História

  • 2000 a.C.
  • Séc. VIII
  • Séc. XV
  • Séc. XVIII
  • Séc. XIX
  • 1900
  • 1986

Primórdios do cultivo da vinho

Tartessos | 2 000 anos a.C.

Acredita-se que os Tartessos foram o povo que cultivou a vinha pela primeira vez na Península Ibérica. O vinho seria utilizado como moeda de troca no comércio de metais.   

Fenícios | Séc. X a.C.

Os Fenícios procuravam prata e estanho nos estuários do Guadiana, Sado, Tejo e Mondego. As ânforas com vinho eram um dos produtos oferecidos ao povo ibérico em troca dos metais. Os Fenícios deverão ter sido responsáveis pela introdução de novas castas utilizadas na produção de vinho.   

Gregos | Séc. VII a.C.

Os Gregos ocuparam a Península Ibérica e desenvolveram a vitivinicultura. Nesta fase as técnicas de elaboração do vinho foram desenvolvidas, existindo vestígios dos instrumentos utilizados em Alcácer do Sal.

Celtas e Iberos | Séc. VI a.C.

Os Celtas instalam-se na Península Ibérica. Eram um povo com conhecimentos vitícolas: já plantavam vinhas, que trouxeram para a Península Ibérica. Alem disso, é possível que tenham introduzido novas técnicas de tanoaria. Mais tarde, os Celtas fundem-se aos Iberos formando o povo Celtibero.

Os Romanos e os Povos Bárbaros

Romanos | Séc. II a.C.

Os romanos conquistaram a Península Ibérica e foram responsáveis por grandes desenvolvimentos na vitivinicultura. Introduziram a plantação de novas castas e melhoraram as técnicas de cultivo da vinha, nomeadamente a poda. O vinho era enviado para Roma, já que a produção própria não era suficiente para responder à procura. 

Povos Bárbaros | Séc. VII d.C.

Após sucessivas batalhas os povos bárbaros, nomeadamente os Suevos e Visigodos, conseguiram expulsar os Romanos da Península Ibérica. Os povos bárbaros adoptaram a religião e costumes do povo romano, entre os quais, o vinho, mas não desenvolveram as práticas de cultivo da vinha. O vinho era ainda utilizado nas cerimónias religiosas.

 

Os Árabes

Séc. VIII-XII d.C.

A invasão da Península Ibérica pelos povos muçulmanos transforma a vitivinicultura. A religião muçulmana não admite o consumo de bebidas fermentadas, entre as quais o vinho, mas a produção e consumo de vinho entre os cristãos não foram proibidos. A agricultura era muito importante na economia árabe, por isso a cultura do vinho não podia ser dispensada. Além disso, os vinhos eram utilizados como moeda de troca nas exportações. 

Os Almorávidas e Almoadas que dominaram a Península Ibérica nos séculos XI e XII, foram responsáveis por um retrocesso na vitivinicultura, pois eram muito rígidos a nível religioso.

A Reconquista Cristã

Século XII-XIV

A Reconquista Cristã corresponde à expulsão dos muçulmanos do território da Península Ibérica. As batalhas travavam-se em todo o território e destruíram muitas vinhas. 

Em 1143, D. Afonso Henriques funda o condado Portucalense e em 1249 o território português está livre da ocupação muçulmana. Durante esta época, o poder régio fez a doação de várias terras onde o cultivo da vinha era obrigatório. Desta forma, as populações fixavam-se às terras e a cultura da vinha ganhava relevância económica.

Com a instalação das Ordens religiosas, militares e monásticas, como por exemplo a Ordem de Cister, a área de cultivo da vinha foi amplamente alargada em território nacional.

No início do século XII as propriedades estavam na mão do clero. Eram cultivadas frutas e vinha. Nas terras pertencentes aos mosteiros de Cister, o cultivo da vinha era essencial e os monges foram responsáveis por melhorias na produção de vinho. O vinho era utilizado nas cerimónias religiosas, vendido em feiras e exportado. O Moscatel de Setúbal era muito apreciado no norte da Europa.

