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Um copo de três e um quarto para dois
Hélder Beja | i online | 20-07-2009

Visitas às adegas, cursos e provas. Fomos ver a Quinta Nova, no Douro, vencedora de um prémio Best Wine Tourism 2009.

Estamos a 30 minutos e muitas curvas do Pinhão, na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Chegámos de noite, a bater a estrada que sobe e serpenteia as encostas vinhateiras do Douro e tentando adivinhar a paisagem. Às 23h50 parámos o motor do carro. Esperava-nos uma antiga casa senhorial do século XVIII transformada em hotel rural, a um mundo de distância das grandes cidades.

A winehouse da Quinta recebeu este ano o prémio Best Wine Tourism na categoria Arte e Cultura (prémio internacioal entregue pela Rede de Capitais de Grandes Vinhedos) e, com a época de vindimas a aproximar-se, os visitantes começam a chegar. Andre Odd, canadiano de 57 anos, descobriu a quinta no posto de turismo da Régua. Chegou aqui de carro, mas podia tê-lo feito de barco, comboio ou mesmo de helicóptero - a propriedade tem heliporto. A Quinta Nova está nas mãos do grupo Amorim desde 1999 mas já pertenceu a várias famílias ligadas ao Douro vinhateiro - a Burmester foi a última. Andre, a mulher e outro casal canadiano vêm do Sol do Algarve e estão a subir o país. "O vinho desta região é muito bom. E como adoro o néctar, o Douro tinha de ser passagem obrigatória", diz, enquanto se prepara para visitar os quartos e fazer o check- -in. Acompanhados por uma assistente, os turistas acabam de visitar a adega renovada mas datada de 1764, a sala de barricas e o restante núcleo central da propriedade de 120 hectares (85 de vinha).

Enoturismo Nesta quinta mergulha-se no vinho e no seu processo de produção. Em Setembro, no tempo das vindimas, "há quarenta mulheres a trabalhar na apanha durante três semanas", contabiliza Paula Sousa, uma das responsáveis. Mas "tem dias de andarem cem pessoas nestas encostas", remata Carlos Neira, o adegueiro da Quinta Nova. É essa colheita que assegura a produção anual de 200 mil garrafas, vendidas para 12 países. Nessa altura o visitante vem para participar na jorna de trabalho. E nem é preciso estar alojado: um dia na vindima custa 45 euros.

Por agora, as uvas ainda estão verdes e húmidas nas cepas e, por isso, as ofertas são outras. A Quinta Nova tem uma malha de 17 quilómetros de percursos pedestres. É um convite a perder-se no meio das vinhas - ora subindo e aproveitando a paisagem, ora descendo em direcção às águas calmas do Douro que cercam a propriedade ao longo de um quilómetro e meio. Trocamos o passo (ou as bicicletas, que também as há) pela carrinha todo-o-terreno e vamos conhecer a quinta. Sempre por caminhos de terra, chegamos à linha férrea do Douro e à Capela de Nossa Senhora do Carmo, que dá nome à quinta. Dirigimo-nos a um dos pomares que os visitantes usam para piqueniques ou para beber um copo de vinho ao final da tarde. Paula Sousa explica que "a ideia não é massacrar as pessoas com actividades", nem toda a gente faz enoturismo para aprender alguma coisa". Mas, também há cursos de vinho e provas especiais.

Wine chasing Cruzar a actividade física e lúdica com o vinho é outra aposta da quinta. O wine chasing (versão "de adega" do geo cashing, espécie de caça ao tesouro com GPS e pistas) é uma das actividades propostas. Os mais dados à inércia podem regressar ao coração da quinta e ficar pela piscina com vista para o rio. De volta à casa senhorial, seguimos para a adega. "Os lagares já não se usam como antes", vai explicando Paula Sousa quando lhe perguntamos se os visitantes podem pisar uvas. "A equipa não gosta muito [de disponibilizar uvas para pisar] porque há um grande desperdício de vinho e a qualidade não é a que se quer. Implicava termos aqui muitos turistas a pisar durante o dia sem fazerem mais nada." E quem visita "prefere saborear o vinho ou conversar um pouco com o enólogo" Francisco Montenegro. A tradição já não é o que era.

Descemos à garrafeira e à sala de barricas. O ar é espesso, a luz escassa e a temperatura controlada. Vinhos antigos são escassos, porque o negócio com a Burmester "levou boa parte", explica Paula. As barricas de 125 litros, onde os vinhos estagiam em casca de carvalho americano e húngaro, perfilam-se a caminho da sala de provas, no espaço vidrado com uma vista imponente sobre o vale.

Comer É hora de sentar à mesa. Vinho casa com comida e o restaurante da quinta não foge aos alimentos tradicionais - o bacalhau, o cabrito, a boa carne - sempre servidos com um cuidado estético especial. Nos copos perfilam-se os três vinhos da casa: Três Pomares, Grainha e Quinta Nova, onde predominam as castas Touriga Nacional e Tinta Roriz. No vinho, como no terreno inclinado da quinta, é sempre a subir: no preço e na qualidade

 
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