As vendas de Vinho do Porto registaram em 2008 o pior desempenho das últimas duas décadas, caindo cinco por cento, o que leva o sector a reclamar do Governo alterações legislativas que permitam "enfrentar a crise" com mais "flexibilidade".
Em declarações à agência Lusa, a directora da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP) afirmou que não se pretende alterar "os pilares fundamentais" do sector, como a Lei do Terço ou do Benefício, mas "algumas regras deverão ser simplificadas", até porque "a legislação [em vigor] é muito antiga".
O objectivo é, num contexto mundial de crise de consumo que penaliza muito um sector altamente exportador como o Vinho do Porto, "dar-lhe mais flexibilidade para enfrentar a crise, quer a nível do comércio, quer da produção", salientou Isabel Marrana.
Apesar de os dados não serem ainda definitivos, a AEVP aponta para uma quebra na ordem dos cinco por cento nas vendas de Vinho do Porto, que se segue a um "ciclo de progresso extraordinário" nos últimos anos.
Em 2007, as vendas do sector haviam ultrapassado os 400 milhões de euros e os 10 milhões de caixas de 9 litros.
Apesar de a comercialização dos Vinhos do Douro ter aumentado, o facto de se tratarem de valores absolutos são largamente inferiores ao Vinho do Porto, não foi suficiente para compensar o recuo registado por este último.
Pela positiva, em 2008 Isabel Marrana destaca a capacidade do Vinho do Porto em manter "um reconhecimento e qualidade extraordinários no mundo inteiro", como provam os diversos prémios internacionais conquistados.
"O investimento produtivo [no sector] aumentou e há uma maior qualidade na forma de produzir e elaborar o vinho", referiu.
Apontado como estratégico, o mercado dos EUA não teve no ano passado o desempenho esperado, "devido à crise", mas continuará a ser uma grande aposta da AEVP.
A penalizar as exportações quer para este mercado, quer para o Reino Unido, estiveram em 2008 os "problemas cambiais", agravados pelo facto de o Vinho do Porto ser um produto cujas vendas estão ainda muito concentradas em determinadas ocasiões, como o Natal, e o 3º trimestre do ano ter sido dos mais difíceis.
Para Isabel Marrana, apesar de esta pior performance ser atribuível ao "contexto mundial de crise", há que "fazer uma reflexão", "repensar a eficácia de estratégias" e "eliminar desperdícios".
O objectivo é assegurar vendas "a níveis aceitáveis" durante a crise, assim como "manter o produto na sua notoriedade e qualidade" e "mitigar descidas".
Relativamente ao estudo estratégico para o sector dos Vinhos do Porto e Douro, elaborado pelo consórcio Quartenaire/Universidade Católica, a directora da AEVP acredita que será para por no terreno já este ano.
A Região Demarcada do Douro é a principal região vitícola do país, responsável por cerca de 80 por cento das exportações dos vinhos portugueses, ao exportar 85 por cento da produção. |