a encontrar o melhor.” Para isso, está o antigo responsável pela comida e bebida da Singapura Airlines.
UMA GRAÇOLA
Baudouin Havaux está sentado na plateia da Sala Tejo. Em baixo, as mesas dos provadores cobertas por uma toalha branca; em cima destas, os copos, as bandeirinhas dos países de origem dos provadores, jornais e máquinas fotográficas pessoais.
Havaux é o ‘general manager’ da Vinopress, a empresa organizadora do concurso: “Sempre trabalhámos com o Grupo Amorim e há dois anos, estava com Carlos Jesus, o director comercial, numa daquelas noites até muito tarde. Falávamos de que para mostrar rolhas de cortiça, o melhor mesmo era ir ao país de origem. Era uma piada.”
O que começou por ser uma graçola de fim de noite acabou por ganhar corpo numa segunda conversa com o ICEP em Bruxelas. A parceria tripartida ficou atada. No 13.º concurso, toda a logística viajou milhares de quilómetros até à cidade luminosa, Lisboa. O evento virado para o consumidor – só são provados vinhos que estão no mercado – implica a deslocação de 29 toneladas de equipamento e de 180 pessoas do ‘staff’ do concurso. Se alinhadas, as garrafas provadas estender-se-iam ao longo de 1840 metros. Para as verter no copo dos provadores, os empregados percorrem nas três manhãs de prova 1632 quilómetros, num aprumo deslizante de bandeja na mão. “Acho que estou com uma entorse”, queixava-se baixinho um deles, logo na primeira manhã.
CANADIANO DE SESIMBRA
Freddie Grimwood fez só 47 km para chegar ao Pavilhão Atlântico. Portugal é “nice”, melhor ainda a vila de Sesimbra para onde se mudou há seis anos. “O Canadá tem um Inverno impossível!”
Mesmo à distância trabalha para a revista canadiana Vin et Vinoble.
O jornalista empertiga-se na exaltação do verdadeiro apreciador: “Fazer vinho é uma arte! Como toda a criação humana, às vezes o resultado é verdadeiramente exaltante, noutras um desastre completo e é nisso que está o mistério.”
Grimwood peca por uma bela casta: Pinot Noir pela França; por Portugal, a touriga nacional que pronuncia num sotaque afrancesado. Donde veio, o Quebec, a dúzia de produtores luta com um Inverno gelado por um vinho que chega ao consumidor por 10/15 euros e que produz na cara do canadiano um esgar de desgosto. “Paradoxalmente, temos lá consumidores muito exigentes, verdadeiros apreciadores que querem do melhor. O Porto, por exemplo, é muito popular.”
Pelo nariz e pela boca do jornalista da Vin et Vinoble já passaram metade dos vinhos em prova nessa manhã. Quando saiu da sua casa portuguesa, Grimwood vinha animado da mesma alegria infantil com que participa sempre neste tipo de provas – revê amigos em torno do vinho e isso é suficiente para se levantar bem da cama. “Amanhã, no segundo dia de provas, é que os sentidos estão apurados e a concentração mais elevada, é como... começar a praticar e cada vez ser melhor.”
Na sua anterior vida canadiana, Freddie Grimwood foi director de iluminação no teatro. “Sim, há algumas semelhanças...” Desata o riso quando percebe que a semelhança é tudo menos óbvia mas lá rebusca resposta na lábia do seu ‘mettier’ de jornalista: “Quer no vinho, quer no palco, procura-se o melhor com uso de grande sensibilidade.”
Na rota da bica da manhã, Dave Hughes não se cruzou com Grimwood por uma unha negra. É um septuagenário de barba branca e olhos azuis, o estereótipo do homem branco da África do Sul. Hughes é uma espécie de Dom Quixote africano. A sua cruzada e a da sua empresa – a Drink – é ensinar a beber.
O proprietário da firma que tem como lema “a vida é muito curta para se beber mau vinho” reconhece que a sua luta anda próximo daquela outra contra moinhos de vento. “Tentamos educar a população. Queremos que apreciem mas saibam beber. Mas é muito difícil, sobretudo com adultos, dizer-lhes que depois dos copos não devem conduzir.”
No seu país, todos os dias uma média de 15 pessoas são vítimas de acidentes rodoviários onde se identifica a presença de álcool. Cinquenta por cento dos sinistrados são peões que circulam na berma da estrada bêbedos. “São pessoas de classe sócio-económica baixa, nestas não há muito a fazer. Temos de investir nas universidades que é onde a minha empresa vai muito falar de coisas como: para cada copo de uma bebida alcoólica deve-se beber um de água.”
D. Quixote Hughes não é de modo nenhum abstémico. “Bebo de tudo, vinho, uísque, rum, se for bom. Mas se bebo, apanho um autocarro ou vou de táxi.”
