"Vintage" do grupo Fladgate quase esgotados após dois meses na prateleira
Desde 1994 que os topos de gama do vinho do Porto não tinham tanta procura. Apesar do aumento dos preços em 15% face à última declaração, a proprietária das marcas Taylor?s, Fonseca e Croft já está "quase sem vinho para vender".
Os vinhos do Porto da colheita “Vintage” de 2011 engarrafados no final de Julho pela The Fladgate Partnership (TFP) começaram a sair das caves de Vila Nova de Gaia na última semana de Agosto. Menos de dois meses depois, a empresa já está “quase sem vinho para vender”, admitiu ao Negócios fonte oficial do grupo, estabelecido em Portugal há 320 anos.
Das dez mil caixas de 12 garrafas com a marca Taylor’s, só restam 283. As seis mil caixas – cada uma contém um total de nove litros – da Fonseca já foram todas vendidas. E sobram apenas perto de mil das cinco mil caixas com a marca Croft. Esgotado está também o “mais raro e coleccionável” Vintage Vargellas Vinha Velha – com produção limitada a quatro pipas, o equivalente a 3.720 garrafas – apesar de ser vendido ao preço unitário de 265 euros.
"Se, por um lado, podemos dizer que uma declaração ["Vintage"] não é financeira, pois depende da Natureza, também é verdade que ela é financeira pois, para nós, vale cerca de 7,5 milhões de euros", adiantou a mesma fonte, garantindo ser a maior procura desde 1994. De facto, o efeito destas colheitas nas contas da empresa não é novo: os "Vintage 2009" também tinham contribuído para quase duplicar os lucros (então para 4,5 milhões de euros) dois anos depois, quando foram colocados à venda.
Em relação a essa última declaração Vintage, de 2009, a empresa liderada por Adrian Bridge decidiu este ano aumentar os preços entre 12% a 15%. E foi com estes topos de gama (como sempre proclamados ao mundo no dia de São Jorge, festejado a 23 de Abril) que conseguiu entrar agora em novos mercados, como o Líbano, e crescer noutros, como a Coreia do Sul, Singapura e Austrália.
Em entrevista ao Negócios, publicada em Junho, o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto destacou que, desde os anos 1990, por influência sobretudo dos mercados do chamado novo mundo mas também por pressão financeira, as empresas estão a colocar no mercado os “Vintage” cada vez mais novos, em vez de os guardarem durante alguns anos como reserva. Já sobre a importância económica destes anos de excepcional qualidade, Manuel Cabral sustentou que este é “um sector que tem de vender cada vez melhor, encontrar novos mercados e novos públicos” e que a declaração de um ano "Vintage", como foi o de 2011, "leva a uma projecção absolutamente invulgar" deste produto único em todo o mundo.
Categorias especiais valem 2/3 das vendas
Em 2012, as vendas de vinho do Porto da TFP cresceram 1%, para 53,4 milhões de euros – tem também área da distribuição, em que tem o maior grossista de bebidas da zona Norte, a área do turismo em que gere o hotel vínico Yeatman e rentabiliza as caves. No “core business" do vinho do Porto, o grupo tem uma exposição de apenas 9% ao mercado nacional e vende para perto de 80 países. Ainda assim, mais de metade (60%) dos compradores dos seus vinhos falam inglês como língua materna: o Reino Unido continua a ser o melhor mercado (32% do total), seguido pelos Estados Unidos (17%) e o Canadá (10%).
Empregando no total perto de 530 pessoas, estas três marcas do grupo representam 12% do volume e 15% do valor das vendas do sector do vinho do Porto, embora o seu peso relativo no mercado suba acima dos 30% quando são considerados apenas os vinhos "Premium" (Vintage, LBV, colheitas e reservas), em que está especializado e que representam dois terços das vendas em volume da própria empresa.
Em todo o sector do vinho do Porto, estas categorias especiais – vendidas a um preço superior – ainda valem apenas 20% das vendas em volume. Em euros, a facturação do sector recuperou em 2012 parte da quebra de 4% que tinha registado no ano anterior, subindo as vendas de 353,4 milhões para 359,1 milhões de euros.