O risco é o da iminente destruição da paisagem. O turismo no Douro exige uma paisagem impoluta e autêntica, núcleos urbanos preservados, um tecido cujos poros sejam atravessados pela qualidade. Mas, se todos o reclamam, pergunte-se quem são os actores? Apesar dos muitos planos delineados, os grandes responsáveis pela gestão da paisagem do Vale do Douro são os autarcas. Sejamos, então, claros: quem, na sua posição, ousaria justificar junto dos eleitores a rejeição de uma nova casa ou estabelecimento, a extensão de um armazém ou a construção de uma "fabriqueta" por não serem esteticamente adequados ou por agredirem a paisagem vista a partir do rio, abdicando assim de interesses e receitas concelhias em prol de lógicas "integradas" que, na prática, só indirecta e tardiamente beneficiam o seu concelho? Pelo que, ao contrário de muitos, diria que os autarcas do Douro têm resistido razoavelmente e com sabedoria a estas tentações naturais.
Há 250 anos, perante a potencial perda de um bem excepcional e em nome do interesse nacional, Pombal definiu uma política clara e detalhada, com regras, instituições e mecanismos de controlo. Hoje, a história repete-se Portugal precisa de uma política para o Douro, dotada de responsáveis, instrumentos e meios, capaz de combinar turismo e desenvolvimento; para o que as recentes decisões governamentais nesse sentido têm de configurar uma verdadeira prioridade política - enquanto persistirmos na ausência de regiões e tivermos de viver em centralismo, que este seja ao menos iluminado.
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