BEBER COM ÁGUA
No lado direito da sala donde Hughes se escapou por breves minutos está um grupo animado de provadores. A quase vintena de peritos está ali para provar bebidas destiladas. As regras são ligeiramente diferentes – sabem a categoria e a proveniência do que saboreiam. O próprio ritual de prova é ainda mais peculiar. As bebidas destiladas obrigam à junção de água. Há até quem verta uma pinguinha nas costas da mão, gesto que antecede e facilita um mergulho das papilas da língua.
Simon Palmer veio da Nova Zelândia – uma das grandes descobertas do novo mundo vitícola – para França, onde é produtor de conhaque. “São as voltas que a vida dá”, diz encolhendo os ombros.
Pela terra onde foi filmado o ‘Senhor dos Anéis’, a produção de vinhos teve um inesperado ‘input’ nos últimos anos. “Há investimento, equipamento e estudo. Fazem-se bons vinhos.” Realidade que não foi suficiente para prender Simon ao outro lado do mundo. O processo de produção das bebidas destiladas é mais interessante, afirma.
A sua estatura tranca a porta de entrada na Sala Tejo. Passa por ele, com a devida licença, um tal John do Peru, rosto alegre por ter produto seu a concurso, um licor tradicionalmente chileno de nome Pisco. “Ele trabalhou muito para conseguir pô- -lo em competição.” Simon Palmer espalma a mão nas costas de John, a confraria ali é a da amizade.
Elena Patiño Rioja tem no nome uma das regiões de vinhos mais célebres do país onde nasceu há 28 anos, Espanha. O seu ar de executiva não deixa adivinhar que algum dia, há muito anos, arregaçou a saia para vindimar.
Nasceu numa família de gente ligada ao vinho em Valdepeñas, tornou-se numa operacional de uma consultadoria para a área vitícola em Espanha e participou numa espécie de guia Michelin para os vinhos espanhóis. Fazia então três horas de provas diárias. Hoje em dia trabalha para a revista americana ‘Taste’.
Trabalho. Trabalho. Trabalho. Palavra que melhor define o bom provador. Elena acha que qualquer nariz, mesmo aqueles criados a coca-cola, pode aprender a usufruir sensorialmente um vinho. “É uma questão de treino e estudo.”
Por detrás dos professorais óculos rectangulares, a espanhola define lesta o que é a qualidade em vinhos, vertendo como um escansão as palavras. “Tem de ter personalidade e equilíbrio em todos os elementos, o nariz e a boca. A complexidade é essencial, quanto mais complexo é o aroma, melhor é o vinho.”
Pelos lábios de Elena Patiño Rioja nunca passou um touriga nacional criado em solo luso ou qualquer vinho que se faça aqui, do outro lado da fronteira do seu país. Prefere os espanhóis de Toro e de Bierzo e, de um modo geral, os tintos porque – diz – são mais versáteis.
Talvez Manuel Barbosa lhe dê o seu anuário de Vinhos e Aguardentes de Portugal, que a sua empresa, a Castel SA, publica há 20 anos. Numa mesa à saída da sala de provas, ele e a sua equipa distribuem pacientemente saquinhos aos particpantes com a dita publicação. “Retrata a realidade portuguesa do sector”, diz Manuel Barbosa. Esse último é de 2004/05.
Passa por Manuel Barbosa um dos funcionários da organização que se atarefa dum lado para o outro, pertence ao ‘staff’ estrangeiro.
É segunda primeira vez que vem a Portugal, diz o rapaz de Bruxelas. Na primeira, aproveitou o sol em Albufeira. E diz que gostou.
O crítico de vinhos João Paulo Martins sai detrás da bandeirola de Portugal, enquanto não vertem no seu copo mais outro tinto. “São muitos vinhos por dia mas acaba por ser simplificado por não haver a exigência de darmos os descritores [elementos técnicos do vinho].”
João Paulo Martins tem o seu quinhão da totalidade de 2780 horas de prova. “Há mais de dez anos que ando nisto. Das pessoas que estão aqui conheço um terço delas. Há gente que anda de concurso em concurso, numa vida em que parece não ter mais nada além do vinho.”
MEDALHAS EM JOGO
A avaliação dos provadores destina-se a atribuir a Grande Medalha de Ouro, a Medalha de Ouro e a Medalha de Prata aos vinhos e as medalhas de ouro, prata e bronze aos espirituosos. A efeição dos vinhos é feita em prova cega; ou seja, são avaliados sem o conhecimento sequer da sua origem, sendo que as notas são processadas por computador. Os resultados podem ser consultados on-line em www.concoursmondial.be, em data ainda a designar.
