Cascais e Oeiras apostam em relançar o vinho de Carcavelos
Público | 07-02-2009

O Lisbon wine, como era conhecido no século XIX, vai ter uma confraria destinada a apoiar a produção e o surgimento de uma nova marca.

Um Porto de honra pode ser substituído por um Carcavelos de honra? Pelo menos em Cascais e Oeiras já se troca o tradicional néctar do Douro pelo afamado vinho generoso produzido nos dois municípios da região de Lisboa. A proposta de criação da Confraria do Vinho de Carcavelos poderá aproximar dois concelhos que têm andado de costas voltadas e alargar o mercado para preservar um património comum.

A Câmara de Oeiras aprovou recentemente a criação da Confraria do Vinho de Carcavelos. A iniciativa insere-se no âmbito da colaboração da autarquia com a ex-Estação Agronómica Nacional (actual L-INIA/Instituto Nacional de Investigação Agrária), que resultou na plantação de uma nova vinha e produção de vinho na adega da Quinta do Marquês.

A fama do vinho de Carcavelos perde-se no tempo, mas deve-se ao marquês de Pombal (1699-1782) o incremento da produção na sua quinta de Oeiras, cujas qualidades vitivinícolas foram reconhecidas e demarcadas em 1907. O Carcavelos, conhecido no mercado inglês do século XIX como Lisbon wine, chegou a ser misturado com o vinho do Porto, para lhe dar mais "corpo", paladar e cor. O declínio registou-se com o oídio (1852) e a filoxera (1876), mas a moléstia mais devastadora resultou da pressão imobiliária, a partir de meados do século passado, quando o betão ocupou as antigas quintas dos concelhos de Cascais e Oeiras.

Só em 1984, como notam J. Brazão, J. Eiras-Dias e Luís Carneiro, em O Encepamento da região vitinícola de Carcavelos (2005), "renasce o interesse pela produção deste famoso vinho, que corria o risco de desaparecer por completo, com o surgimento de quatro novas vinhas nas quintas do Marquês, dos Pesos, da Ribeira e da Samarra". Estes especialistas das estações vitinícola e agronómica nacionais contabilizaram então a superfície vitícola da região de Carcavelos em 18,3 hectares, repartidos por aquelas quatro propriedades e pela Quinta do Mosteiro de N.ª Senhora do Mar. Isto apesar de só três produzirem vinho de denominação de origem controlada.

Carta de vinhos da região

A futura Confraria do Vinho de Carcavelos pretende assumir, segundo a proposta aprovada, "a promoção, comercialização e valorização deste vinho licoroso, produzido na região demarcada, preservando a sua autenticidade e património histórico e paisagístico associado". O presidente da autarquia, Isaltino Morais, manifestou na sessão camarária o propósito de convidar Cascais para integrar a confraria. É que, se na Quinta do Marquês se têm realizado os principais investimentos públicos, no concelho vizinho localizam-se os principais produtores privados.

"Nos eventos em Oeiras já servimos o vinho de Carcavelos. É uma prática que devia ser extensiva a toda a região de Lisboa, porque não faz sentido que seja feito com vinho do Porto", afirmou o vereador do Turismo, Carlos Oliveira, para quem a promoção do vinho da região deve ser uma prioridade, não só pela preservação do património local, como também pela sua valorização turística.

Uma fonte do L-INIA sublinha, aliás, que a região vitivinícola de Bucelas, Carcavelos e Colares possui características singulares por incluir vinhos que se complementam - o branco (arinto), o tinto (ramisco) e o licoroso (entre outras, galego, castelão e negra-mole).

O presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, mostra-se disponível para participar numa "abordagem conjunta a um dos traços característicos que une os dois concelhos". E, em relação à região vitivinícola, defende a criação, por exemplo, de "uma carta de vinhos para cerimónias oficiais, onde o leque Bucelas, Colares e Carcavelos seja contemplado".

408 hectolitros de vinho de Carcavelos foram produzidos em 2004, o valor mais elevado dos anteriores nove anos
 
 
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