Os produtores e distribuidores de Vinho do Porto vivem uma contradição. Por um lado têm que se manter fiéis aos mercados tradicionais. Mas, também têm de procurar novos consumidores e novos mercados para incrementarem as vendas.
Para aumentar as vendas de Vinho do Porto e cativar novos consumidores, têm havido apostas na promoção de bebidas à base de Vinho do Porto. O que pensa disso?
Acho que são importantes, desde que essas medidas não prejudiquem a imagem do Vinho do Porto. Uma das medidas foi o Porto tónico, não sei se o efeito foi muito conseguido, mas é um facto que acaba por ser uma forma diferente de consumo do Vinho do Porto, que pode atrair outro tipo de consumidores. Mais recentemente temos a questão do Pink, lançado pela Croft. Eu julgo que, se for algo que seja bem sucedido, pode trazer para o Vinho do Porto um outro tipo de consumidor. Todo este tipo de esforço de mudança da imagem do Vinho do Porto, de tentativas de encontrar novos consumidores, é positivo. O Vinho do Porto tem um problema. Por um lado, precisa de quebrar com a tradição, procurar novos mercados, novos consumidores. Mas, por outro lado, tem medo de quebrar com essa mesma tradição porque muito do seu negócio é feito com base nessa tradição, com os Vintage, com mercados muito conservadores, de modo que há aqui um certo impasse. Se o Vinho do Porto quer aumentar as vendas, o caminho tem que ser de encontrar novos consumidores e tentar reposicionar o produto.
Os mercados asiáticos, nomeadamente a China, são interessantes para o Vinho do Porto e para os vinhos portugueses?
São mercados potenciais. Nós estamos no mercado chinês há cerca de um ano. E o que sentimos é que as potencialidades estão lá. Agora acho que existe uma ideia errada. Pensa-se que se chega ao mercado chinês, encontra-se um importador e que em pouco tempo se fazem milhões de euros. O preço de uma garrafa da China é para aí 10% do salário médio de um chinês. Por outro lado, boa parte do consumo de vinho na China – cerca de 50% – está direccionada para vinhos chineses, vinhos baratos, de baixa qualidade. Os outros 50% são vinhos importados, mas na sua esmagadora maioria são vinhos franceses. O trabalho de criação de uma imagem de vinhos portugueses está muito embrionário e sobretudo do Vinho do Porto. Os consumidores não conhecem o Vinho do Porto e vai demorar um certo tempo a criar-se uma imagem, a criar-se um mercado. O potencial acho que existe. Agora não é algo que se consiga em dois anos. |