PLÁSTICO AMEAÇA ROLHA DE CORTIÇA
A utilização das cápsulas plásticas (‘screwcaps’) em garrafas de vinho deixou de ser uma heresia, para passar a ser uma opção económica. Vários produtores portugueses (caso da Montez Chapalimaud e da JP Vinhos) ja manifestaram a sua intenção de aderir ao vedante de plástico.
“Para os vinhos de consumo corrente não vejo inconveniente na utilização do ‘screwcap’, Já nos vinhos que se destinam a guardar, tenho algumas dúvidas”, disse ao CM, João Roseira, enólogo da Quinta do Infantado.
Também Manuel Lobo, enólogo da Montez Champalimaud, diz que “existem indicadores claros de que a ‘screwcap’ é uma alternativa com futuro e tem impacto directo na qualidade, estabilidade e longevidade dos vinhos”.
PIOR ANO DE PRODUÇÃO DESDE 2001
Este será o pior ano na produção de vinhos nacionais, desde 2001. Segundo a previsão do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), do Ministério da Agricultura, este ano representará uma queda de onze por cento em relação ao ano anterior, registando o valor produtivo mais baixo deste século. A produção de vinho na região dos Açores será a mais atingida com as previsões a apontarem para uma redução de 43 por cento este ano.
A região do Dão, pelo contrário, é a única do País onde se espera um aumento da produção na ordem dos sete por cento. Pelo contrário, as exportações de vinhos têm vindo a aumentar ao longo dos anos. Os últimos dados do IVV previam um aumento das exportações para mais de 3229 milhões de hectolitros em 2004, mais 67 milhões de hectolitros relativamente ao ano anterior.
Em valores, isto reflecte-se numa receita provisória de 550 mil milhões de euros em 2004, contrastando com os 542 mil milhões registados em 2003.
NÚMEROS
- 2,5 millhões de etiquetas e selos afixados em garrafas de vinhos premiados.
- 13 mil copos lavados durante o concurso.
- 12 mil garrafas ordenadas, conferidas e tapadas.
- 5441vinhos e espirituosos participantes.
- 3500 litros de vinho eliminados após as sessões de prova.
- 2780 horas acumuladas de prova.
- 2230 quilos de garrafas vazias a reciclar.
- 1840 metros seriam ocupados com o alinhamento de todas as garrafas.
- 1632 quilómetros serão percorridos pelos empregados que servem os vinhos.
- 1110 litros de água serão servidos durante as sessões de prova.
- 200 provadores profissionais serão empregues no concurso.
- 50 vinhos serão provados por cada provador em cada sessão.
- 43 países participam no concurso.
- 19 quilos de rolhas serão utilizados.
G7: OS MAIORES PRODUTORES
JOE BERARDO
O empresário Joe Berardo iniciou-se no negócio dos vinhos através do Vinho da Madeira. Em 1995, através de um aumento de capital realizado pela empresa J.P. Vinhos, a família Berardo adquiriu uma importante parte da empresa, para, em 1998, se tornar accionista maioritária. A Quinta da Bacalhoa é o ‘ex-libris’ da empresa vinícola.
PEDRO BAPTISTA
Presidente do Conselho de Administração das Caves Messias, é descendente do fundador Messias Baptista que, em 1926, fundou a companhia.
Possui cerca de 360 hectares de vinha, com 130 hectares dedicados à produção de Vinho do Porto. Em 2001 iniciou a comercialização de vinhos da Península de Setúbal. Graças à sua gama completa de vinhos, as Caves Messias ocupam um lugar de destaque na exportação com 65% da produção.
JOSÉ ALFREDO ROQUETTE
Em 27 de Setembro de 1973, José Roquette e Joaquim Bandeira compraram a Herdade do Esporão e constituíram a Finangra. Em 1987, a Finagra construiu a própria adega e em 1992 José Roquette lançou uma OPA sobre a totalidade do capital, ficando a controlar 97% da empresa. Em 2002 inaugurou o centro de vinificação de brancos.
FERNANDO CASTRO
Presidente do Conselho de Administração das Caves Aliança que, em 2005, foi considerada pela revista ‘Wine Spectator’ como uma das 20 melhores empresas de vinhos do Mundo. A Aliança tem um volume de negócios de 15 milhões de euros e comercializa, anualmente, oito milhões de garrafas, exportanto muito para os Estados Unidos.
PAULO AMORIM
Director da Aveleda, presidida por Francisco Guedes, foi um dos impulsionadores da Viniportugal, organização intersectorial que tem por objectivo a promoção do vinho português no exterior. Preside ao G7 e é um dos grandes responsáveis pelo facto de aquela organização colocar mais de 130 milhões de garrafas no mercado externo.
