Caves mostram vinho a pensar no turismo
Conhecer o percurso que as uvas da Bairrada fazem desde a vinha até ao copo foi ontem mais fácil. Nove adegas e caves aceitaram o repto do Turismo do Centro e da Rota da Bairrada e levaram centenas de curiosos ao seu interior.
A visita de 875 curiosos às caves e adegas da Bairrada prova que, para além do "néctar" que produz, a Bairrada esconde outro potencial: o turismo. "A Bairrada, que inclui os municípios de Águeda, Aveiro, Mealhada, Anadia, Oliveira do Bairro, Vagos, Cantanhede e Coimbra e tem cerca de 90 produtores vitivinícolas, já tem expressão, mas ainda não a notoriedade de outras regiões como o Douro ou Alentejo. Poucos sabem que a Bairrada é a principal produtora de espumante do país", diz Cristina Azevedo, coordenadora da Rota da Bairrada. "É importante dar a conhecer este património, a cultura, as adegas e caves que fazem parte da nossa história. Várias caves recebem visitas, mas poucas o fazem aos fim-de-semana e apenas uma aos domingos, que é quando os turistas procuram ". Algo que, espera, comece a mudar.
Do alto da Quinta do Encontro, um edifício moderno projectado pelo arquitecto Pedro Mateus, há vinha a perder de vista. A quinta possui 20 hectares e produz cerca de 200 mil litros de vinho por ano, incluindo branco, tinto e espumante. É a única adega que, por enquanto, está aberta a visitas aos domingos e, lá dentro, o espaço é direccionado inequivocamente para o turismo. É completamente redondo e, apesar de ter quatro andares, não possui degraus: foi inspirado na aparência das pipas e no funcionamento de um saca-rolhas.
A cave, onde repousam dezenas de modernas cubas de inox a temperatura controlada e centenas de barricas de carvalho francês, tem música ambiente e luz automática. É este local que no próximo Verão deverá acolher concertos de jazz, piano ou ópera. No rés-do-chão são promovidos workshops de cozinha, há uma loja de vinhos e até restaurante com vista panorâmica. Recebe mil visitantes por mês.
"A imagem que vamos criando, através destas acções ligadas ao enoturismo, é o melhor canal de comunicação para promover os nossos produtos. Cada visitante acaba por ser um embaixador da nossa marca", afiança João Carvalho, antes de descer para mais uma visita ao "santuário do vinho".
Alguns quilómetros ao lado fica a Adega Luis Pato, outro dos "embaixadores da Bairrada", com 350 mil garrafas produzidas anualmente. Recebe em média 150 visitantes por mês no Verão, entre "brasileiros, ingleses, alemães", mas apenas durante a semana. Ontem foi a excepção. Tal como as congéneres, a visita inclui a explicação sobre os processos de amadurecimento do vinho, uma descida à cave onde "estagiam os vinhos" e termina com uma prova.
Júlio Pestana, um advogado de 49 anos de Valença do Minho, não quis perder a visita e admite que gosta de "conhecer o processo, desde a apanha e fermentação até que chega ao consumidor. Gosto do ritual de saborear o vinho e de tudo o que o envolve". Já Diana Gonçalves, 23 anos, apenas bebe em "ocasiões especiais", mas, no fim da visita e já de flute de espumante na mão, garantiu ao JN que "foi interessante e muito bom conhecer".