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CEVDÃO - Criado em Nelas em 1946
Público | 21-11-2006

Estrutura tem um papel fundamental na área da experimentação e recebe por ano cerca de 4000 amostras de vinho e mosto.

A área da Região Demarcada do Vinho do Dão compreende concelhos dos distritos de Viseu (Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penalva do Castelo, Santa Comba Dão, Sátão, Tondela e 29 freguesias de Viseu), Coimbra (Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua) e Guarda (Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia). Entre as castas tintas do Dão, a "rainha" é o Touriga Nacional. Com ela, "quando usada numa percentagem conveniente, obtêm-se vinhos com bom teor alcoólico, com aromas intensos de elevada complexidade, encorpados, com taninos nobres e susceptíveis de longo envelhecimento". Nas castas recomendadas, incluem-se ainda o Alfrocheiro-Preto, Alvarelhão, Aragonez (Tinta-Roriz), Bastardo, Jaen, Rufete (Tinta-Pinheira), Tinto-Cão, Touriga-Nacional e Trincadeira-Preta (Tinta-Amarela). Entre as brancas, o Encruzado é a mais nobre. "Se usada numa percentagem regular, contribui para a obtenção de vinhos com bom teor alcoólico, com aromas complexos (resinosos), frescos na boca, relativamente secos e com um final fino e elegante."

O Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão (Cevdão) comemora hoje 60 anos de existência. Criado em Nelas, em 1946, na Quinta da Cale, porque o concelho "representava o coração da região do Dão, tanto pela óptima qualidade dos seus vinhos, como pelo volume da sua produção", o Cevdão (uma unidade orgânica da Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral) continua a ter um papel fundamental na área da experimentação e divulgação da vitivinicultura e da enologia da região. O actual responsável do Cevdão, Jorge Brites, considera que estas são duas áreas indissociáveis onde "há ainda muito que fazer", mas sublinha que o desafio que se coloca ao Dão é, através da aposta na qualidade, traçar novas estratégias de marketing e comercialização. E, na sua opinião, o segredo para a qualidade dos vinhos da região é o seu "riquíssimo património genético".

"Os vinhos da região do Dão sempre foram obtidos a partir de um conjunto de castas mais ou menos numerosas. Branco ou tinto, o vinho do Dão nunca era feito a partir de uma só casta [e este] é um património valioso que é preciso preservar", vinca, lembrando que actualmente a "moda" é, à semelhança dos franceses, fazer vinhos "varietais" a partir de uma, duas ou três castas. Explica que, apesar de a região não poder ficar alheia a esta tendência - que tem sido seguida com a produção de vinhos a partir de Touriga Nacional, de Alfrocheiro, de Encruzado ou Malvazia Fina -, também não pode ser ignorado que "os melhores vinhos do Dão são feitos por um conjunto global de castas". Por isso, conclui: "Esse conjunto de castas, associadas sempre a uma que é considerada rainha (Touriga Nacional, no caso dos tintos, e Encruzado, no caso dos brancos), faz com que o Dão tenha vinhos de qualidade superior, com potencialidades extraordinárias e com características diferentes das outras regiões".

Uma mais-valia que a região não pode perder

Jorge Brites acredita que esta é uma mais-valia que a região não pode perder, pois só assim o Dão se puderá afirmar no mercado nacional e internacional, onde a concorrência é fortíssima, nomeadamente a oriunda do "Novo Mundo, onde há países a fazerem vinhos tão bons ou melhores e a preços muito mais competitivos". "Nós temos de primar pela diferença, e a nossa diferença é fazer o vinho a partir de um conjunto de castas mais ou menos vasto, mas tendo em atenção as boas características de uma e de outra, que, no seu conjunto, permitem a obtenção de um vinho diferente, mas de qualidade superior", reitera. Está, por isso, convicto de que, desde que a região "não adormeça" e, com "imaginação e dinamismo, una esforços", é possível obter vinhos que possam "ombrear com os de melhor qualidade em todo o Mundo". Avisa, porém, que é necessário deixar "bairrismos e vaidades".
No seu trabalho de apoio e de busca de soluções para que o vinho obtenha a qualidade desejada, o Cevdão recebe anualmente cerca de 4000 amostras de vinho de mosto por ano, para análise e conselho laboratorial. Nas análises, são avaliados vários parametros, nomeadamente o grau alcoólico, de acidez, o PH e os açúcares, entre outros. Depois do resultado das análises, o vitivinicultor é aconselhado a fazer o tratamento necessário e/ou é ensinado a como conservar o vinho.