Os Descobrimentos

Século XV-XVII

A agricultura era a base de subsistência da economia portuguesa até se iniciar a expansão marítima. As caravelas e naus que partiam na diáspora transportavam vários produtos, um dos quais o vinho que lhes servia de lastro. O vinho era utilizado nas trocas comerciais com os povos do Oriente e do Brasil e aquele que não era vendido era devolvido aos produtores. O vinho fazia a viagem de regresso conservado em barricas, colocadas nos porões à mercê do movimento das ondas e, por vezes, sujeitas à exposição solar. O vinho envelhecia durante a viagem, especialmente sob o efeito do intenso calor a que era sujeito ao passar por duas vezes o Equador. Estes vinhos ficaram conhecidos por “Roda” ou “Torna Viagem” e, uma vez, em terras lusas eram vendidos a preços muito elevados.

Por volta do século XVI, Lisboa era o maior centro de consumo e distribuição de vinho. A partir de Lisboa, o vinho português era distribuído por todo o Império.

O Marquês de Pombal

Século XVIII

O século XVIII ficou marcado pela figura do Marquês de Pombal. O Marquês colocou em prática uma série de medidas que incentivaram o desenvolvimento na vitivinicultura na região do Douro.

O crescimento da viticultura marcou o século. Em 1703 assinou-se o Tratado de Methuen, onde a Inglaterra concedia um regime especial aos vinhos importados de Portugal chegando mesmo a embargar os vinhos espanhóis e franceses.

O comércio do vinho estava concentrado no norte do país e era dominado pelos ingleses instalados na cidade do Porto. Com o aumento das exportações, os produtores começaram a preocupar-se mais com a quantidade do que com a qualidade arruinando o comércio dos vinhos portugueses.

Para combater a crise, o Marquês de Pombal funda a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, através do alvará régio de 10 de Setembro de 1756. A Companhia fiscalizava a qualidade dos vinhos, determinava os preços e impunha regras na produção e comércio. Em 1756 iniciou-se o processo de demarcação da região de produção dos vinhos no Douro, que viria a ser uma das primeiras regiões demarcadas do mundo. O Marquês instaurou outras medidas que regularam a vinha, entre as quais a obrigação da plantação separada das castas tintas e brancas.  

No final do século XVIII a maior parte da exportação dos vinhos era sustentada pelos vinhos generosos e licorosos, especialmente o Porto, o Madeira e o Moscatel.

É neste século, em 1712 que se publica o primeiro livro sobre a vinha e o vinho português, por Vicencio Alarte.

As doenças e a investigação

Século XIX

Na segunda metade do século XIX, a vinha é atacada por pragas e doenças responsáveis pela diminuição da produção de vinho.

Por volta de 1851, o oídio manifesta-se nas vinhas. Esta doença é visível nos bagos das videiras: ficam cobertos de um pó branco e acabam por cair. Registaram-se elevadas quebras de produção. Mais tarde, descobriu-se que a doença poderia ser combatida pulverizando as videiras com enxofre. 
Em 1853, foi a vez do míldio atacar as vinhas. Nesta altura, em França já se conhecia o tratamento para esta doença (cobrir as vinhas com sulfato de cobre e cal), por isso as suas consequências em Portugal não foram muito graves. 

A filoxera chega a Portugal através da região do Douro em 1867 e rapidamente devasta vinhas em todo o país. Este insecto ataca a raiz da videira para se alimentar do seu suco, provocando a morte da planta. A única região que escapou a esta praga foi Colares, porque o insecto que provoca a filoxera não se desenvolve em solos arenosos como os desta região. A forma de prevenir esta praga foi descoberta, quando se verificou que as videiras americanas eram resistentes a esta doença. As videiras europeias passaram a ser enxertadas com raízes americanas, prática corrente ainda hoje.

