Os produtores portugueses de vinho estão prestes a ver compensada a aposta, e o investimento de 250 mil euros, que fizeram há anos quando encomendaram ao gabinete de Michael Porter um estudo sobre o futuro do sector: o mercado dos Estados Unidos vai passar, a partir de 2010, a consumir mais vinho que o mercado francês. Segundo uma projecção dada a conhecer na Vinexpo - uma dos mais importantes associações do sector sedada em Bordeaut, França - entre 2005 e 2010 o consumo de vinho nos EUA vai crescer 19% para os 27,3 milhões de hectolitros, enquanto que em França será registada uma queda de 9,3%, para os 24,9 milhões.
Para Paulo Azevedo, presidente do G7 - que agrega sete das maiores companhias de vinho, neste momento transformada em G6 pela saída da Sogrape "os produtores portugueses já estavam à espera dessa alteração dos mercados e por isso têm investido no aumento das exportações para o mercado dos Estados Unidos".
Uma das conclusões do estudo de Michael Porter apontava para a necessidade de as exportações para os EUA e para o Reino Unido serem incentivadas. A prova da justeza do conselho está no estudo agora divulgado.
E as exportações para aqueles dois mercados têm vindo a crescer: segundo dados do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), ainda para 2005, o mercado dos Estados Unidos tem sido dos que maiores crescimento tem apresentado, absorvendo vinhos no valor de 34 milhões de euros, o que colocava o país no quinto lugar do ranking. O Reino Unido seguia em terceiro, praticamente a par com o segundo (a Holanda), com 53 milhões de euros. O 'ranking', nessa altura, continuava contudo a ser liderado pelo mercado angolano, que absorveu vinhos no valor de 89 miIhões de euros. Entretanto, ao longo dos últimos dois anos, praticamente todas as entidades associativas nacionais - G7, Icep, Instituto do Vinho do Douro e Porto, etc. - têm lançado campanhas de divulgação dos vinhos nacionais nos Estados Unidos, quer destinados aos consumidores em geral, quer fazendo incidir as campanhas sobre os especialistas que formam a opinião do mercado. Um movimento que vai continuar a existir nos próximos anos.
Ainda segundo Paulo Amorim, é mais que provável que o consumo na Europa continue a ficar cada vez mais para trás, uma vez que "os países do Norte pressionam muito para que as campanhas contra o consumo continuem a ser lançadas".
A venda de vinhos tem vindo a descerem vários mercados europeus, nomeadamente no que se refere aos países produtores, que são também tradicionalmente os que apresentam maiores níveis de consumo.
‘Per capita’, o mercado de maior consumo da Europa é o de Luxemburgo, mas o facto "deve-se a uma política favorável em termos de taxas aplicadas ao vinho, o que faz com que os consumidores dos países limítrofes, principalmente os alemães, se abasteçam naquele pequeno país", explicou Paulo Amorim. Para além de França, o mercado interno espanhol tem também sofrido um grande decréscimo de consumo, o mesmo se passando aliás com Portugal. Para mais, os produtores têm ainda que lidar com a concorrência dos vinhos do novo mundo.
Consumo em Portugal está a diminuir
O consumo de vinho em Portugal está a diminuir desde 2002, altura em que atingiu um pico de 5,5 milhões de hectolitros. Em 2005, último ano contabilizado pelo Instituto do Vinho e da Vinha, o consumo nacional ficou-se pelos cinco milhões. Mas, se o universo de análise for mais alargado, as reduções são ainda mais significativas. Assim, há cerca de 20 anos, o consumo nacional 'per capita' era de 110 litros; no ano passado ficou nos 42 litros. As causas, dizem os produtores e as associações, ficam a dever-se às imposições do Código da Estrada e à consequente substituição dos hábitos de consumo de vinho pelo de consumo de cerveja. Uma tendênca que se verifica em toda a Europa e de que resulta a diminuição do consume em França, mas também em Espanha, onde o consumo 'per capita' está nos 27 litros. Em Portugal, devido à alteração dos hábitos, o 'gap' entre consumo e produção tem vindo a acentuar-se, sendo, para 2005, da ordem dos 2,5 milhões de hectolitros (cinco milhões para o consumo e 7,5 milhões para a produção). As exportações têm compensado: venderam-se ao exterior, em 2005, 2,6 milhões de hectolitros.