Um é alto, magro e algo reservado. O outro é baixo, tem uns quilitos a mais e é extrovertido. São, respectivamente, Francisco Barão da Cunha e José Oliveira de Azevedos e dão a cara por uma loja que os enófilos de Lisboa, e mesmo de outros pontos do País, conhecem há mais de dez anos, onde compram os melhores vinhos portugueses, onde encontram sempre o conselho de um dos dois sócios.
A loja é a Coisas do Arco do Vinho e abriu fez dez anos em 27 de Setembro, no Centro Cultural de Belém. A meio desta década de existência, o êxito era tal que decidiram dobrar o espaço da loja, mesmo assim pequena para albergar os vinhos de todos os produtores que gostariam de marcar presença nas suas prateleiras de madeira escura.
"Nunca me teria metido nisto se não tivesse encontrado a pessoa certa para sócio", assegura Barão da Cunha. Oliveira de Azevedo diz o mesmo. Mas não se julgue que este perfeito acordo que existe entre os dois deriva de alguma amizade de infância ou companheirismo de estudos. De facto, eles só se conheceram bem pouco antes de se lançarem neste empreendimento, numa idade em que a grande maioria das pessoas procura o descanso da reforma.
O mais velho é Oliveira de Azevedo, nascido em Braga em 1935. Barão da Cunha veio ao mundo dois anos depois, em Lisboa. Ou seja, os dois rondavam os 60 anos quando decidiram iniciar vida nova no comércio e hoje, aos 70, nem pensam em parar.
O pai de Oliveira de Azevedo já se tinha reformado dos Caminhos de Ferro de Moçambique quando ele nasceu. A mãe era professora primária. Fez o liceu em Braga, tentou Direito em Coimbra um pouco por "imposição" de um tio advogado, desistiu, foi para Angola fazer a tropa, casou com uma lisboeta que o fez vir para a cidade de onde nunca mais saiu, tirou Sociologia no ISCTE, trabalhou na área de Recursos Humanos de várias empresas.
Já Barão da Cunha é filho de um oficial da Aeronáutica que morreu num acidente de avião quando ele tinha dois anos. A mãe era empregada da Loja das Meias. Fez o Colégio Militar e cumpriu missões em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola. Esteve um período afastado do serviço militar, quando trabalhou em empresas na área de informática, e seria reintegrado depois do 25 deAbril, passando à reserva em 1988, como coronel.
"Só nos tínhamos conhecido vagamento quando os dois estivemos na Sociedade Central de Cervejas", conta Oliveira de Azevedo. "Depois, lá para 1995, reencontrámo-nos nuns jantares que a Revista de Vinhos promovia e descobrimos que tínhamos a paixão comum pelo vinho."
O entendimento foi imediato. Queriam uma loja de vinhos como não havia na altura em Lisboa, moderna, climatizada, voltada para as gamas mais altas, com atendimento especializado, que promovesse provas, onde também fosse possível encontrar acessórios como copos, saca-rolhas ou termómetros, com uma secção de livros e revistas, com outra de mercearia fina... O local e o nome foram rapidamente definidos, os horários alargados com abertura aos domingos e fecho às terças-feiras. |