SALVADOR GUEDES
Salvador da Cunha Guedes está à frente da Sogrape. Detém cerca de 800 hectares de vinha nas principais regiões vitivinícolas portuguesas e na Argentina. Possui em Portugal dez centros de vinificação com uma capacidade superior a 30 milhões de litros.
Um dos ‘ex-libris’ da Sogrape é o vinho Barca Velha, considerado um dos melhores vinhos portugueses e que, recentemente, apresentou a sua nova colheita.
ANTÓNIO SOARES FRANCO
A casa José Maria da Fonseca foi fundada em 1834 e encontra-se actualmente na posse da sexta geração dos seus descendentes directos. Em 1986 António Soares Franco assumiu a presidência. O seu irmão, Domingos Soares Franco, ocupa um cargo na administração. A José Maria da Fonseca detém 600 hectares de vinha.
COOPERATIVAS PRODUZEM 50 POR CENTO DO VINHO
Ao sector cooperativo atribui-se, tradicionalmente, mais de 50 por cento do total da produção vinícola nacional. Agrupadas na Fenadegas, as cooperativas têm enfrentado diversas dificuldades ao nível da modernização.
A realidade cooperativa não é homogénea, provocando diversos desequilíbrios e uma grande falta de coordenação ao nível de acções conjuntas de colocação dos produtos. Várias direcções da Fenadegas têm apontado o caminho da “fusão” entre cooperativas como uma solução para a modernização do sector. Essa medida não tem tido concretização, em virtude de alguns “bairrismos” difíceis de ultrapassar.
O QUE É UMA PROVA CEGA
Quando se trata de atribuir notas a um vinho, os provadores não deverão conhecer, para manterem um juízo imparcial e justo, a marca em causa, sob pena de se influenciarem por factores como a fama do enólogo ou a tradição do produtor (um produtor com bom currículo poderia ser beneficiado e um produtor menos conceituado prejudicado).
Assim, nas provas cegas dos concursos internacionais, dezenas de provadores credenciados provam e avaliam, em igualdade de circunstâncias, amostras de vinhos identificadas apenas por um número. Não conhecem o vinho que está no copo. A nota final do vinho será a média das notas atribuídas por todos os provadores. Deste modo, um vinho de uma adega cooperativa portuguesa estará ao mesmo nível de um vinho produzido por um produtor de nomeada de França ou da Austrália.
QUATRO DICAS PARA APRECIAR UM VINHO
1. O COPO CERTO
A oferta de copos correctamente desenhados para os diferentes tipos de vinhos é tal que as grandes marcas (Riedel, Schott, Dartington ou Atlantis) concebem copos para castas ou regiões vitícolas. Embora se observem algumas variações consoante estejamos perante um tinto, um branco ou um Porto, é fundamental que o copo potencie toda a riqueza do vinho (aromas, sabores, cores).
Donde, três aspectos são exigidos: a) o copo deve ter um formato de tulipa, por forma a arejar, revelar e concentrar os aromas do vinho; b) o vidro do copo deve ser fino (de preferência de cristal), para permitir um bom contacto da boca com o vinho; c) o pé do copo deverá ser alto e é nele que se colocam os dedos para o levar à boca, evitando que qualquer contacto da mão na copa aqueça o vinho. O copo de vidro grosso ou a velha tacinha, tão vulgares nos nossos restaurantes, já deveriam fazer parte do acervo de um museu da história do vidro.
2. NADA DE COPO CHEIO
De forma a que o arejamento do vinho liberte os seus aromas e respire, nunca ocupe mais do que um quarto da capacidade do copo.
3. A TEMPERATURA CORRECTA
Factor crítico, os consumidores continuam a beber tintos a temperaturas elevadas e brancos a temperaturas demasiado baixas. As temperaturas correctas para os diferentes vinhos são as seguintes:
a) Vinhos tintos jovens 15º/17º
b) Vinhos tintos complexos 16º/18º
c) Vinhos brancos jovens 10º/12º
d) Vinhos brancos complexos 12/14º
e) Espumantes 8º
f) Tawny 14º
g) Vintage e LBV 16º
4. AS FASES DA PROVA
a) Um vez colocado o vinho no copo, observe suas tonalidades.
b) Sem rodar o vinho, levante o copo até ao nariz para registar os primeiros aromas.
c) Afaste o copo, rode o vinho no seu interior e traga-o de novo ao nariz, para se aperceber de toda a sua complexidade aromática.
d) De seguida, coloque uma pequena porção de vinho na boca, permitindo que o contacto se inicie na ponta da língua e se prolongue pela cavidade bucal. Aperceber-se-á então da estrutura do vinho, da sua doçura ou secura, do nível de acidez, do álcool, dos sabores e da persistência de todas estas sensações na boca.
E não se esqueça que é à mesa, na companhia dos pratos adequados, que o vinho revela todas as suas potencialidades. |