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Do mato e das estevas do início ao vinho que jorra hoje das pipas
Diário de Notícias | 17-04-2009

No início era o mato e as estevas. Neste mesmo início foi preciso aforrar as tais mangas e encarar todos os desafios de frente. Há uma década, quando começou esta aventura - sim, uma aventura - o campo era um mundo de incertezas, uma espécie de glória adiada e sem certezas de a alcançar. Mas foi a opção tomada e foi o caminho seguido. Hoje aguardam- -nos, de sorriso aberto, numa quinta que conquistou palmo a palmo o seu espaço às garras do abandono.

O início desta jornada foi a chegada de Lisboa a um lugar isolado, longe de décadas de vida acelerada ao ritmo da maior cidade portuguesa. Júlio Canarias e Maria de Fátima abandonaram Lisboa, cidade onde tinham passado grande parte da sua vida adulta e rumaram a Vale de Água, nos limites do concelho do Fundão.

Do nada fizeram uma quinta e dessa quinta um vinho de que se orgulham e o qual dão a provar a estes convidados de ocasião. E que passa com distinção. Do nada juntou-se o esforço e a insistência e hoje colhem os frutos da aposta que nem sempre foi isenta de incertezas e de riscos.

Júlio Canarias, 67 anos, reformado da PSP, voltou para a terra que o viu nascer. Está a fazer dez anos. Voltou para a agricultura. "Chegou a altura da aposentação" e, com ela, uma pergunta, geralmente, de complicada resposta: "O que é que eu vou fazer?" O local onde hoje nos recebe dá a resposta. Uma resposta que "teve uma grande influência do filho, que gosta muito de estar no campo", diz.

A duas parcelas de terra que já tinham por ali, juntaram um monte que compraram na altura em que tomaram a decisão de mudar o rumo das suas vidas. "Viemos para aqui e começámos a pensar o que é que poderíamos fazer para sobreviver aqui. A agricultura é muito difícil. Quando nós viemos para aqui, se eu não estivesse reformado, se não recebesse reforma, não conseguia. Se calhar morria por aí de fome...", graceja.

Os tempos das incertezas, que emsombram sempre um novo projecto de vida e uma mudança radical de costumes deram azo a várias experiências nos seus terrenos, que incluiu mesmo uma criação de avestruzes. Chegou a ter quase duas centenas daqueles animais. Mas a afinação da sua filosofia de crescimento como agricultor deu-se com a aposta na vinha. São cinco hectares que tomaram o lugar de vizinho. "Pedimos um subsídio para os primeiros hectares de vinha e agora fizemos para mais dois." E aí estão eles, plenos de vivacidade e em produção.

"Já tivemos essas fases, onde pensámos que talvez tivéssemos feito mal em vir para cá, mas agora..." Agora é tudo muito diferente, concluímos nós.

A beleza da quinta e as pipas cheias com o seu trabalho "e com algum rendimento que vamos tendo", o ânimo instalou-se por aqui e é para ficar. Pelo menos projectos não faltam para o seu tão elogiado vinho. E garante que quem o conhece quer mais e as encomendas são prova disso. O vinho é bom e tem orgulho nisso. Quem não teria? E as ideias seguem o seu caminho: "Com esta produção que nós temos, estamos a pensar daqui a amanhã organizarmo-nos, juntamente com o meu filho, para criarmos uma marca, fazermos aqui uma adega", revela.

O futuro tratará, por certo, de confirmar as suas aspirações. Se há bom vinho, a boa sorte virá a seguir
 
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