Produtores descontentes com a possibilidade de os seus vinhos passarem a ter nova designação de origem, mas a comissão alega que foi aprovada por todos.
A decisão da Comissão Vitivínicola Regional Tejo (CVRT) de alterar as designações de origem geográfica dos vinhos produzidos na área do distrito de Santarém de "Ribatejo" para "Tejo" está a gerar acesa polémica na região, com alguns produtores a sustentar que não passa de uma mera estratégia de marketing que vai descaracterizar a identidade dos vinhos. A CVRT tem uma opinião completamente diferente, pois recorda que a proposta foi aprovada pelos representantes dos produtores e que a designação "Tejo" tem muito maior reconhecimento como marca do que as alternativas "Ribatejo" ou "Ribatejano".
A polémica estalou em Fevereiro, durante um workshop sobre restauração e produtos regionais promovido pela Câmara de Santarém. Os representantes da CVRT explicaram que a mudança resultou da vontade dos produtores, mas alguns dos participantes criticaram a medida, frisando que fará perder anos de promoção dos vinhos do Ribatejo.
Dias depois, foi o agricultor e agrónomo José Andrade a criticar fortemente a mudança em carta aberta divulgada na região. O antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal e do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas afirma que os argumentos aduzidos pela CVRT são "pouco consistentes" e não justificam "tamanha asneira".
Por isso, o agricultor e produtor de vinhos ribatejano acha que vinhos ribatejanos afastados do Tejo dificilmente poderão ser relacionados com a nova designação e que "qualquer campanha vai ter mais dificuldades para associar valores importantíssimos decorrentes da identidade que o Ribatejo inquestionavelmente tem".
Considerando que esta decisão pode "vir a ser entendida pelos mercados como falta de convicção pela qualidade da produção", José Andrade insiste que a mudança será uma "grande asneira" e cita exemplos como os do Alentejo ou da Andaluzia e da Estremadura espanholas. "A ansiedade de aspirar a novos negócios justifica certamente muito empenho e alterações, mas nunca ao ponto de deitar fora o essencial, que é o património identificador", sustenta, criticando caminhos de descaracterização que só favorecem "as grandes indústrias, as grandes unidades produtivas e os grandes países produtores".
José Pinto Gaspar, presidente da direcção da CVRT, sublinha que esta decisão de "alterar a indicação geográfica para Tejo" foi aprovada no final de Agosto, pelo conselho-geral da CVRT, composta por 16 associações, entre elas as do Ribatejo e da Rota do Vinho do Ribatejo, as adegas de Almeirim, Cartaxo e da Gouxa e a Viticartaxo. A mudança teve também por base um levantamento que concluiu que já no século XIX surgiam referências aos vinhos da bacia e do litoral do Tejo e que a de origem de vinhos do Ribatejo e Ribatejanos só foi formalmente registada por legislação de 2000. |