Eleições marcadas para hoje na Casa do Douro foram adiadas
Público | 01-02-2009

Candidatura de Manuel dos Santos conta com dois adversários anunciados. Governo chamado a clarificar posição

Estavam marcadas para hoje, mas a comissão eleitoral viu-se obrigada a adiar o escrutínio por mais um mês, pelo que a eleição de 75 dos 125 membros do conselho regional de viticultores da Casa do Douro está agora marcada para o dia 1 de Março. Não se deve pois conhecer o novo presidente da instituição duriense antes do mês de Abril, e já 13 meses depois de o actual presidente, e de novo candidato, Manuel António dos Santos, ter terminado o seu mandato.

O adiamento as eleições foi decidido a apenas três dias do acto eleitoral e após se ter constatado a dificuldade - e a impossibilidade - de ter prontas a funcionar as 172 mesas de voto necessárias ao acto eleitoral (ver caixa). A decisão de adiar as eleições foi tomada com urgência, numa reunião que decorreu na passada quinta-feira e que foi convocada com recurso a telegramas.

Apesar de indesejado, o "compasso de espera" que continua a impor-se à Casa do Douro vai permitir aos actuais candidatos trabalharem um pouco mais nos seus projectos. Isto porque, já na recta final do processo acabaram por surgir dois movimentos que pretendem defrontar o actual presidente Manuel António dos Santos.

A Associação dos Viticultores Independentes do Douro (Avidouro), que tem assento no conselho regional e está filiada da Confederação Nacional da Agricultura, já apresentou um manifesto de candidatura pela voz do seu representante, Armando Carvalho.
Entre outros objectivos, este responsável defende que a Casa do Douro precisa "de uma nova vida e de uma nova equipa".

Também um movimento de viticultores durienses, denominado "Pró-Douro", e que tem como porta-voz um antigo vice-presidente do instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Mário Abreu Lima, foi recentemente criado para anunciar a sua vontade de disputar a liderança com Manuel António dos Santos.

"Este movimento surgiu numa fase muito tardia e depois da desistência de um candidato [Pedro Garcias, jornalista do PÚBLICO]. Consideramos ser da maior importância encontrar uma solução para a Casa do Douro que lhe devolva a dignidade que já teve e a importância que ainda tem", frisou ao PÚBLICO Mário Abreu Lima.
Governo tem de clarificar
Abreu e Lima sublinhou também a necessidade "imperiosa" de conhecer a intenção do Ministério da Agricultura face à Casa do Douro e saber como poderá ela sair da actual situação.

"As pessoas já estão muito cansadas desta situação de permanente abandono. Queremos saber o que quer o Governo, para definirmos, depois, qual é o perfil do candidato que devemos apresentar a eleições. Essa clarificação é importante. Nós respondemos ao desafio, e a região organizou-se. A região está cá, falta saber onde está o Estado", acusou o candidato.

Os vários candidatos à presidência têm vindo a reclamar a clarificação do Governo acerca do que pode vir a ser o futuro da instituição, a braços com uma avultada dívida à banca e ao Estado, na ordem dos cem milhões de euros, e no culminar de um processo que a tem vindo a esvaziar das funções que exercia (com as competências cadastrais a estarem agora nas mãos do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto) e de receitas. Mas em que os viticultores continuam a ter inscrição obrigatória e o dever de pagar quotas à Casa do Douro.

O presidente da Casa do Douro não é eleito por um sufrágio directo e universal. O nome do candidato a presidente terá, antes, de surgir por entre os 125 elementos que formam o conselho regional de viticultores da Casa do Douro (CD). Destes 125 elementos, há 50 que ocupam o cargo por inerência, em representação de adegas cooperativas e de outras associações do Douro; os restantes 75 elementos são eleitos pelos viticultores, que têm de se dirigir à assembleia de voto da sua freguesia. Foi aqui que residiu a dificuldade: garantir a presença dos cinco delegados independentes. Depois de eleito, é no seio do conselho regional que são decididas as candidaturas à presidência do organismo, num processo que demorará ainda mais um mês.
 
 
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