Marcas dos importadores travam queda do vinho do Porto
O vinho do Porto resiste à crise, mas regista uma queda acentuada nas categorias especiais. Na próxima vindima, os produtores vão sofrer com o corte de umas 10 mil pipas no benefício.
As marcas dos importadores (BOB-Buyers Own Brands) estão a travar a queda das vendas de vinho do Porto. Em volume, as vendas fecharam o 1º semestre com uma redução contida de 5,3% (8% em valor), mas entrando com o ano-móvel, o desempenho (-1,7%) revela uma resistência notável à actual conjuntura depressiva. O champanhe e os vinhos de Bordéus, por exemplo, registam perdas da ordem dos 25%.
O sinal de alarme reside na estrutura de vendas com as categorias especiais a revelaram uma queda acentuada (15%), afectando o preço médio unitário (4 euros). O desempenho favorável das BOB traduziu-se em verdadeiras explosões na Alemanha (duplicou), Dinamarca (quadriplicou) ou Noruega (56%).
O mercado português não foge a esta tendência. As marcas da distribuição crescem 18%, o segmento premium cai 30%. A Bélgica, o segundo maior mercado, é dos raros em que alia o crecimento BOB (8,3%), com o das categorias premium (15,2%). As marcas BOB sobem na generalidade dos mercados valem 36% do volume vendido (29% em valor), batendo largamente o segmento premium. Estas catgeorias representam agora um quarto das receitas do sector, quando há ano o seu contributo era superior a um terço (35%).
Os dois mercados (Reino Unido e Estados Unidos) tradicionais consumidores dos vinhos mais caros são os mais atingidos com a sova que o consumo global está a levar. As casas inglesas como os Symington ou a Taylor's são os que mais sofrem com a evolução destes mercados. O sofrimento é agravado pela desvalorização acentuadas das respectivas moedas (libra e dólar). O Canadá e a Suécia representam, por motivos específicos, focos de preocupação. Os monopólios estatais mudaram de política e decidiram reduzir os stocks ao mínimo. Esta tendência já se registara no fim de 2008, o que abre a esperança de alguma recuperação no 2º semestre.
"O sector revela uma resistência espantosa face à crise global e o desempenho reflecte mais a percepção compradores do que a evolução do consumo" refere Isabel Marrana, directora da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP).
Depois de 2008 ter sido o pior ano da década, a queda de vendas forçará a uma redução do benefício à lavoura na próxima vindima. O efeito multiplicador da lei do terço, num mercado em queda, é perverso para os produtores. Por cada pipa a menos que o comércio vende, pode prescindir da compra de três. Os exportadores alegam que têm vinho em excesso por intervenções passadas para escoar produção e benefício exagerado em anos anteriores. As primeiras indicações fornecidas pelo comércio apontam para um volume de benefício à volta das 110 mil pipas, muito inferior às 123 mil pipas da última vindima. É provável que, em ano de crise e eleições, a solução final atenue o corte no benefício, mas este será mais um ano difícil para os pequenos produtores do Douro.