O anúncio português mais belo do ano é o da Adega Mayor na sua versão ao baixo, alargando a paisagem alentejana por duas páginas.

O anúncio tem o bom gosto de nem mesmo referir o nome do arquitecto do magnífico edifício. Com a sua implantação num daqueles pequenos altos suavíssimos da planície alentejana, o alongamento da adega em muros cegos lança-a na paisagem como se ali estivesse desde sempre. A fotografia escolhida atira o edifício num eixo diagonal completado em equilíbrio com uma nuvem etérea que sugere um círculo ou uma espiral e fornece linhas arredondadas à imagem, ligando-as à paisagem e à construção formadas por rectas. Assim, a sugestão de infinito ressalta não só das formas rectangulares e circulares como da composição geométrica obtida pelo ponto de vista do artista fotográfico.

Na sua aparente simplicidade, aberta pelo límpido céu azul na esquerda alta, a fotografia inclui ainda três sobreiros e a vinha nova, identificando a paisagem em definitivo e sublinhando a intervenção humana e seu objecto principal: vinho.

Os elementos adicionais do reclame fornecem os mesmos dois elementos constantes na fotografia: a intervenção na paisagem (o edifício, a plantação), e o seu objecto (o vinho). Nesse sentido, aparece em primeiro lugar, do lado esquerdo, a frase "Desenhar a paisagem."

O texto adjunto corria o risco de uma retórica fútil, mas soube sublinhar a categoria do edifício de Siza Vieira sem o referir, preferindo, correctamente, induzir no leitor e observador o processo criativo de algo de novo e de qualidade. É tão raro encontrar um texto deste calibre que vale a pena reproduzi-lo na íntegra: "Olhar medir, pensar, traçar. Encontrar a harmonia, a ligação perfeita entre o homem e a natureza. Enquadrar, fazer parte do que nos rodeia, sem choque, sem mácula. Tirar o melhor de cada forma, de cada linha. Projectar. Construir. Assim se desenha uma adega, assim se desenha um vinho."

Como se lê, o processo criativo da arquitectura integrada e a sua inauguração transmitem-se na última frase para a apresentação do novo vinho – em "ligação perfeita", para citar o próprio texto. O vinho, produto da natureza e do homem, é uma construção como o edifício de Siza Vieira. O vinho é desenhado. A conclusão lógica está, então, no lado direito do anúncio, sob o nome Adega Mayor: "Desenhar o vinho" (teria ficado bem o ponto final na frase, tal como na frase "Desenhar a paisagem"). O vinho, como a adega, desenha-se. A qualidade da arquitectura transfere-se para o produto (e, já agora, para o anúncio).