Adegas algarvias juntam-se para evitar falência e lançar vinho com marca Algarve
Adega de Lagos já foi vendida, a de Lagoa está à espera de comprador, mas o Ministério da Agricultura acredita que o Algarve ainda é chão que dá uvas e cedeu terreno para nova adega.
As adegas cooperativas de Lagos e Lagoa vão fundir-se para tentar a sobrevivência e recuperar a imagem do vinho do Algarve. O Ministério da Agricultura apoiou a iniciativa, cedendo um terreno de nove hectares, em Lagoa, onde será construída a nova adega. O projecto ainda não está elaborado, mas os dirigentes associativos pensam que ainda este ano poderá arrancar. Para começar, serão precisos pelo menos cinco milhões de euros.
Apesar da cavalgada na ocupação urbanística dos bons solos agrícolas com urbanizações, o Ministério da Agricultura entende que no Algarve ainda há chão que dê uvas. Segundo um estudo elaborado pela Direcção Regional de Agricultura do Algarve, as adegas cooperativas de Lagos e Lagoa representam, em conjunto, cerca de 800 hectares de vinha, e o ano passado produziram próximo de três milhões de litros de vinho. Porém, às dificuldades de escoamento da produção juntou-se um acumular de dívidas que atingiu os 3,6 milhões de euros.
Para evitar o encerramento da adega de Lagos, quem salvou a cooperativa foi a associação de municípios Terras do Infante (Lagos, Aljezur e Vila do Bispo) que comprou a dívida a uma instituição financeira - 1,6 milhões de euros. A operação, afirmou o presidente da direcção da cooperativa, Pedro Gonçalves, gerou "uma mais-valia de um milhão de euros, para investir na nova cooperativa". Em Lagoa, o património da adega está à venda por oito milhões de euros.
O director regional de Agricultura do Algarve, Castelão Rodrigues, defende a necessidade de criar uma "marca de vinho regional - Algarve". No seu entender, "estão criadas as condições para que a região surja no mercado com uma imagem de vinhos de qualidade".
No mesmo sentido, o dirigente da adega de Lagos, anunciou que já conta com dois enólogos, para o lançamento de três vinhos regionais, que se encontram a concurso em Londres e Bruxelas, e que deverão estar no mercado ainda este mês - um deles, licoroso, chama-se "Terras do Infante". Sobre a fusão das cooperativas, diz que "não fazia sentido competir no mesmo espaço". As adegas distam 18 km entre si.
O presidente da adega de Lagoa, José Pina, admite que a junção das cooperativas foi ditada por uma questão de "sobrevivência". As negociações decorrem há cerca de ano e meio. A deslocação do ministro da Agricultura, Jaime Silva, ao Algarve, na semana passada, selou o acordo. No entanto, lembra precisará de ajuda. "Só para montar a infra-estrutura são necessários cinco milhões de euros."
Castelão Rodrigues entende que o projecto é "prioritário" nos investimentos para a região, uma vez que "permite valorizar um produto com potencialidades de escoamento local, por via do turismo".
Os vinhos do Alentejo, a partir dos anos 70, ocuparam grande parte do espaço comercial dos vinhos algarvios. De então para cá, a monocultura do turismo quase asfixiou todos os outros sectores de actividade, bem assim como os terrenos.
Os armazéns e o terreno da adega de Lagoa estão à venda por oito milhões de euros. Trata-se de um espaço de quatro hectares no centro da cidade, a ser disputado pelos urbanizadores. A cooperativa, afirmou José Pina, já está a receber propostas. Sobre o que poderá vir a ser construído o dirigente associativo remete a questão para o Plano Director Municipal. Com este negócio tenciona pagar os cerca de dois milhões de euros aos sócios, e partir para a nova etapa, juntando-se à adega de Lagos, na construção da futura adega.