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Silves deu a provar os seus vinhos entre as sombras do Castelo

Barlavento | 10-08-2009 | Geral, Regiões, Outros
Silves deu a provar os seus vinhos entre as sombras do Castelo
Oito produtores de vinho do concelho de Silves deram a provar "néctares entre as sombras" do Castelo. Foi ao fim da tarde, nos recém-inaugurados jardins islâmicos.

Mas vinho e herança islâmica têm alguma coisa a ver? Em Silves têm e muito. É que, como recordou Afonso Dias nos poemas que declamou de Al-Mutamid, apesar da interdição religiosa, a verdade é que, há oito séculos, as delícias do vinho eram tema frequente na poesia dos muçulmanos na Península Ibérica.

Mas a ideia não era fazer uma viagem ao passado, antes mostrar a realidade da produção vitivinícola do concelho. Isabel Soares, presidente da Câmara de Silves, explicou ao "barlavento" que a ideia de organizar esta iniciativa de promoção dos vinhos locais partiu da constatação de que "no concelho já são produzidos vinhos de grande qualidade, alguns deles premiados em concursos nacionais e internacionais".

Além do mais, acrescentou a autarca, Silves faz parte da rede Qualifica, de qualificação dos produtos da terra, da Associação de Municípios do Vinho, bem como da rede Cork, a rede internacional de territórios corticeiros.

"Hoje, infelizmente, Silves já não é a capital da indústria corticeira", como o foi nos fins do século XIX e primeiro quartel do século XX, "porque só existe no concelho uma fábrica ligada à cortiça, do Grupo Amorim, e não produz rolhas", recordou Isabel Soares.

"Mas na serra há todo um renovado interesse na reflorestação com sobreiros, pelo que, pelo menos ao nível da produção de cortiça, Silves poderá voltar a ocupar um lugar importante".

Para assinalar este «casamento entre vinho e cortiça», como lhe chamou a autarca, foi assinalado um protocolo entre a Câmara e as associações ARESP e AIHSA (ambas ligadas à restauração) e ACRAL (comércio), com três finalidades: primeiro para que os associados – restaurantes, bares, lojas – promovam juntos dos seus clientes o consumo dos vinhos de Silves.

Depois para que esses restaurantes e bares apenas consumam vinhos rolhados com rolhas de cortiça.

E finalmente, em associação com a Quercus, para que em cada um destes locais haja um "rolhinhas", um pequeno contentor onde serão depositadas as rolhas para posterior reciclagem.

Mas o que verdadeiramente interessava à centena de pessoas que aproveitou o fim de tarde de sábado para ir até ao Castelo de Silves era descobrir os vinhos.

A prova foi conduzida pelo jornalista e enólogo Aníbal Coutinho, curiosamente nascido no concelho, em Armação de Pêra.

Primeiro, foi entregue a cada uma das pessoas um copo de pé alto com um pouco de água, para que Aníbal Coutinho explicasse alguns dos gestos técnicos de uma prova de vinhos.

O especialista bem aconselhou que não se bebesse todos os oito vinhos, mas antes que se os provasse, fazendo-os rolar na boca, cuspindo-os depois para um recipiente. Só que, quando foi dada a ordem para o início da prova, raras foram as pessoas que seguiram os bons conselhos do enólogo.

A maior parte fez mesmo questão de beber e descobrir todos os vinhos brancos, rosés e tintos. Para mais porque a prova era acompanhada pelas criações gourmet do chef Alain Salles, que, em pequenos copinhos, como agora é moda, apresentou, entre outras iguarias, "filetes de sardinha assada com pimentos", "salteado de atum com sementes de sésamo" ou "creme de figos e nozes".

À margem da prova, Aníbal Coutinho falou ao "barlavento" sobre o ressurgimento dos vinhos do Algarve, que disse ter sido feito "em silêncio" pela mão de uns quantos produtores privados.

"Os vinhos do Algarve têm do seu lado uma grande vantagem: o facto de a produção estar ao lado de um grande centro de consumo".

O jornalista especializado nas questões da enologia salientou que o passo seguinte a dar é o da divulgação dos vinhos algarvios, que têm um lugar "sobretudo regional", e o enoturismo.

"Os turistas de hoje já não se contentam apenas com o sol e a praia, querem descobrir outras coisas, mesmo numa região como o Algarve. As pessoas gostam de conhecer onde é feito um vinho, como se produz, quem é o produtor".

Por isso, defendeu, "a aposta no enoturismo é muito importante, através da criação, nas quintas dos produtores, de um pequeno hotel, de instalações adequadas à prova e ao consumo do vinho. Esta é uma dinâmica que deve ser acarinhada pelas instituições".

Um guia dos produtores silvenses


A Câmara de Silves produziu um pequeno livrinho, onde apresenta todos os produtores de vinho do concelho, alguns dos quais com vinhas também em Lagoa e Portimão.

Eis os produtores:
Quinta do Barranco Longo (proprietário: Rui Virgínia),
João Clara (Edite Alves),
Paxá Wines/Quinta do Outeiro (Joaquim Lopes),
Quinta do Francês (Patrick Agostini),
Cabrita (José Manuel Cabrita),
Ypsilon/Quinta de Mata Mouros (Algra Lda/Vasco Pereira Coutinho),
Foral de Portimão (João Mariano),
Quinta dos Vales (Karl-Heinz Stock).

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