O empresário Joe Berardo prepara-se para entrar na Sogrape, através da compra do capital detido pela família Carmo, tal como o JN noticiou ontem em primeira mão. Embora o accionista maioritário, a família Guedes, ambicionasse aumentar a sua participação, não aceitou o valor proposto. A oferta de venda acabou por interessar a Berardo, que assim reforça os seus investimentos no sector dos vinhos.
O que está em curso é a venda da sociedade "Bernardino Carmo & Filho SGPS, SA", que detém 31,51% da empresa "Guedes, Carmo & Silva SGPS, Lda". Esta última, por sua vez, controla indirectamente as empresas operacionais do grupo Sogrape, entre as quais se encontra a "Sogrape Vinhos, SA", a "Sogrape Distribuição, SA" e a "IW Investments, SA".
Segundo Salvador Guedes, presidente da Comissão Executiva da Sogrape, a venda de uma participação minoritária (30%) da holding , "em termos práticos, não traz qualquer alteração a nível organizacional, de estratégicos e de políticas das empresas operacionais do grupo Sogrape".
No entanto, reconheceu "Como empresa de cariz familiar que somos, tínhamos a aspiração legítima de poder concentrar ainda mais o capital na família e isso não foi possível".
Encara a nova situação com "perfeita normalidade", sublinhando que se trata apenas "de uma troca de um accionista por outro".
Considera Joe Berardo "um empresário de grande sucesso", embora admita que "não era a solução" que tinha "idealizado".
Esclareceu que a família Guedes, mesmo sendo maioritária, "não teria o direito de preferência, porque a transacção se deu ao nível da "Bernardino Carmo & Filho SGPS, Lda" e nós, aqui, não participamos. Logo, não teríamos o direito de preferência nem teríamos de ser ouvidos".
Ao explicar o contexto do negócio, Salvador Guedes, em declarações ao JN, disse "Não houve coincidência de vontades. Achámos que as condições que estavam a ser exigidas não eram aceitáveis e eles [família Carmo] estavam no direito de maximizar e valorizar a sua participação, procurando alternativas, e chegaram a acordo com o senhor Joe Berardo". Especificou que as "condições" diziam respeito apenas ao valor em causa - que declinou divulgar.
Daqui para a frente, Salvador Guedes reforçou que o grupo irá "manter o seu caminho", que, em sua opinião, tem sido "um percurso também de sucesso". E até revelou a fórmula "Temos vindo, ao longo dos anos, a investir todos os capitais gerados no negócio. É esse o caminho que pretendemos continuar".
Questionado sobre como será a convivência com Joe Berardo, o empresário assumiu que irá ser "o relacionamento normal entre accionistas", recordando que a Sogrape tem tido outros parceiros de negócio, inclusive, grandes grupos internacionais, com quem "nunca houve qualquer tipo de questões".
Desvalorizou o facto de o comendador Berardo ser concorrente da Sogrape em algumas áreas, afirmando ser "normal haver participações cruzadas entre empresas". E acabou por se congratular com a entrada do empresário "É bom sinal haver interessados".
O JN voltou a tentar falar com Joe Berardo e a família Carmo, mas sem sucesso. |