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Francisco Borba: "Chegou a hora dos vinhos portugueses"

Revista NS | Aníbal Coutinho, fotografia Rui Coutinho | 30-01-2010 | Geral, Outros, Artigos
Francisco Borba:
Francisco Borba, engenheiro agrónomo e profundo conhecedor do mundo rural, é o novo homem-forte da ViniPortugal, a associação interprofissional destinada a promover os vinhos portugueses. Eis as suas «notas de prova» do encontro com a NS?, em que perspectiva o futuro importante e decisivo para os nossos bons líquidos.
Com que "cartão-de-visita" se apresenta à fileira nacional do vinho e aos nossos leitores?

Parte da minha carreira foi feita no Ministério da Agricultura, onde desempenhei vários cargos, entre eles o de director regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste e membro do Conselho Directivo do INGA. Integrei os III e IV Governos Constitucionais como secretário de Estado do Fomento Agrário. Ao longo da vida sempre mantive actividade como empresário agrícola, tendo começado com o meu pai, também ele engenheiro agrónomo, na gestão da nossa empresa agrícola. É aí que eu vivo, na margem direita da ribeira da Marateca, onde entre outras actividades cultivo trinta hectares de vinha. Fui presidente do Conselho de Administração da Sociedade Agrícola da Alorna (Almeirim) e esse tempo revelou-se uma escola intensa e gratificante para o conhecimento de todas as funções do vinho, desde a produção até à comercialização.

Ainda assim não voltou as costas ao chamamento da ViniPortugal…

Preocupo-me muito com a crise económica internacional que afecta o nosso país, cujos contornos e extensão ainda não considero bem diagnosticados. Por isso, apesar de retirado de todas as funções, para além da minha própria exploração, não fui insensível ao convite que me foi endereçado porque acho que todos nós neste momento devemos contribuir para a encontrar uma saída para a difícil situação actual. Agora estou neste projecto de alma e coração.

E qual o diagnóstico inicial da acção da ViniPortugal? Qual o ponto de partida para a sua presidência?


É conhecido que em Portugal existem várias entidades com funções de promoção do vinho, entre as quais o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, a Andovi e as Comissões Vitivinícolas Regionais (CVR). Neste quadro, entendo que devo concentrar o trabalho no acordo e compatibilização dos esforços e calendários de todas as entidades com vista a uma representação nacional comum, mais poderosa e coerente, para que não haja desperdício de recursos. Quanto à organização interna, pus como condição inicial a incorporação de um director financeiro. Agora procedemos a uma profunda reestruturação orgânica que passou, entre outras medidas, pela contratação de uma directora de marketing. Já foi apresentado aos associados da ViniPortugal o nosso programa de actividades e orçamento para 2010. No entanto espero que, ao longo do ano, possa trabalhar num plano estratégico de médio/longo prazo, peça essencial para a missão futura da ViniPortugal.

Os produtores portugueses participam amplamente nos eventos apoiados pela ViniPortugal?


Tenho a sensação de que existe um número estabilizado de agentes económicos que participam nas acções comparticipadas pela ViniPortugal. O nosso financiamento deriva de uma parte das taxas de certificação de vinhos que os produtores pagam às respectivas entidades certificadoras (as CVR) e de candidaturas a fundos comunitários como o QREN e a OCM. Chamo a atenção para o facto de não se tratar de iniciativas gratuitas para os produtores, a quem é exigida uma comparticipação ainda significativa. Isso explica que nem todos se associem às nossas iniciativas e introduz um factor de incerteza para o ano de 2010.

Os produtores portugueses estão contentes com o desempenho da ViniPortugal?


Nos questionários de avaliação a que tive acesso e através de conversas informais, devo dizer que, para além de reparos menores, o nível de satisfação é elevado.

O futuro risonho para o vinho português já começou?


Faremos em Janeiro um Fórum com os produtores nacionais para apresentar a calendarização de eventos de 2010. Infelizmente, este encontro vem atrasado. Também confesso que ainda falta a proposta de algumas acções mais inovadoras. No entanto, a fileira do vinho poderá ouvir o testemunho e as perspectivas de convidados internacionais que promovem, ao longo do ano, o vinho português nos mercados alemão, americano, angolano e inglês. As casas começam pelos alicerces: demos prioridade a aspectos relacionados com a gestão e organização interna. Vamos agora tentar desenvolver acções mais criativas e eficazes. Devo salientar que 2010 assistirá aos primeiros eventos internacionais nos quais a ViniPortugal e o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto aparecerão unidos. Isso acontecerá parcialmente na ProWein em Düsseldorf e de modo global na London Wine Fair.

Quais são os mercados de futuro para os vinhos portugueses?


Actualmente, os mercados identificados e trabalhados pela ViniPortugal são o Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Angola, Brasil, Países Nórdicos, Alemanha e o Eixo Asiático. Vem na linha do estudo estratégico realizado por Michael Porter e da sua revisão, em 2004. Queremos reavaliar este documento com brevidade e realinhar a nossa mira promocional. Podem, portanto, aparecer novos mercados-alvo que merecerão a nossa atenção e investimento.

Como é que acha que os mercados externos avaliam o vinho português?

Não tenho dados para falar de modo global mas, numa recente reunião com importadores em Nova Iorque, fiquei a saber que os vinhos portugueses beneficiaram com a crise financeira porque os americanos estão a comprar vinho mais barato e a descobrir a excelente relação qualidade-preço dos nossos produtos. Foi-me transmitido que chegou a hora dos vinhos portugueses. Acho que temos de ter uma atitude muito determinada, qualidade na informação e apresentação, grande consistência e coordenação dos nossos eventos, tolerância zero para a dispersão e o descontrolo das nossas provas. O grande défice que sinto é o desconhecimento de Portugal lá fora.

Uma vida na agricultura


Francisco Borba nasceu em Lisboa em 1941 e vive na Marateca (Palmela). Licenciado em Ciências Agrárias pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, entrou para os quadros do Ministério da Agricultura em 1970. Foi secretário de Estado do Fomento Agrário e das Florestas, nos III e IV Governos Constitucionais (1978-1979). Desempenhou ainda os cargos de director regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste e vogal do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Intervenção e Garantia Agrícola (INGA). Foi administrador da Sociedade Agrícola do Ameixial e a presidente do Conselho de Administração da Quinta da Alorna, em Almeirim. Além das funções na ViniPortugal, continua a explorar a sua empresa agrícola na Marateca, onde dedica uma atenção especial ao cultivo de trinta hectares de vinha.

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