O município de Oeiras vai criar este ano uma confraria para promover nacional e internacionalmente o vinho de Carcavelos produzido no concelho e avançar, em 2010, com a comercialização do aperitivo/digestivo, sob a marca "Conde de Oeiras".
A iniciativa, já aprovada em executivo camarário, visa projectar a região demarcada de Carcavelos e obter retorno de uma produção que tem vindo a aumentar na última década, sem chegar, no entanto, ao grande público.
Segundo avançou à Lusa a autarquia, as campanhas de 2007 e 2008 resultaram em 37100 e 28230 litros, respectivamente, mais do que o quádruplo dos 7.050 litros obtidos em 2001, ano em que a produção passou da Estação Vitivinícola de Dois Portos para a oitocentista adega do Casal da Manteiga, na Quinta do Marquês de Pombal.
Os rendimentos, resultantes sobretudo de vendas a nível local, têm vindo a ser partilhados em partes iguais pelo município e pela L-INIA (ex-Estação Agronómica).
De acordo com o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, a nova confraria, cuja constituição não tem ainda uma data exacta, será financiada pelas quotas dos associados e terá "gestão própria e autónoma, como manda a lei".
O autarca garante que a partir de 2010 haverá condições para comercializar o vinho licoroso de Carcavelos "Conde de Oeiras" (marca registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial desde 2006), preferindo, porém, não avançar preços: "Depende da antiguidade do vinho", referiu à Lusa.
Para reforçar as medidas de incentivo à expansão do Carcavelos, que já passaram pelo investimento de centenas de milhares de euros na recuperação de edificado e se centram agora no aumento da área de envelhecimento, a Câmara vai aplicar mais de 275 mil euros na plantação de 13 hectares de vinha, que passará a totalizar 20 hectares em 2012.
"A área é actualmente de 7,7 hectares. Durante o ano de 2009 serão plantados mais 5,3, em 2010 mais 3,5 e em 2011 outro tanto", aponta o município.
Com um teor alcoólico que ronda os 15 a 20 por cento, o vinho de Carcavelos é um dos poucos vinhos generosos nacionais, categoria que partilha com vinhos como o Porto, o Madeira e os moscateis de Setúbal e Favaios.
Segundo a enóloga Estrela Carvalho, o primeiro documento conhecido sobre esta vinha data de 1370, mas foi no século XVIII que o aperitivo ou digestivo conheceu o seu apogeu, por iniciativa do 1º Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Mello.
Nesse período, conquistou várias medalhas e menções honrosas e chegou a ser o vinho mais exportado para Inglaterra, superando aquele que é tido como emblema nacional do sector, o vinho do Porto.
Para Estrela Carvalho, a tendência para aumentar o preço do Carcavelos - hoje vendido a cerca de 25 ou 30 euros, "no mínimo" - não inviabilizará o seu sucesso no mercado, já que "terá sempre saída" para os apreciadores, inclusive a nível internacional.
Também no vizinho concelho de Cascais, a que hoje pertence a freguesia de Carcavelos, o vinho continua a ser produzido na Quinta da Ribeira de Caparide, no Mosteiro de Santa Maria do Mar e nas quintas privadas da Samarra e dos Pesos.
O município tem também em curso um projecto de construção do Museu da Vinha e do Vinho de Carcavelos, na antiga Adega da Quinta do Barão. |