A maior tela criada sob a temática do vinho tem mais de sete metros e está patente no Museu Vinho da Bairrada, em Anadia. Foi pintada por sete artistas plásticos, ao vivo e em simultâneo, junto à Estação Vinícola da Bairrada.
São valores emergentes da arte contemporânea nacional, guiados por correntes estéticas distintas, e foram escolhidos por cumprirem dois requisitos: "Criatividade e provas de qualidade dadas", explica Nuno Sacramento, da galeria aveirense com o mesmo nome, parceira do museu na organização da iniciativa.
A tela, com 7,20 metros de comprimento e dois de altura, foi montada no local, porque não havia como transportá-la. E os autores tiveram de se adaptar a condições de trabalho pouco usuais: pintar em directo para a televisão - havia um programa matinal a decorrer - , lado a lado com outros pintores, sob o sol forte, com a tela a abanar e o tempo, limitado, a correr.
Duma, por exemplo, costuma pintar a óleo, mas para esta experiência optou pelo acrílico. É que a artista plástica, de 35 anos, tem por hábito aplicar várias camadas de tinta, e o acrílico seca mais depressa. Ficou nervosa quando foi desafiada a participar.
Ela explica: "Estamos habituados a trabalhar no sossego do atelier. Mas, por outro lado, é uma experiência muito interessante, muito rica".
Elizabeth Leite, igualmente habituada a criar no isolamento, também temeu a falta de concentração.
"No entanto, é um desafio interessante", conta. A artista plástica tem 26 anos e já mostrou o que vale lá fora.
Cada criador trabalha individualmente, mas pode haver entrusamentos. Duma e Gustavo Fernandes provam-no: o mar agitado dele, onde boia uma garrafa com uma mensagem no interior, mistura-se com a figura feminina, incompleta, de cabelos de uvas, dela. Uma personificação da videira. Já o trabalho de Alexandre Baptista, carregado de ironia, encerra uma crítica ao consumo excessivo de álcool em Portugal. Inclui uma mensagem escrita em inglês, que o autor prefere não desvendar antes de concluído.
Há ainda a figura negra de Fernando Pessoa, pela mão de Júlio Pires, e a relação criada por Elizabeth Leite entre um homem e uma mulher (que é ela mesma), assente no prazer de beber vinho. O vermelho domina o projecto de Carla Faro Barros. E Rita Melo serve-se da imagem do próprio namorado, em fotografia, para pintar um rapaz de copo na mão e ar festivo. Assim vão ganhando corpo as diferentes visões sobre o vinho.
A maior tela criada em Portugal sob inspiração deste líquido já existia ali mesmo, no Museu do Vinho Bairrada. Chama-se "O Espírito do Vinho", é da autoria do mestre Mário Silva e tem sete metros. A intenção foi superá-la e, ao mesmo tempo, dignificar o vinho enquanto produto ao qual a região está estreitamente ligada, conta o coordenador do espaço museológico, Pedro Dias. |