José Maria Soares Franco, o responsável máximo pela enologia da Sogrape, vai abandonar aquele que é o maior grupo vinícola do país para iniciar um projecto pessoal no Douro em parceria com o enólogo alentejano João Portugal Ramos. A decisão já está tomada e o seu anúncio vai ser feito brevemente, embora a saída só deva ocorrer em Março do próximo ano.
"Não foi fácil sair da Sogrape. Foi preciso alguma coragem e confesso que saio com imensa pena. Mas saio em resposta a um desafio pessoal, para iniciar um projecto com a minha assinatura", disse ao PÚBLICO.
"Herdeiro" de Fernando Nicolau de Almeida na elaboração do Barca Velha, o mais famoso vinho português, José Maria Soares Franco estava na Sogrape há 28 anos - entrou na empresa com 24 anos. Foi responsável directo pelo Barca Velha de 1991, 1995 e 1999 (o último a ser lançado) e participou na elaboração do Barca Velha de 1981, 1982, 1983 e 1985. Da sua responsabilidade são também o Reserva Especial de 1989, 1990, 1992, 1994 e 1996, para além de muitos outros vinhos. Soares Franco está directamente associado à enorme aposta que a Sogrape fez no Douro Superior, com o desenvolvimento da Quinta da Leda, onde hoje são feitos os melhores vinhos do grupo, incluindo o Barca Velha; à expansão do grupo para a Argentina, com a aquisição da Finca Flichman; e também à entrada em força no sector do Vinho do Porto com a compra da A.A. Ferreira. Em declarações ao PÚBLICO, José Maria Soares Franco fez questão de sublinhar que não sai da Sogrape em litígio com ninguém e afasta também qualquer relação entre a sua decisão e a entrada de Joe Berardo na estrutura accionista do grupo. "A minha saída não tem rigorosamente nada a ver com qualquer problema na estrutura accionista. Estou muito reconhecido à Sogrape e aos seus responsáveis e saio por uma questão puramente enológica, que se prende com o desejo de iniciar um projecto com o meu nome", assegura. A decisão de sair, respondendo a um desafio lançado por João Portugal Ramos, ficou facilitada pelo facto de a Sogrape "estar bem, pujante e a atravessar um grande momento".
Sobre o novo projecto, o enólogo remete a divulgação de mais pormenores para um comunicado a ser preparado. Adianta, no entanto, que "talvez não seja um projecto grande, mas será de qualidade". Certo é que a aposta será no Douro Superior. "Toda a gente sabe a minha ligação ao Douro Superior", diz.
Com este projecto, concretiza-se também um velho sonho de João Portugal Ramos - um dos mais reputados enólogos nacionais, verdadeiro rosto da revolução vitícola operada nas últimas duas décadas no Alentejo -, que era fazer um vinho no Douro. O enólogo tem feito grandes vinhos em várias regiões do país, mas faltava-lhe no currículo a experiência de trabalhar no Douro. Uma falha que vai poder colmatar já na próxima vindima.