O vinho da Madeira é dos poucos no mundo que resiste ao tempo, pelo que a venda na próxima semana de várias garrafas com 200 anos é uma oportunidade única para os apreciadores, dizem especialistas ingleses.
À agência Lusa em Londres, onde dirigiu na quinta-feira uma prova de dez vinhos na Christie's, o crítico Michael Broadbent afirmou que "o vinho da Madeira é um vinho único e é também um dos poucos no mundo que nunca se estragam. Resiste muito tempo".
A Christie's vai vender na próxima quinta-feira uma série de garrafas de vinho da Madeira raras que inclui colheitas de 1795, com preços estimados entre os 141 e os 4220 euros.
As garrafas provêm da garrafeira particular de William Leacock, o herdeiro da família inglesa que produziu e comercializou vinho da Madeira desde o século XVIII, e que entretanto vendeu o negócio.
"Esta colecção em particular é extremamente rara. É frequente aparecerem garrafas avulso, mas é raro surgir uma colecção como estas de um só dono", afirma Broadbent, que já dirigiu o departamento de venda de vinho da Christie's durante cerca de 30 anos até 1992.
O enólogo inglês lembra que o vinho da Madeira tem uma relação especial com o Reino Unido e com também com a Christie's.
"[O vinho da] Madeira foi a primeira coisa que [o fundador] James Christie vendeu em 1766, o que significa que vendemos Madeira há cerca de 250 anos", recorda.
Apesar de ter saído de moda, Broadbent considera que o vinho da Madeira está a voltar a ter interesse porque "é um vinho muito versátil".
"Eu próprio bebo em casa vinho da Madeira com 10 anos. É versátil porque dá para beber de manhã, ao pequeno-almoço, depois de jantar", observa.
Quanto aos vinhos que foram provados antes de serem leiloados, o crítico conta que "variam em termos de idade e de certa forma na qualidade, mas são vinhos absolutamente fantásticos".
Entre os vinhos testados por cerca de meia centena de enólogos estavam um Solera 1808, um Madeira Seco 1825 e um Bastardo 1836.
O actual director da área de vinhos da Christie's, David Elswood, está convencido de que os vinhos da Madeira em leilão "vão ser comprados para ser consumidos" e não como investimento.
"Muitos destes vinhos têm mais de 200 anos e as pessoas que compram 'Madeiras' não são pessoas que especulam em vinho para obter lucro, mas são pessoas que compram vinhos raros para beber", assegura.
"Pode não ser imediatamente", admite, "mas ao longo dos próximos anos terão a oportunidade de provar estes vinhos com mais de 200 anos".
No passado, os principais coleccionadores foram americanos, mas o especialista inglês tem observado o interesse a crescer deste lado do Atlântico.
Elswood não espera que os preços subam demasiado, apesar de o mercado de vinhos ter "tido subidas de preços estratosféricas nos últimos três a quatros anos".
"As coisas acalmaram um pouco ultimamente - reconhece - por causa da situação financeira. Mas coisas como estas são diferentes porque não se encaixam na ideia geral de investimento e especulação em vinho. Torna-se algo único em que o coleccionador que está interessado em [vinho da] Madeira vai ser o comprador, não a pessoa que especula. Isto é para os consumidores de Madeira". |