A casa de vinho do Porto inicia um novo ciclo, beneficiando de investimentos de €7 milhões no Douro e Gaia.
Dirk Niepoort, 44 anos, já passava metade dos seus dias a contactar os agentes nos 50 países para onde exporta as suas marcas. Mas agora é também o seu chapéu de enólogo e produtor que o força a novas viagens. Na África do Sul, participa num projecto para fabricar um vinho tonificado, à semelhança do vinho do Porto, na Áustria participa numa empresa vinícola.
"Não nasci inteligente como a maioria das pessoas, procuro aprender fazendo", responde Dirk, para explicar o carácter experimentalista que lhe vale uma imagem de excentricidade e aventureiro no seio da comunidade duriense.
No sul de Espanha, na região de Jerez, está envolvido na produção de um branco (Flor de Galiza), da casta Palomino. Até o enólogo da Niepoort classificou o projecto de idiota. A Norte, na Galiza, a ideia que o move é um tinto nobre, o Ribeira Sacra, com o lançamento inicial de três mil garrafas. Dirk classifica estas experiências de "brincadeiras" que se correrem bem podem evoluir para uma base empresarial. Foi com o mesmo espírito que, nos anos 90, diversificou do Porto para os vinhos de mesa que agora representam metade da facturação da Niepoort. Em 2008, a sua contribuição bateu pela primeira vez os 50%. Na Áustria, a empresa que partilha com a sua ex-mulher está já numa fase consolidada. Numa vinha de quatro hectares, a 40 km de Viena, produz, a partir da casta local Blaufraenkisch, 15 mil garrafas da marca D+D.
A sua última aventura é na África do Sul e poderá gerar-lhe inimizades e desconfianças na comunidade do Vinho do Porto. A África do Sul é vista como um dos países que utiliza indevidamente a imagem Port. Dirk participa num projecto, em fase embrionária, para fabricar umas 2500 garrafas de um vinho generoso e fortificado, como o Porto.
Ainda sem marca, é uma tentativa de avaliar o potencial das castas locais.
A casa Niepoort é um caso exemplar de um exportador que evoluiu com a compra das quintas de Nápoles e do Carril para a produção, diversificando a seguir para os vinhos de mesa - Diálogo, Batuta, Redoma, Charme e Robustus são os seus principais emblemas. A reduzida dimensão da Niepoort é para Dirk uma vantagem, mas igualmente um desconforto. "Sinto-me desconfortável porque das 50 pequenas empresas que existiam, resistem apenas três. A Niepoort está para ficar pelo menos por mais 100 anos", diz.
A dimensão estimula a criatividade para ser "diferente e melhor do que os outros", com acções que beneficiam todo o sector. Por exemplo, o Diálogo, o seu campeão de vendas, é pensado "mercado a mercado", adoptando uma imagem e marca próprias em cada um dos 14 países onde é distribuído. O seu rótulo é uma banda desenhada que conta uma história apologética do vinho. No vinho do Porto, está a adoptar uma rotulagem didáctica que explica as diferenças entre rubis e tawnies, as duas principais categorias. A acção envolve a realizadora Regina Pessoa, sendo complementada com o lançamento de um livro e prospectos explicativos.
Depois de investir €7 milhões na construção de uma adega exemplar no Douro e nos armazéns em Gaia, 2009 marca o início de um novo ciclo para a Niepoort, em que vai começar a beneficiar dos investimentos que semeou.
Dirk prevê um crescimento de 15% este ano. Como não está no "campeonato dos volumes" nem entra na "guerra de preços", acredita que atravessará a crise com um sorriso nos lábios. Mas o seu principal problema continuará a ser um "bom e virtuoso problema" - o rateio dos vinhos. Sempre que a Niepoort prepara novos lançamentos, os clientes indicam a quantidade pretendida. E, como as encomendas excedem sempre a oferta (nalguns casos 5 ou 10 vezes), a companhia tem de proceder a um rateio equitativo pelos diferentes mercados. Esta pressão da procura não leva Dirk a cometer o feio pecado da ganância. "O preço é sempre o adequado e justo. Nunca abusamos, temos uma lógica de longo prazo", refere.
A Niepoort é um dos operadores do Douro com o preço médio de venda mais alto, beneficiando da sua gama de vinhos. As 40 mil caixas de Porto (a exportação vale 80%) e as 65 mil de vinho de mesa (o exterior bebe 70%) representam €5,5 milhões. Dirk receia que o vinho do Porto possa sofrer com a actual crise e teme os efeitos da agressividade comercial que conduz todos aos anos à queda do preço médio. |