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Um Niepoort para 2012
Pública, Público | 28-12-2008

A prova de Vintage 1997 organizada no início de 1999 por Paulo Cruz, do Bar do Binho, em Sintra, reuniu cerca de 20 provadores e deu a provar em prova cega e não comentada praticamente tudo o que se tinha feito nesse prodigioso ano na categoria suprema do Vinho do Porto.

Em toda a campanha 96/97, Dirk Niepoort, então um rapaz excêntrico que já falava muito de vinhos de mesa, descendente directo dos primeiros holandeses que se fixaram em Gaia como exportadores de Porto, dizia: "Se eu não conseguir fazer um grande Vintage em 97, nunca vou conseguir fazê-lo." A menos de algumas matreirices que a Natureza sempre impõe, tudo conduzia a uma grande colheita. Além disso, vivia-se um clima de euforia em torno do Porto Vintage, pelos 100 pontos dados ao Taylor's e ao Fonseca, ambos de 1994, pela revista norte-americana Wine Spectator. As vendas de Vintage em Portugal cresceram sideralmente, com uma procura interna notável, levando muitos coleccionadores a acorrer aos importadores ingleses para obter as caixas desejadas para as suas caves, a preços mais baixos que em Portugal. Escrevi, ainda em 1998, um artigo que intitulei "E vão quatro" e que foi publicado na Revista da Ordem dos Engenheiros. Dava conta de que a década de 1990 teria quatro declarações clássicas - 91, 92, 94 e 97 -, contra as tradicionais três. Eu fui um dos provadores presentes na prova de Sintra e classifiquei acima dos 18,5 valores em 20 e por ordem decrescente os seguintes: Niepoort, Quinta do Noval Nacional, Fonseca, Quinta das Carvalhas (Real Companhia Velha), Quinta do Infantado e Quinta do Noval. Um elenco que me escandalizou positivamente, porque colocava pela primeira vez nas posições cimeiras produtores engarrafadores, as grandes casas exportadoras e as marcas de média dimensão. Gosto de pensar, por isso, que 1997 foi talvez a mais democrática das declarações de Vintage. Faço de seguida um percurso muito individual por cada um dos meus "grandes" de 1997. É aliás por isso que escrevo este artigo, excepcionalmente, na primeira pessoa do singular.

Surpresa atrás de surpresa

Em pleno boom no início de 1999, quando os 97 foram disponibilizados no mercado, vi o que nunca pensei ver: os preços a subir em flecha, de dia para dia, numa girândola tanto imparável quanto paranóica. Quando me enchi de coragem e fui, feito cliente regular, recusando favores e ofertas de produtores como felizmente ainda faço, à loja da Quinta do Noval, em Gaia, para comprar três garrafas de Noval Nacional 97 - custar-me-iam umas centenas de contos, ou milhares de euros - eis que ali, mesmo à minha frente, as tabelas de preços foram retiradas, sendo-me comunicado que todos os Vintage custariam o dobro (!) do tabelado. A decisão havia sido tomada pela administração da Quinta do Noval na véspera. Depois disso, intercedi junto da empresa, reclamando do que havia acontecido, próximo da inconstitucionalidade e seguramente contra tudo o que é lisura comercial. Comprei a preços mais baixos mas mesmo assim bem acima dos tabelados. Christian Seely, o gestor, seguiu uma interessante e peculiar carreira na Axa Millésimes - proprietária da Quinta do Noval -, como gestor de sucesso. Com o privilégio autoconcedido de duplicar os preços e não perder clientes, é um dream manager em qualquer parte e vive hoje entre os complexos gestores e proprietários dos grandes e míticos châteaux, em Bordéus. Devemos-lhe, de qualquer forma, a excelência que juntamente com Assunção Cálem imprimiu ao projecto da Quinta do Noval. Hoje, de resto, é o mentor e um dos accionistas da bonita e exclusiva Quinta da Romaneira, longe das euforias arrivistas de cromados e luxos deslocados que marcam a alta hotelaria dos nossos tempos. Assunção Cálem, por seu turno, fez a "Quinta Geração", uma empresa de turismo duriense em que tenho os olhos postos, já que conhece o Douro como ninguém. Na Quinta do Noval, tudo corre muito bem ano após ano, com António Agrellos a continuar a exercer uma enologia de enorme brilho e talento.

