A direcção da Casa do Douro (CD) pretende alienar 40 por cento do capital que detém na Real Companhia Velha (RCV), um negócio que servirá para pagar as dívidas ao Estado, superiores a 40 milhões de euros, relativos a impostos e dívidas avalizadas.
Cabe aos conselheiros do Conselho Regional de Viticultores da Casa do Douro (CRVCD) a aprovação das "propostas concretas" que serão apresentadas, sábado, pela direcção liderada por Manuel António Santos.
O presidente não quer, entretanto, revelar quem são os potenciais compradores das acções.
Sabe-se, no entanto, que a instituição duriense manteve vários contactos durante a semana, nomadamente com a própria Real Companhia Velha e o empresário Joe Berardo.
A reunião com o comendador madeirense decorreu ontem, em Lisboa, e à saída Manuel António Santos referiu apenas que o encontro decorreu na sequência de outros que se têm realizado nos últimos dois anos.
"Fizemos o ponto da situação e o senhor comendador afirmou-nos que ia estar no Douro, dias 16 e 17, para ver instalações, tomar contacto com vários possíveis investidores e prosseguir no caminho que o levará seguramente, e de acordo com as suas intenções, a investir de forma muito clara na região", salientou.
Manuel António Santos não diz se esse caminho levará o empresário à aquisição de vinhos ou à compra das acções da RCV, afirmando apenas que "passará seguramente por um papel útil à Região Demarcada do Douro".
"Vai haver seguramente a continuação de estudos que levem a que o comendador Joe Berardo possa ter condições para investir no Douro", sustentou.
Manuel António Santos referiu ainda que "todas as portas que se abrirem vão seguramente contribuir para resolver os problemas dos viticultores durienses e para a resolução dos problemas da Casa do Douro".
A Casa do Douro tem dívidas acumuladas ao Estado e à banca na ordem dos 125 milhões de euros.
A crise na instituição, que já dura há cerca de duas décadas, agravou-se na sequência da aquisição de excedentes para evitar a queda dos preços em anos de produção excepcional no final da década de 80, com a perda de competências atribuídas pelo Estado e com a perda da declaração de nulidade do negócio de compra de parte da Real Companhia Velha, por 50 milhões de euros, em 1990.
Só agora o organismo assumiu verdadeiramente a gestão dos seus 40 por cento.
As últimas semanas têm sido bastante conturbadas para o organismo duriense, com uma sucessão de boas e más notícias.
O organismo vendeu 14.500 pipas de vinhos, em três negócios distintos, equivalentes a cerca de 27 por cento das suas existências e lhe renderam cerca de 21 milhões de euros.
O maior negócio foi com o grupo The Fladgate Partnership, detentor das marcas Taylor,s, Croft e Fonseca, que adquiriu nove mil pipas de vinhos com cerca de 10 anos, enquanto que a empresa francesa Gran Cruz comprou cinco mil pipas e a Real Companhia Velha 500.
Estes vinhos estavam penhorados ao BPN, à Caixa Geral de Depósitos e à Caixa de Crédito Agrícola Mútuo.
Dias depois, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) anunciou a rescisão do protocolo com a CD relativo à utilização e actualização do cadastro das vinhas, instrumento que contém todos os dados sobre as vinhas e respectivos proprietários na região.
Com este protocolo a instituição obtinha 850 mil euros anuais, o que representava 50 por cento das receitas do organismo duriense.
Por isso, o dirigente diz Manuel António Santos já disse que vai utilizar todos os meios ao alcance da instituição, desde os jurídicos à mobilização social, para demonstrar a sua "total oposição à decisão do IVDP".
O IVDP, sob tutela do Ministério da Agricultura, solicitou também ao organismo duriense para "provar que o Laboratório é certificado".
Caso contrário, afirma, "será renunciado igualmente o acordo que tem com o laboratório da produção".
Depois de perder o controlo sobre a aguardente e a certificação e fiscalização dos vinhos do Douro e Porto, só restavam à Casa do Douro os serviços de cadastro.