IVDP avalia vinhos da Casa do Douro
Jornal de Notícias | 09-02-2009

Luciano Vilhena Pereira diz desconhecer se o produto é para pagar a dívida daquele organismo, com o qual assume ter um relacionamento de "tensão", embora acredite que possa haver uma mudança com as eleições.

Luciano Vilhena Pereira, 62 anos, é presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto há cerca de quatro meses. Pretendia a Produção plenamente representada no Conselho Interprofissional, mas ainda não conseguiu.

Lamenta a relação de "tensão" entre o Instituto que dirige e a Casa do Douro e hoje mesmo vai começar a avaliar os vinhos com que o organismo que representa 40 mil agricultores pretende pagar ao Estado uma dívida de 100 milhões de euros.

Até que ponto a actual crise vai afectar os vinhos do Douro e Porto?

Todas as crises podem afectar o comércio. Aliás, a comercialização de vinho do Porto já caiu 5%, em 2008. Para este ano, as nossas perspectivas não são de aumentar as vendas, mas antes de as manter. Estamos a fazer um esforço grande na promoção para alargar o mercado, para compensar a quebra de vendas nos mercados tradicionais.

Que tipo de promoção?

O plano vai concentrar-se ao máximo em poucos mercados, em detrimento de uma promoção pulverizada que permitiria atingir muitos, mas, no fundo, sem tocar nenhum. Temos 2,4 milhões de euros para investir nos EUA, Reino Unido, França, Espanha, Rússia, Canadá, Brasil e Japão.

Qual é a actual relação do IVDP com a Casa do Douro (CD)?

Objectivamente, há uma relação de tensão. Existe uma acção em Tribunal da Casa do Douro contra o IVDP a pedir uma verba que, hipoteticamente, lhe deveria. O Instituto respondeu e disse que não só não lhe deve como é a Casa do Douro que lhe deve a ele. Depois há outra acção, porque alega que o IVDP rescindiu ilegitimamente o protocolo [relativo à utilização do Cadastro] e este respondeu que rescindiu convenientemente por diversas razões. Daí a relação de tensão. Mais: a ala da Produção no Conselho Interprofissional devia ter um vice-presidente e 10 conselheiros. Neste momento, tem apenas dois, porque oito deles saíram, e quando eu cheguei ao IVDP pedi à Casa do Douro para indicar novos conselheiros, o que, até hoje, ainda não fez.

Acredita que a paz institucional vai ser restabelecida?

Isso depende da Casa do Douro, já que foi ela que colocou as acções em tribunal contra o IVDP.

As eleições para a Casa do Douro poderão ajudar?

Penso que serão decisivas. Mas a palavra cabe aos viticultores. Eles é que têm de fazer a análise do que tem acontecido e do que deverá acontecer no futuro. Porque uma coisa é certa: neste momento, é no IVDP que se decide, luta e trabalha para que o Douro tenha o lugar que deve ter na viticultura mundial. E é aqui, como no passado foi na Casa do Douro, que tudo tem de ser decidido e tratado. Pensar que isto pode ser tratado de outra forma é viver fora do Mundo. Porém, é absolutamente decisivo que a Casa do Douro nomeie os seus representantes para o Conselho Interprofissional.

A Casa do Douro quer pagar com vinhos a sua dívida ao Estado. Como comenta?

É uma questão delicada, pois a dívida que a Casa do Douro tem para com o Estado não é uma dívida de vinhos. Já foi de escudos e agora é de euros, mais precisamente 100 milhões de euros. Resta saber se o Estado quer receber em vinhos.

O presidente da Casa do Douro alega que o Governo já se mostrou receptivo...

Isso não sei. O que eu sei é que a dívida é em euros e que é preciso pagar em euros. Também é certo que o Ministério das Finanças pediu ao Ministério da Agricultura para que eu fizesse a avaliação dos vinhos dados em penhor, o que eu vou começar a fazer hoje. Se isto é para aceitar os vinhos como pagamento, não sei responder.

Será o stock suficientemente valioso para fazer face à dívida?

Neste momento, não sei, porque ainda não os avaliei. O que me espanta é que se os vinhos são tão valiosos, por que é que a Casa do Douro não os vendeu? Pode vendê-los! Não está proibida de o fazer. São vinhos que não estão sujeitos à Lei do Terço. Conforme as coisas estão, tem de os vender, pegar no dinheiro e entregá-lo ao Estado!

Têm corrido rumores no Douro de que o benefício poderá acabar em algumas categorias. Que validade têm?

Nenhuma. Não há nada que indique que vai mudar. Estamos mesmo a preparar o caderno de encargos para levar à Comissão Europeia para que essa questão fique definitivamente resolvida a nosso favor.

Ultimamente, tem-se defendido o encerramento da Região Demarcada à entrada de novas licenças de plantação. Concorda?

Sou contra todo o tipo de proteccionismo. Porque está sempre a laborar numa ficção. Hoje dá resultado e amanhã dá asneira. Sou pelo mercado aberto, mas com regras.
 
 
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