Castelo Branco está a um passo de entrar na rota dos vinhos de grande qualidade. António Martins, empresário têxtil em Cebolais de Cima, e Peter Schauffler, líder da multinacional Bitzer, decidiram criar a Adega do Alto Tejo em Castelo Branco e contam com dois dos melhores enólogos do País. Os primeiros 10 mil litros foram engarrafados em Maio e a produção esgotou em dois meses.
Produzir, engarrafar e comercializar vinho de grande qualidade, destinado a nichos de mercado específicos, é o objectivo da Adega do Alto Tejo, uma empresa já em actividade e com um investimento em curso que rondará os 600 mil euros, entre equipamentos e instalações, as quais poderão ficar localizadas na Zona Industrial de Castelo Branco.
A ideia nasceu há cerca de um ano por iniciativa de um empresário de Cebolais de Cima, António Belo Martins, e do também empresário Peter Schauffler. O primeiro foi um dos sócios da sociedade têxtil Pereirinho, em Cebolais de Cima. O segundo é o líder da multinacional Bitzer, também presente em Castelo Branco, bem como de dezenas de outras empresas em vários países.
“O senhor Peter Schauffler tem cinco hectares de vinha na Quinta de Santo Isidro, na Barroca da Malhada, em Tinalhas. Eu tenho cinco hectares de vinha na Tapada da Breja, em Cebolais. O investimento resultou de uma conversa que tive com um representante do senhor Peter Schauffler, na sequência da qual decidimos unir-nos e criar uma adega com todas as condições para produzir vinho de grande qualidade”, afirma António Martins.
Para conseguirem obter o vinho desejado, os empresários contam, desde a primeira hora, com dois enólogos portugueses de grande renome, ligados a muitos dos melhores vinhos das mais reconhecidas marcas. António Martins prefere não revelar os nomes, mas garante que “os enólogos estão a estruturar o processo de produção, pelo que definem tudo, desde os equipamentos, que já adquirimos, até às obras que terão de ser feitas”, garante.
A presença dos referidos enólogos foi garantida com a possibilidade de poderem estruturar o processo de produção, desde a vinha à comercialização, mas resultou sobretudo devido à aposta em produzir apenas vinho de qualidade. “Os bons enólogos preocupam-se em ter o melhor vinho possível. Nós queremos o mesmo, pois o que importa é a grande qualidade e não uma grande produção”, afirma.
Primeiro ano já deu frutos
A Adega do Alto Tejo, Lda, empresa com capital social de 150 mil euros, terá instalações definitivas antes da colheita de 2009, mas já este ano começou a engarrafar vinho, em instalações provisórias, onde está instalado o equipamento definitivo. “A produção foi baixa porque as vinhas estão no princípio da produção. Em Maio engarrafámos 10 mil litros e passados dois meses está esgotada a produção (das embalagens de cinco e 10 litros)”, adianta o empresário, que destaca a venda a muitos particulares, mas também a dois restaurantes, onde algumas pessoas que conheceram o vinho se tornaram também clientes da Adega do Alto Tejo.
O segredo do vinho é, afinal, um segredo, pelo que não pode deixar de o ser. Ainda assim, o empresário levanta o véu sobre algumas práticas. “Fazemos duas mondas na vinha. A primeira ao fim de um mês, depois do rebentamento. E logo a seguir ao pintor (quando as uvas começam a ter cor), as que se atrasam no amadurecimento são todas retiradas. Deixamos apenas cerca de um quilo e meio em cada cepa”, garante. As castas, que se repetem nas duas propriedades, são a Touriga Nacional, Trincadeira, Aragonêz e Alicante Bouchet.
O equipamento adquirido garante um processo profissional, mas não de tipo industrial, pois está previsto para pequena produção. “A adega servirá apenas para produzir o nosso vinho, porque temos a garantia que as uvas são escolhidas logo na vinha. Se viessem uvas de outros locais, não teríamos a garantia de que tinham sido alvo de um processo de escolha semelhante”.
A adega terá um compartimento destinado ao arrefecimento das uvas, para que conservem todos os aromas nas diversas fases de produção do vinho. Existem depois duas mesas de escolha, uma vibratória para escolha das uvas, e outra a seguir ao desengaçador (que separa os engaços dos bagos), para escolha dos bagos. Já os lagares de fermentação e os depósitos têm camisas de refrigeração, que funcionam com água arrefecida num pulmão e cuja temperatura é controlada por computador.
Objectivo chega às 40 mil garrafas
O processo de produção, que começa por escolher as uvas ainda na cepa exige a contratação de muita mão-de-obra, o que terá de ser reflectido no preço final do vinho. Mas o negócio tende a ser lucrativo, sobretudo quando a produção atingir a quantidade das 40 mil garrafas ano. Parte desse vinho deverá ficar em Portugal, mas tudo indica que muitas das garrafas serão vendidas para o estrangeiro.
Algumas das primeiras garrafas a serem comercializadas, o que acontecerá em 2010, já estão em estágio em Cebolais de Cima, num local que respeita as temperaturas definidas pelos especialistas. Os rótulos, esses, serão colocados depois e serão uma boa forma de promover a região. O Tapada da Malhada, cujo nome resulta de um casamento entre Tapada da Breja, em Cebolais de Cima, e Barroca da Malhada, em Tinalhas, terá sempre o nome da Adega e a localização geográfica. |