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“Fui às Contreiras a pé, para beber uma pinguinha de vinho jaqué”, assim se cantou nas Vindimas
Já foram de cesto mas... agora é de balde
Carla Ribeiro | Jornal da Madeira | 09-09-2007
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Deus te abençoe meu sobrinho

Já os homens enrolam a corda no “engaço” para o espremer e tirar mais mosto quando Alberto Sousa recebe uma chamada da Venezuela. O filho mais velho deste lembrou-se que era dia de vindima e decidiu ligar para saber como decorria a festa.

«António Gouveia, dentro do lagar, ainda teve tempo para falar com o sobrinho: Deus te abençoe», dizia António Gouveia para o sobrinho. O resto da conversa foi em venezuelano e a despachar «porque tenho as mãos sujas e temos de continuar o trabalho».

Depois de quinze minutos de espera que o engaço seja espremido, o pessoal vai para a repisa. Uma tarefa que exige mais uns copos de vinho devido ao excessivo cansaço que «isto provoca». Às tantas e perante os nossos olhares, os que ali estão lá vão dizendo que num dia de vindima «acabamos sempre com uma nesga (leia-se bebedeira)».

Mas a vindima são «só três dias e a gente nunca vai para casa a cair. Como gastamos muita energia também podemos tomar mais um copito que isto desaparece rapidamente do corpo», conta um dos jovens que ali participa.

António Câmara, o dono dos terrenos e do lagar onde a nossa equipa de reportagem acompanhou esta árdua tarefa, conta-nos, enquanto acompanha, de perto, e com alguma nostalgia, todo o movimento dentro e à volta do lagar, «que antes, a loja ficava cheia de pipas e a festa ainda era mais demorada e rija». Outros tempos. Nessa altura, «eu não tinha bicos de papagaio e ainda sentia forças nas pernas para ir para a latada. Agora, fico aqui a apreciar tudo mas não posso ajudar...».

Terminada a “repisa”, António Câmara vai medir o grau do mosto. «13 graus e meio. Nada mau. Aliás, mesmo bom», dizem os que percebem da “matéria”.

Segue-se, de imediato, a colocação do “mosto” dentro das pipas previamente lavadas e preparadas para receber este “precioso” líquido que ali vai ficar durante um ano até atingir a maturidade suficiente para ser consumido.

«Vai mais uma pinguinha?», pergunta Alberto Sousa, o emigrante que veio, de propósito, da Venezuela, para assistir à vindima. «Bote lá», responde um dos elementos do grupo.

A vindima, pisa e repisa deste dia está concretizada. Mas a festa ainda não terminou.

A apanha continua até ao cair da noite para adiantar trabalho para o dia seguinte. Assim que começar a anoitecer, os vindimadores vão enfrentar o mar rebelde e tomar «uma banhoca. «Segue-se o jantar até o sabe-se lá... E amanhã, pelas 8 horas, cá estaremos outra vez nesta trabalheira», prometem.

 
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