Há sete anos presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), João Machado acredita haver margem de crescimento na actividade agrícola nacional, mas admite que haverá cada vez mais terrenos abandonados se a política não mudar. No entanto, assume como a maior preocupação do momento a definição política da estratégia portuguesa para o período 2007-2013.
João Machado admite que a agricultura portuguesa será capaz de sobreviver sem apoios comunitários após 2013, mas, até lá, está preocupado com o destino que as novas verbas terão na agricultura portuguesa. Por um lado, não quer ver repetidas no futuro as devoluções de dinheiro que Portugal tem feito a Bruxelas e, por outro, quer garantir para os agricultores portugueses condições de competitividade que lhes permitam actuar no mercado em igualdade de circunstâncias, nomeadamente, em relação aos seus colegas espanhóis. Em sua opinião, a equivalência dos factores concorrenciais só será possível com ajudas para suportar, sobretudo, custos de produção, como a electricidade e o gasóleo.
JN|O que é que mais preocupa os agricultores portugueses neste momento?
João Machado|É o próximo quadro comunitário de apoio 2007-2013. A maior preocupação da CAP é saber se Portugal - que tem sido um dos países que menos dinheiro tem recebido da União Europeia - vai ver reequilibrado o seu orçamento nos próximos anos, até 2013, em relação aos outros Estados. Mas não basta ter uma boa política e um bom orçamento decididos em Bruxelas, que depois é preciso aplicar bem em Portugal e em tempo.
Está tranquilo com aquilo que já é conhecido da política definida por Portugal no Plano Estratégico para a agricultura 2007-2013?
Não, não estou nada tranquilo. Estou muito intranquilo, porque, pela primeira vez, no início do quarto quadro comunitário de apoio (vamos na quarta negociação para um período de tempo desde que Portugal pertence à União Europeia) os agricultores, isto é, os interessados nesta matéria, não tiveram nenhuma intervenção na negociação. Há um total secretismo em Portugal, ao nível do Ministério da Agricultura, que não possibilita a um parceiro social como a CAP participar nessa negociação.
Fará desta matéria uma nova luta contra o ministro da Agricultura?
Nós temos mantido lutas muito acesas com o actual ministro que dizem respeito a contratos não cumpridos, a políticas que o ministro não assume e, sobretudo, que dizem respeito a acusações aos agricultores de fraude e de ilicitudes. Estamos a falar das agro-ambientais, da electricidade verde, dos apoios à seca de 2005.
Mas em relação ao próximo quadro de apoio, o que é que a CAP gostaria de ver implementado?
O que a CAP acha que um Governo responsável faria é que o ministro da Agricultura falasse com as organizações do próprio país e delineasse uma estratégia que visasse reduzir a diferença na política agrícola comum entre Portugal e os outros países europeus. |