Os vinhos portugueses têm potencial para aumentar as vendas no mercado externo - consideraram os participantes na mesa--redonda/debate organizada durante a Vinitech, em Bordéus, pela Vida Económica, com o apoio do BES e da Promosalons.
As perspectivas positivas para os vinhos portugueses dependem da aposta em nichos de mercado e da relação favorável qualidade/preço tendo em conta que os exportadores nacionais não podem competir em quantidade ou em preço com os grandes produtores.
A Vinitech acolheu em Bordéus mais de 40 mil visitantes profissionais de todo o Mundo, sendo considerada a maior feira profissional de equipamentos e serviços para o sector vinícola. A edição deste ano reflecte a recuperação do investimento neste sector, depois de um período de estagnação.
Os vinhos portugueses só têm uma saída, que é a exportação Têm potencial de crescimento e têm de trabalhar melhor o seu potencial - afirmou Miguel Martins, director geral da Vallegre - Vinhos, SA.. Actualmente, 85% da produção desta empresa é vinho do Porto, um produto mais fácil de exportar e de trabalhar nos mercados externos. Mas, além do vinho do Porto, os vinhos do Douro estão cada vez mais internacionalizados, porque são vinhos com qualidade e cada vez mais reconhecidos em diversos mercados - disse Miguel Martins. As empresas portuguesas produtoras de vinhos têm efectivamente de se vocacionar e trabalhar para os mercados externos. O mercado nacional é um mercado interessante mas pequeno. Na nossa filosofia da Vallegre não há mercados prioritários. A empresa exporta para 25 países perto de 800 mil garrafas de vinho do Porto e 150 mil de vinhos do Douro, o que representa 90% do volume de produção. Hoje em dia, estamos também à procura de outros mercados, como o asiático, que tem potencial de mercado. Mas tem desvantagens como a distância, a língua, a tradição nos negócios. É uma cultura muito diferente da europeia e da americana, mas penso que com tempo se vai conseguir entrar nesses mercados - salientou Miguel Martins.
Competitividade depende da reconversão das vinhas
O aumento da competitividade dos vinhos portugueses depende também dos investimentos na reconversão das vinhas. Na comparação entre Portugal e os outros países produtores europeus há diferenças a destacar. Os italianos neste momento estão muito mais à frente que os portugueses, dispondo de vinhas reconvertidas e modernizadas - afirmou Maria Manuel Maia, engenheira agrícola da Manoel D. Poças Júnior - Vinhos, SA. Ao nível dos viticultores estas ajudas que vieram da União Europeia têm ajudado na reconversão de vinhas. Estamos a evoluir também ao nível da mecanização, o que torna as vinhas muito mais rentáveis, acrescentou. O sector continua a ter uma vertente artesanal, especialmente no Douro. Ainda é muito à base da mão-de-obra familiar e há operações no Douro que não podem ser mecanizadas, como as vinhas velhas.
Inovação deve ser prioridade
Mesmo num sector tradicional como é o dos vinhos, a inovação deve desempenhar um papel importante. Joana Cabral Furriel, énologa na Taylors, apresentou no debate organizado pela Vida Económica um exemplo de iniciativa inovadora no sector: Lançámos há pouco tempo o vinho do Porto rosé, que foi uma inovação na classe do vinho do Porto. A Holanda foi um mercado que aceitou muito bem este novo conceito de vinho do Porto. Precisamos inovar, criar novos produtos para chamar as pessoas - afirmou.
Banca apoia sectores tradicionais na conquista de novos mercados
Como é que a banca olha para um sector tradicional, como é o sector dos vinhos? Apesar da actual crise internacional, o Banco Espírito Santo continua a acreditar que o apoio às empresas é essencial - considerou Luís Melo, director do Centro de Empresas do BES. O apoio do sector bancário é importante, em particular para mercados não tradicionais, como foram até agora os Estados Unidos e a Europa. A prova disso é que o banco para além da presença em feiras internacionais, tem apoiado ao longo do último ano várias missões empresariais e a países que não estavam tradicionalmente na nossa rota, como são os casos da Argélia, Marrocos, Angola e Dubai, que se vai realizar agora em Dezembro - referiu Luis Melo. O BES entende que esses novos mercados não tradicionais, ou seja, fora da Europa e dos Estados Unidos, são mercados em que Portugal deverá apostar. No que diz respeito à Vinitech, em Bordéus, trouxemos aqui alguns parceiros do sector do vinho do Porto, um sector que tanto fez e tanto faz pela boa imagem de Portugal nos mercados internacionais. Este é um sector em que apostamos muito porque consideramos que é um bom exemplo do que se faz de bom em Portugal já há muitos anos. Queremos continuar apostar e ser parceiros destas empresas que aqui trouxemos e queremos alargar essa lógica a outras áreas - acrescentou Luis Melo.
Marcas nacionais vão ser promovidas no Consulado em Bordéus
O Consulado de Portugal em Bordéus pretende apoiar uma apresentação de vinhos portugueses na região. O desafio foi lançado pela cônsul geral Manuela Caldas Faria aos participantes da mesa-redonda debate organizada pela Vida Económica, com o apoio do Banco Espírito Santo e da Promosalons. Esta iniciativa irá realizar-se nas instalações do próprio Consulado em Bordéus e terá como convidados os agentes económicos, profissionais da restauração e hotelaria e os membros da comunidade portuguesa. A relação qualidade/preço dos vinhos portugueses é um factor favorável ao crescimento das vendas no mercado francês para além dos portugueses que residem na região. Para um nível de qualidade semelhante, um vinho da região de Bordéus custa cerca de três vezes mais em comparação com um vinho português.
No âmbito da diplomacia económica que já tem sido desenvolvida desde há uns anos, uma das vertentes que se encontraram na acção dos representantes diplomáticos é o apoio às trocas comerciais promovido pelas embaixadas de uma forma mais centralizada e depois os consulados complementam toda essa acção - referiu Manuela Caldas Faria. A Aicep promove o investimento e o comércio externo português e, de uma forma descentralizada, os consulados contribuem para esse tipo de acções.
Neste âmbito, o consulado em Bordéus já tem tido várias iniciativas, nomeadamente no caso da Feira Internacional de Bordéus, através da presença de um stand português. Em todo o local onde há uma representação portuguesa já não será necessário solicitar directamente os serviços da embaixada, porque localmente será muito mais fácil obter o apoio adequado.
O Consulado de Portugal em Bordéus é um dos consulados mais antigos de França, além disso é um local de passagem - salientou João Lourenço, vice-cônsul de Portugal em Bordéus. Há cerca de 80 mil portugueses a residir na área do consulado. E há um número muito mais elevado de luso-descendentes. |