Após ter anunciado a sua saída da Sogrape, onde foi o responsável máximo pela elaboração dos vinhos durante 28 anos - incluindo o mítico Barca Velha -, José Maria Soares Franco já se encontra totalmente envolvido no seu novo projecto pessoal, no Douro, ao lado de João Portugal Ramos. Uma parceria que arrancou no dia 1 de Fevereiro e que, segundo os dois reputados enólogos portugueses, foi fruto “de um feliz acaso, de uma conversa que surgiu durante um jantar descontraído entre amigos”.
João Portugal Ramos, que sempre trabalhou por conta própria e é o maior accionista da Gestvinus (a «holding» que engloba a J. Portugal Ramos Vinhos, a J. Portugal Ramos Sociedade Agrícola, a Falua e a Consulvinus), tem actuado no Ribatejo e, sobretudo, no Alentejo, onde foi, nas últimas décadas, um dos principais responsáveis pela revolução qualitativa dos vinhos desta região. “Já há alguns anos sentia que a Gestvinus precisava de incluir vinhos do Douro no seu portefólio, e este foi o momento oportuno. O Douro tem produzido excelentes vinhos de mesa, que criaram uma forte apetência junto do consumidor, além de terem alcançado um bom destaque internacional”, afirma Portugal Ramos. Por outro lado, depois de tantos anos dedicados à Sogrape, José Maria Soares Franco sentiu o apelo de se entregar a um projecto de raiz: “Os anos passados na Sogrape foram de grande realização profissional, mas, a determinada altura, tive a sensação do dever cumprido, sentia que me faltava qualquer coisa… Optei por fazer uma coisa nova e diferente, que é o sonho de qualquer enólogo: fazer o seu próprio projecto de vinhos”. Uma aposta que o levou a adquirir uma “considerável percentagem” da Gestvinus, que não só o deixa “orgulhoso” como também o fará colaborar na elaboração dos restantes vinhos produzidos pela «holding».
Um projecto ambicioso
Em exclusivo para o Expresso, os enólogos revelaram mais pormenores sobre o ambicioso projecto. A aquisição de terrenos nas regiões do Cima Corgo e Douro Superior, destinados ao plantio de vinhas próprias, assim como a construção de uma adega fazem parte dos planos dos enólogos. Planos estes, incluídos numa primeira fase que durará cinco anos, cujo investimento será de 10 milhões de euros. “Já a segunda fase dependerá do que aprendermos com a primeira”, afirma João Portugal Ramos.
No entanto, a vindima de 2007 está garantida. O arrendamento de uma adega e a compra de uvas seleccionadas darão origem aos primeiros vinhos. Soares Franco explica ainda que ao longo dos próximos anos irão surgir, no mínimo, três tintos, um branco e, provavelmente, dois Portos, mais vocacionados para as categorias especiais. “É lógico que vamos produzir um vinho Premium, a nossa jóia da coroa, mas também achámos importante termos vinhos para níveis de preços e momentos de consumo diferentes, pensados para preencher lacunas de mercado”.
Ao nível das uvas, a aposta irá recair em castas tradicionais do Douro: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Francisca (para os tintos) e Viosinho, Arinto e Verdelho (para os brancos), já que ambos concordam que o melhor caminho para cativar o mercado internacional é dar a conhecer um vinho diferente, elaborado com castas portuguesas. No entanto, a utilização de castas melhoradoras estrangeiras poderá vir a ser uma realidade, caso “haja necessidade de evoluir para essa situação”. João Portugal Ramos adianta ainda que “50% da produção destes vinhos irá para o mercado internacional e a outra metade será direccionada para o mercado nacional”, uma estratégia que, aliás, já se pratica com os restantes vinhos da Gestvinus.
Apesar de ainda não terem descoberto os terrenos que idealizaram - no mínimo, 50 hectares que serão plantados ao longo dos próximos anos -, João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco já definiram o perfil dos futuros vinhos e até já pensaram em vários nomes, embora lhes falte ainda seleccionar e registar os melhores. “Em pouco tempo já fizémos muito e estamos bastante satisfeitos. Mas este é um projecto muito bem pensado, baseado em parâmetros de grande qualidade e, por isso, não temos pressa”, remata Soares Franco.
GESTVINUS: A caminho do G7?
Um dos factores que poderá fortalecer ainda mais a Gestvinus é a possibilidade da «holding» entrar no G7, o grupo dos sete que agrupa, neste momento, seis das 10 maiores empresas de vinhos de Portugal (Aliança, Aveleda, Bacalhôa, Herdade do Esporão, José Maria da Fonseca e Messias). “Tenho um enorme respeito pelo percurso e trabalho do João Portugal Ramos, mas temos vários candidatos e ainda nada foi decidido. O grupo já marcou uma reunião de reflexão para o dia 23 de Março, mas haverá ainda outras reuniões”, afirma Paulo Amorim, presidente do G7. “A decisão será tomada até ao final do 1º semestre de 2007”.