Em 1866 constituiu-se uma comissão encarregada de fazer a avaliação do estado das regiões vitivinícolas e sua resposta em relação às doenças. A comissão era composta por António Augusto de Aguiar, João Inácio Ferreira Lapa e o Visconde de Vila Maior.

Em 1874, António Augusto de Aguiar foi nomeado Comissário Régio na Exposição de Vinhos de Londres. A partir daí, viajou por outros países europeus onde recolheu a experiência para avaliar o estado do sector vitivinícola nacional. Em 1875, António Augusto de Aguiar foi o responsável pelas “Conferências sobre Vinhos” no Teatro D. Maria e no Teatro Trindade

As novas regiões e o corporativismo 

1900-1907

Cincinnato da Costa publica em 1900 a obra "Le Portugal Vinicole" que foi apresentada na Exposição Universal de Paris. A obra fazia considerações sobre vitivinicultura portuguesa: tipos de vinhos portugueses, sugestões de divisão de regiões vinícolas e castas preferenciais para cada região. Além disso, sugere medidas para o governo combater a crise vivida pelo sector vinícola.

Foi em 1907, vigorava a ditadura de João Franco, que se iniciou a regulação do sector vinícola. Os limites da região demarcada do vinho do Porto e Douro foram redefinidos e demarcaram-se outras regiões de produção de vinhos: Madeira, Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde. 

1926-1974

O Estado Novo era um regime corporativista que criou diversos organismos para a regulação da produção agrícola. A Federação dos Vinicultores do Centro e Sul foi um deles e tinha como objectivo regular o mercado de produção vinícola.

Apesar disso, foi lançado por parte do regime uma campanha que proibia a plantação da vinha e estimulava a plantação de trigo. Esta campanha vigorou desde 1929 até 1937, altura em que se percebeu que esta cultura não iria ter sucesso em Portugal. O Alentejo foi a região que mais sofreu com esta campanha, pois foram arrancadas inúmeras vinhas.

Em 1937 foi criada a Junta Nacional do Vinho. Este organismo promovia o consumo de vinho no país, controlava a oferta, estabilizava os preços e armazenava os excedentes de produção. Nos anos 50 e 60 foram criadas adegas cooperativas com instalações de vinificação modernas em diversas zonas do país. Só as adegas cooperativas podiam comprar as uvas aos produtores, por isso as empresas privadas compravam o vinho já produzido. Esta situação foi a razão da diminuição da qualidade dos vinhos.

A adesão à CEE

1986- Actualidade

No início de 1980 e de acordo com as medidas de pré-adesão à CEE, o sector vitivinícola sofreu uma importante mudança no âmbito da sua organização. Estas transformações tinham como objectivo cumprir totalmente as regras da política agrícola europeia.

A adesão à CEE, hoje União Europeia, provocou grandes transformações na vitivinicultura portuguesa, nomeadamente na alteração dos métodos de produção e na preocupação com a qualidade do vinho. Foram aplicados fundos comunitários na modernização das adegas e na reconversão de vinhas.

A legislação comunitária obrigou à criação de áreas de Denominação de Origem Controlada (DOC) e à classificação qualitativa dos vinhos através das categorias V.Q.P.R.D., Vinho Regional e Vinho de Mesa.
Foram criadas Comissões Vitivinícolas Regionais: associações interprofissionais sedeadas em cada região DOC e responsáveis pela aplicação e regulação das normas aplicadas ao sector vinícola.

A Junta Nacional do Vinho foi substituída pelo actual Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo que reúne as exigências da política de mercado europeia. O IVV definiu os mapas vitivinícolas nacionais. A partir de 2002, existem 33 Denominações de Origem Controlada.

Apesar da enorme variedade de castas nacionais, foram introduzidas algumas castas estrangeiras nas plantações. Algumas conseguiram obter relativo sucesso, como por exemplo Chardonnay, Cabernet Sauvignon ou Syrah.