Vendas de Vinho do Porto em quebra este ano impõem aposta na promoção
As vendas de Vinho do Porto caíram 2,1 por cento em volume e 1,5 por cento em valor até Outubro e deverão encerrar o ano negativas face a 2005, disse hoje à Lusa a directora executiva da associação do sector.
De acordo com Isabel Marrana, da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), nos primeiros nove meses do ano foram vendidas mais de 7,6 milhões de caixas de nove litros, no valor de 298,3 milhões de euros.
Segundo salientou, estes números - a apresentar quarta-feira num encontro com jornalistas - confirmam a necessidade de uma forte aposta na promoção do Vinho do Porto, quer em alguns mercados europeus tradicionais, actualmente em quebra, quer em mercados emergentes como os EUA e a Ásia.
Para o efeito, a AEVP diz aguardar o apoio, desde 2005, do Programa de Incentivos à Modernização Empresarial (Prime) e do ICEP a um programa promocional orçado em dois milhões de euros, que pretende lançar já em 2007.
Para meados do próximo ano, a associação aguarda também os resultados de um plano estratégico para o sector, a encomendar pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) e cujo concurso público está actualmente em fase final.
"Aguardamos este plano com alguma expectativa", afirmou Isabel Marrana, salientando que será "importante para uma actuação colectiva" dos vários agentes envolvidos.
No encontro de quarta-feira, a AEVP irá também manifestar a sua preocupação com a reforma, em preparação, da Organização Comum do Mercado (COM) do Vinho, no âmbito da qual se admite o fim radical das ajudas à destilação.
Essencial à produção de aguardente, usada na elaboração do Vinho do Porto, a destilação era até agora subsidiada, de forma a garantir algum rendimento aos produtores excedentários, mas representa elevados custos para, no fundo, destruir vinho.
"É um facto que há alguns subsídios à destilação que pervertem a política vitícola, porque incentivam a criação de excedentes, mas no caso do Vinho do Porto trata-se de aguardente que é incorporada no produto", explicou Isabel Marrana.
Segundo adiantou, o fim dos subsídios à destilação implicaria um aumento de 11/12 por cento no preço final do Vinho do Porto, "muito difícil de ser repercutido no consumidor" pois não há no sector qualquer "elasticidade" a este nível.
Depois de já ter recebido em Portugal, e levado numa visita à região do Douro, a comissária europeia responsável pela reforma da OCM do Vinho (Mariann Fischer Boel), a AEVP diz ter vindo a "trabalhar muito" com o ministério da Agricultura para salvaguardar os interesses do sector nesta matéria.
"Estamos confiantes, mas até lá todo o 'lobby' que possamos fazer é pouco", afirmou a directora executiva da AEVP.
Também "muitíssimo preocupante" é, para a associação, o dossiê ligado ao álcool e saúde, assim como o acordo em discussão entre a União Europeia e os EUA "que poderá permitir a entrada no espaço europeu de marcas americanas que possuam na sua composição a palavra 'Port'".
"Há países como a Espanha e França que já estão a condicionar a promoção dos vinhos por causa do dossiê saúde e álcool, quando o que está em causa é apenas a promoção de um consumo responsável e moderado", disse Isabel Marrana.
Já o 'Wine Accord', em negociação com os EUA, tem sido marcado pela recusa dos norte-americanos em abdicar do uso, por parte de algumas das suas marcas próprias de vinho, das denominações de origem europeias Porto (Portugal), Champagne (França) e Xerez (Espanha).
Até agora impedidas de entrar no espaço europeu, estas marcas podem, no âmbito deste acordo, vir a poder fazê-lo, o que representaria uma "séria ameaça" aos vinhos europeus.