Um vinicultor com a força da família e da tradição
Bairrada. Aqui mora uma produtora vinícola familiar... mas com fama mundial: é a Quinta das Bágeiras, o projecto de vida de Mário Sérgio.
Em Fogueira (freguesia de Sangalhos, concelho de Anadia) mora uma produtora de vinhos com uma chama imensa. A Quinta das Bágeiras é um "projecto familiar" e com "respeito pela tradição". Mas isso não a impede de chegar longe: é cada vez mais vendida no estrangeiro e este ano foi incluída na lista das 100 melhores adegas do mundo, pela prestigiada revista norte-americana Wine & Spirits.
A Bairrada não é apenas sinónimo de leitão. Também é uma região de "bons néctares", como lhe chamam os especialistas. Tem vinhos como o "branco colheita 1994" ou o "tinto garrafeira 2005" da Quinta das Bágeiras a quem a Wine & Spirits deu pontuações acima dos 90 pontos (de 0 a 100) numa recente avaliação.
Por trás deste sucesso está Mário Sérgio, um apaixonado pela vinha, que deu nova vida às terras dos pais e dos avós. (tão apaixonado que, em 1995, teve de abdicar da lua-de-mel para fazer "um dos melhores vinhos tintos" da sua história). Embora a família já produzisse vinho há décadas, a marca Quinta das Bágeiras surgiu apenas em 1989. "Queria tornar a exploração viável economicamente, fazendo uma actividade de que gosto muito", recorda o produtor, que se lançou na vinicultura aos 23 anos. O início não foi fácil: "Nós pensamos sempre que temos o melhor vinho do mundo, mas é preciso vendê-lo. Eu, que nunca tinha vendido nem um prego, tive de me adaptar ao negócio". Mas o sucesso acabou por chegar.
Mário Sérgio ganhou o prémio de Jovem Agricultor Português logo no ano de estreia (e, outra vez, em 1991) e foi considerado o Agricultor do Ano em 2004. E, pelo meio, também os vinhos foram recebendo distinções como as da Wine & Spirits. "Esses prémios encheram-nos de orgulho e proporcionaram que nos conhecessem. O que é muito importante, porque o negócio do vinho vive da imagem", aponta o agricultor, ao DN.
Hoje, a fama está garantida. E Mário Sérgio não esquece o apoio da família. "Eu sou só o rosto mais visível deste projecto. A força familiar foi extraordinariamente importante para chegarmos aqui", assegura. Para prová-lo, dia 23, fará saltar a rolha de uma nova marca da Quinta das Bágeiras; um vinho branco, de 2009, que vai chamar-se "Pai Abel". "É uma homenagem à família, por me ter dado liberdade e acreditado em mim", diz o vinicultor.
De resto, além da família, há outro valor forte na empresa bairradina: a tradição. "Nós respeitamos muito a identidade da região, a sua casta predominante (a baga) e o processo tradicional de vinificação. Optámos por manter o estilo de vinificação dos tempos dos nossos avós, aperfeiçoando-o. E, felizmente, conseguimos impor-nos e angariar um número suficiente de clientes", afirma Mário Sérgio.
Com o passar dos anos, a Quinta das Bágeiras estendeu-se de 12 para 28 hectares de vinha. Mas, agora, o agricultor e empresário não pensa em ir muito além, sob pena de sacrificar a tradição. "Para manter este estilo não posso crescer muito mais em termos de volume. Fazendo uma quantidade maior de vinho, seria difícil manter o padrão de qualidade, utilizando o processo em lagar", descreve.
Assim, resta-lhe expandir-se em termos de mercado. Agora, as exportações valem cerca de 30% das vendas da Quinta das Bágeiras. E Mário Sérgio continua ambicioso, mesmo que prefira "ter mil clientes a comprar uma caixa, do que um a comprar mil caixas". "Quero posicionar-me entre as melhores marcas portugueses e consolidar o projecto em termos de exportação", estipula. Se assim for, manterá bem viva a chama de Fogueira - a chama que, em homenagem a um amigo, brilha nos rótulos da Quinta das Bágeiras.