Para Jorge Brites, o número de amostras é "significativo". Explica, no entanto, que o Cevdão tem capacidade para receber mais amostras, já que possui um analisador automático que faz a análise com base em dados comparativos, o que lhe permite obter 40 resultados por hora.
O Cevdão tem ainda uma vinha de oito hectares, através da qual produz o seu próprio vinho, que utiliza em estudos e análises mais pormenorizadas e na promoção da região.

Entrevista com Jorge Brites - CEVDão

PÚBLICO - Como caracteriza os vinhos da Região?

JORGE BRITES - Aqui sempre houve três tipos de vinho. Um que é o vinho do lavrador, para auto-consumo, que é uma mistura de castas brancas e tintas. Depois há o tipo de vinho que apareceu com o surgimento das adegas cooperativas, em que já havia a preocupação de separar o branco do tinto, de aplicar tecnologias mais modernas, com mais cabimento técnico. Hoje, essas adegas, fruto da evolução e da pressão da concorrência, já conseguem apresentar vinhos de boa qualidade. E depois outro tipo que foi a base do nome do Dão: os chamados vinhos de quinta, das grandes casas senhoriais, que eram os vinhos feitos de castas tradicionais.
Estamos numa região que tem uma potencialidade para ter vinhos no comércio cedo. Há possibilidades de, com as castas que tem e com a tecnologia actual, fazer vinhos que com um ou dois anos podem ir para o mercado. Mas também temos castas e condições para fazer vinhos que podem durar 40 ou 50 anos, patenteando ainda qualidades excelentes.

Os brancos do Dão também podem competir com outras regiões?

Há muita gente que diz que o Dão é uma região só de tintos, que não tem qualidade para vinhos brancos. Isso é uma pura mentira. O Dão tem vinhos brancos de excelente qualidade, se bem que as castas não tenham um potencial aromático muito forte. Isto quer dizer que a qualidade desses vinhos só se manifesta ao fim do primeiro ou segundo ano. Também é verdade que determinados tipos de vinho, se quisermos ter a paciência de esperar, poderão atingir ou enaltecer essa qualidade ao fim de uma, duas, três, quatro dezenas de anos. E, para provar isso, vamos brindar o sexagésimo aniversário do CEVDão com vinho branco da colheita de 1964.

O vinho tem vindo a perder consumidores para as bebidas brancas. É possivel inverter essa tendência?

Há todo um conjunto de bebidas consumido por uma população jovem que nunca esteve associada ao vinho. Há que conquistar esse público, apresentando vinhos diferentes, que à primeira vista podem não ser de excelente qualidade, mas que sejam vinhos adaptados ao gosto da juventude. Gostos não se discutem, mas podem ser educados e aí compete à região e entidades responsáveis do sector fazer algo para conquistar esse mercado.

Que presente gostaria de receber no aniversário do CEVDão?

Queria que o centro e seus funcionários pudessem comemorar outros 60 anos. Humanamente é impossível, mas gostaria que o CEVDão continuasse por muitos e muitos anos. O futuro que eu lhe augurava era que continuasse as suas funções com o mínimo de condições para que possa efectuar o seu trabalho em prole da Região Demarcada do Dão e a ajudar os vitivinicultores a produzir melhores vinhos
 
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