Em contraciclo, o mercado português regista desempenho favorável. Exportações vão cair mais de 7%.
A comercialização de vinho do Porto regista este ano o pior desempenho da década. As vendas, em valor, vão cair pelo menos 7% e o comportamento das exportações é ainda mais negativo. É que o mercado português é dos raros que resiste e comete a proeza de apresentar um ligeiro crescimento.
A quebra nas vendas vai reflectir-se drasticamente na vindima do próximo ano. Com as vendas em crescimento, a Lei do Terço revela-se virtuosa para os produtores. Mas, num quadro de redução de volume, a regra tem um efeito perverso: por cada pipa a menos que o comércio vende, pode prescindir da compra de três.
Este ano o sector vai ficar abaixo de duas referências cabalísticas que em 2007 ultrapassara: €400 milhões de facturação e 10 milhões de caixas de 9 litros.
Na lista dos 15 principais mercados, apenas Portugal (1,4%) e Brasil (1,9%) registam comportamentos favoráveis. O mercado português reforça, em valor, o segundo lugar, e beneficia de uma maior agressividade de preços na grande distribuição para compensar os deslizes dos anos anteriores. Pequenos mercados, como a Finlândia (17%) ou Áustria (13%) registam grandes progressos.
As más notícias vieram de mercados que preferem vinhos mais caros como o Reino Unido (-12%) ou Canadá (-15%). Nos Estados Unidos a queda é drástica em valor (-13%) e ligeira em volume (-2,4%). As categorias especiais registam quedas de 15%. O preço médio por litro volta a ressentir-se e deve baixar de €4,29 para €4,26.
No entanto, os operadores desdramatizam a evolução e notam que quedas não são específicas do vinho do Porto - o consumo de cerveja no Reino Unido caiu 10%. Além disso, surgem depois de um ano de desempenho muito favorável. "Face à conjuntura, o sector está a resistir relativamente bem", sintetiza Isabel Marrana, directora da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP).
O grupo Symington verifica que "é o mundo que está em crise, não o vinho do Porto". Explica o fenómeno em parte pelas "compras muito fortes" de 2007 e uma gestão de "stocks" mais restritiva dos retalhistas.
O grupo diz que caiu menos que o mercado e manifesta até mais preocupação com a valorização do euro. Não é fácil repercutir o preço em libras e manter o produto competitivo.
Além do efeito cambial, o sector enfrentou outros factores adversos como o agravamento do preço da aguardente vínica (55%) que representa um quinto na composição do custo final e de matérias-primas como o vidro ou o cartão.
A Sogrape adverte que o desafio do sector é diversificar o consumo e "alargar a base de consumidores". As suas vendas vão cair 4,5%. O seu Porto Ferreira lidera o mercado nacional ao passo que a Sandeman é a marca preferida na Bélgica, Itália ou Estados Unidos. Nestes mercados, a Sandeman regista crescimentos de 5%. O Brasil também correu de feição ao grupo que perdeu gás em Portugal, França e Holanda.
A Sogevinus (Cálem, Barros e Burmester, entre outras marcas) manifesta preocupação pela perda de quota das categorias "premium" e pelo peso crescente no negócio das marcas dos importadores (BOB - Buyers on Brand). O grupo espera fechar o ano com um crescimento de 6% no mercado doméstico, compensando a perda de 3% na exportação. O desempenho em Portugal é explicado, segundo o grupo, "pela mudança de distribuidora", passando a operar com a Active Brands, da qual é accionista. Em 2009, o grupo da Cálem acredita que o aumento de preços compensará uma esperada redução de volume. |