Portugal Ramos investe 10 milhões no Douro
Diário Económico | 24-11-2008

Portugal Ramos e Soares Franco compram quinta no Douro.

Foi durante um jantar de Verão, acompanhado por vinhos da Quinta da Viçosa e Marquês de Borba Reserva, que os enólogos José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos decidiram construir um projecto de vinho do Douro. Chamaram-lhe Duorum, para celebrizar a região, a união dos dois (em latim, significa dois), as duas origens de uvas (Douro Superior e Cima Corgo) e as duas altitudes. Dois anos passaram e as primeiras garrafas de vinho estão agora no mercado nacional, após uma primeira incursão em Agosto na Suécia.

Mas se os 150 mil litros da colheita de 2007 são originários de vinhas arrendadas e uvas compradas, já está em curso a plantação de vinha nova na entretanto adquirida Quinta de Castelo Melhor. Como adiantou ao Diário Económico, Soares Franco, foi definida “uma estratégia de longo prazo que passa por dotar a empresa de componentes de produção e transformação”. Assim, foram comprados 122 hectares no Douro Superior (Quinta de Castelo Melhor) que, de uma forma faseada e até 2013, servirão para plantar 75 hectares de vinha nova. Em paralelo, está prevista a construção de uma adega e de instalações sociais. No total, a Gestvinus, a ‘holding’ de João Portugal Ramos e onde Soares Franco tem uma participação (que se escusou a quantificar), prevê investir 10 milhões de euros.

Para já, o vinho Duorum 2007 está a ser apresentado ao mercado nacional – foi lançado em meados de Outubro – nos canais de restauração e garrafeiras. Mas, como o olhar está centrado nos mercados externos, a  primeira incursão foi para a Suécia, onde a “marca foi seleccionada para representar a região do Douro numa cadeia de lojas muito forte”, adiantou Soares Franco. Entretanto, está a chegar a mercados como a Noruega, Bélgica e o Luxemburgo e no primeiro trimestre de 2009 deverá ser exportado para Angola, Brasil e América do Norte. Soares Franco prevê que a facturação do primeiro ano de actividade (Agosto de 2008 a Julho de 2009) atinja 1,3 milhões de euros. Também para o primeiro trimestre de 2009 está previsto o lançamento do Duorum Reserva, sendo que os dois Vinhos do Porto que saíram da colheita do ano passado ainda terão de estagiar dois anos antes de puderem ser comercializados.

Soares Franco, que assume que o ‘core’ da marca será o vinho do Douro, quer rapidamente duplicar a produção, ou seja atingir os 300 mil litros. As vinhas que estão a ser plantadas na Quinta de Castelo Melhor só ao quarto ano é que produzem, sendo que a “excelência da qualidade só é atingida após o sexto ano”. Portanto, os vinhos Duorum irão continuar a ser produzidos com recurso às vinhas dos terrenos arrendados por 20 anos e a uvas adquiridas. De acordo com Soares Franco, mesmo em ano cruzeiro do projecto cerca de 50% das uvas serão compradas.

Segundo o enólogo, o projecto Duorum deverá atingir o ‘break-even’ num prazo de três (cenário optimista) a cinco anos (cenário pessimista).


Um percurso construído no Alentejo

João Portugal Ramos é dos enólogos portugueses com mais reconhecimento nacional e internacional. Iniciou em 1980 a sua actividade como enólogo no Alentejo e, a partir dessa experiência, decidiu poucos anos depois constituir a Consulvinus, tendo participado no desenvolvimento de vinhos nas regiões do Ribatejo, Península de Setúbal, Dão, Estremadura e Douro. Já no início dos anos 90, João Portugal Ramos lança-se num projecto próprio em Estremoz, onde planta cinco hectares de vinha. Hoje, o enólogo dispõe de uma adega em Estremoz com cerca de nove mil metros quadrados de área coberta, tendo uma cave com duas mil barricas para o estágio do vinho. Portugal Ramos é responsável pelas marcas Marquês de Borba, Quinta da Viçosa, Vila Santa ou Lóios.


Barca Velha é o marco na carreira

José Maria Soares Franco construiu a sua carreira na região do Douro. “Por aqui estou vai em 30 anos”, diz, sendo que 28 foram dedicados à Casa Ferreirinha, que entretanto foi adquirida pela Sogrape. Soares Franco tem vários marcos na sua carreira, mas um dos que mais o distingue é ter sido o responsável pela selecção dos vinhos Barca Velha de 1982, 1983, 1985, 1991, 1995 e 1999, o último com a sua declaração. Saiu da Sogrape, onde assumia funções de direcção do departamento de enologia, para desenvolver um projecto próprio, o Duorum. Como afirmou, “o sonho de um enólogo é fazer um projecto próprio” e “acredito que o Douro tem potencial para produzir vinhos do Douro e do Porto”. Com 54 anos, tem a experiência de ter gerido 17 adegas, que vinificavam 18 milhões de litros.

Preço do vinho vai aumentar em 2009

As quebras de 30% na oferta de uva este ano levarão a um aumento dos preços do vinho no próximo ano. Para a produtora Companhia das Quintas, “é previsível um aumento geral dos preços do vinho este ano no mercado, mas ainda é cedo para dizer quanto”, considera Bernardo Gouvêa, director-geral da Companhia das Quintas. Miguel Pessanha, director-coordenador de enologia da Sogrape, também admite aumentar os preços no próximo ano, “mas não muito porque, com a crise, é complicado reflectir o aumento do preço da produção no consumidor”.

A justificação para um inevitável aumento de preços finais é a subida do preço cobrado pelos agricultores que depois vendem as uvas às empresas produtoras. “Os agricultores cobraram mais 30% do que no ano passado”, referiu ao Diário Económico Alberto Coimbra, da Comissão Vitivinícola do Dão. Mas esta subida não assusta a Sogrape, já que as vindimas de 2004 a 2006 “tiveram produções recorde”, o que faz com que a empresa tenha ‘stocks’ que compensam a pouca vindima deste ano. No entanto, para o Monte da Ravasqueira, empresa vitivinícola do grupo Mello, a subida de preços não está em consideração. “Não podemos aumentar os preços nesta altura de crise porque as pessoas procuram bom e barato”, diz Joaquim Guimarães, administrador do Monte da Ravasqueira.
 
 
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