A Fonseca vinha impante do estrondoso êxito com os 1994. Taylor's e Fonseca, pertença do mesmo grupo, foram considerados "os melhores vinhos do mundo" pela Wine Spectator. Isso fez com que o preço subisse, mas o conservadorismo e a longanimidade do prematuramente desaparecido Bruce Guimaraens, juntamente com a sua paixão, impediram que acontecessem abusos como o da Quinta do Noval. Preços ligeiramente acima da média, mas qualidade bem lá em cima também. É a única casa de topo do vinho do Porto que ainda não se rendeu à evidência do vinho DOC Douro, com David Guimaraens, filho de Bruce, na enologia, e António Magalhães na viticultura. O marketing hoje em dia vale muito, mas a equipa e os vinhos do Porto que têm produzido são de nível cósmico, todos os anos.
Quando se dá a prova, a Real Companhia Velha tinha criado há relativamente pouco tempo a sua Fine Wine Division, supervisionada pelo americano Jerry Luper e dirigida por Francisco Montenegro. Quando fui indagar sobre o que estava por trás do muito bom Vintage, que James Suckling (Wine Spectator), inexplicavelmente, retirou da sua prova, informando as partes interessadas que tinha demasiada acidez volátil - falsidade evidente -, dei com um trabalho de grande envergadura de replantação de vinha na Quinta das Carvalhas, aquela que fica mesmo em frente ao Hotel Vintage House, no Pinhão. Foi então que conheci o francamente jovem Jorge Moreira, oficiante na Real Companhia Velha, hoje autor do DOC Douro que leva um nome que rima com o seu: Poeira. É também o director da Quinta de La Rosa, no Pinhão. Francisco Montenegro também se emancipou e tem, além do seu "Aneto" DOC Douro - fez um brilhante Colheita Tardia que saiu há meses -, relações de consultoria com produtores durienses, de que o exemplo mais notório é a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.

A Quinta do Infantado foi a minha maior surpresa da prova dos Vintage 1997, apresentando-se com um vinho de grande equilíbrio e ao mesmo tempo força. Aquela empresa familiar de Covas do Douro, encabeçada por Luís Roseira e muito dinamizada pelo seu sobrinho João Roseira, já em 91 e 92 tinha dado muito mais que um ar da sua graça; dizia ao mercado que não estava aí para brincar. O Vintage 1997 impressionou-me de sobremaneira, com uma justiça na classificação cimeira que ainda hoje vou confirmando nas garrafas que vou abrindo.

A conferir dentro de quatro anos

A década de 90 correu bem a Dirk Niepoort. Além dos belíssimos vinhos do Porto que se fizeram, saíram do seu coração vinhos do Douro que mudaram a face do grande vale vinhateiro. Tardou em conseguir impor a sua filosofia à família, mas as confirmações começaram a chover. Era possível, afinal, fazer grandes vinhos de aceitação internacional no Douro, sem prejudicar a qualidade e o nível dos vinhos do Porto. A mobilização dos produtores não tem precedentes e provavelmente não se repetirá. Em torno de Dirk Niepoort, constituiu-se na segunda metade dos anos 90 uma horda de pessoas muito interessadas em fazer as coisas bem feitas. Falavam intensamente uns com os outros, ajudavam-se mutuamente nas vindimas uns dos outros e sobretudo provavam tudo o que todos faziam. Esses foram, para mim, os primeiros Douro Boys, cujo número pode bem ter ultrapassado os 30, empenhando-se a fundo em tirar o maior partido possível dos grandes terroirs do Douro. O curso da vida acabou por ditar a concentração de cada um na sua própria trajectória, apesar da interacção recorrente entre todos. Os Douro Boys hoje são cinco e têm Dirk Niepoort como emblema, apesar de os restantes players de referência todos terem pergaminhos a respeitar: Cristiano van Zeller (Quinta do Vale D. Maria), Francisco Ferreira (Quinta do Vallado), Tomás Roquette (Quinta do Crasto) e Francisco Olazábal (Quinta do Vale Meão). No capítulo do Porto, no entanto, é a Niepoort o porta-estandarte do grupo.

O vinho do Porto Vintage tem uma evolução no tempo algo irregular. Nos seus primeiros anos, a exuberância de fruta, especiarias, chocolate e tabaco encanta aqueles que procuram sobretudo potência nos vinhos do Porto. O Niepoort 97 cumpria na perfeição esses requisitos prazeirosos, além de que mostrava uma integração de grande equilíbrio de todos os componentes, álcool, acidez, açúcar e taninos. Cerca de quatro anos depois, acontece a um Vintage aquilo com que ninguém conta e que decepciona sem razão quem fez investimentos fortes nessa colheita: o vinho hiberna. Podemos decantá-lo com muito cuidado, bebê-lo directamente servido da garrafa ou deixá-lo respirar ao longo de muitas horas, que ele funciona como um gigante adormecido, imperturbável e mudo. São entre 11 e 15 anos de adolescência, os que medeiam a evolução de um Vintage em garrafa até voltar à superfície do sensível, com as características clássicas que lhe são reconhecidas. Abri no início deste ano uma garrafa de Niepoort 97 que começava já a dar um ar da sua graça, apesar de algumas arestas ainda a precisar de ser limadas. Trabalho do tempo, que não conhece nem admite atalhos. Ao mesmo tempo, pude constatar, no Verão de 2007, como a "regra da adolescência" é verdadeira e aplicável, ao abrir e beber com amigos e correlegionários uma fabulosa garrafa de Taylor's 92. Pela regra "4+11", bate certo, podendo considerar-se maduro. Uma outra garrafa do mesmo 92, aberta cinco anos antes, tinha sido um pouco decepcionante.

Seguindo os cânones, será em 2012 que o Niepoort Vintage 97 vai entrar na sua fase madura. Logo vemos. Mas de certeza que sim. Para já, os mais de 250 euros que vale uma garrafa representam um investimento sem par, já que custavam, em 1999, cerca de 25. Acima de toda a crise
 
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