Num país onde quase 50% do território é ocupado por regiões vitivinícolas demarcadas, o mercado interno português está cada vez menos interessado em experimentar a produção oriunda de outros países: em 2006, a importação de vinhos representou um volume de negócios de apenas 49,7 milhões de euros, menos 22,3% que no ano anterior (64 milhões).
A explicação é simples: com uma tradição de produção de vários séculos – a vinha terá sido introduzida na Península Ibérica pelos romanos ainda antes da era cristã – e contando com a região demarcada mais antiga do mundo (o Douro, em 1756), os portugueses estão habituados a beber aquilo que produzem, diz o Instituto do Vinho e da Vinha (IVV). Juntando-se a este factor as fortes campanhas de marketing internas levadas a cabo quer pelas várias comissões vitivinícolas regionais quer pelas empresas e o facto de a produção nacional ocupar toda a escala de valor, desde o mais barato ao mais caro, o espaço para a importação é reduzido.
A actual conjuntura económica de retracção do consumo também não ajuda à expansão do mercado de importação, mas a verdade é que, ainda segundo o IVV, desde 1999 que os vinhos estrangeiros têm cada vez menos espaço nas prateleiras privadas. Nesse ano, a importação atingiu o seu nível mais elevado, com um volume de negócios da ordem dos 138,5 milhões de euros. Mas, de então para cá – e apesar de um ligeiro crescimento em 2003 e 2004 – as importações têm vindo a cair. De tal forma, que os valores apurados para 2006 são inferiores aos registados em 1995, ano em que o valor dos vinhos importados atingiu os 54,4 milhões de euros.
E, ao contrário do que se poderia supor, são os vinhos de mesa ou regionais estrangeiros e não os de qualidade produzidos em região demarcada (VQPRD) os mais procurados pelos consumidores nacionais. De facto, os VQPRD valeram, em 2006, apenas 2,3 milhões de euros (5% do total das importações), enquanto os vinhos de mesa ou regionais atingiram os 27 milhões (54%). Quota importante têm também o espumante e o vinho espumoso, que asseguram 37% das importações (18,2 milhões de euros em 2006).
A França e a Itália continuam a ser os países preferidos pelos consumidores nacionais de vinhos importados, mas a produção da Argentina, Chile e Brasil também tem despertado a curiosidade interna.
A tendência de diminuição das importações deverá manter-se. Até porque o mercado interno de vinhos tem vindo a diminuir nos últimos anos: em 2005 (último ano para o qual há estatísticas disponíveis), os portugueses consumiram 5,8 milhões de hectolitros de vinho, menos 1% que no ano anterior e menos 9,3% que em 2003. Ao menos no caso dos vinhos, parece que o ‘slogan’ “O que é nacional é bom” comanda as escolhas do mercado.
Austrália interfere com mercado de exportação
A produção vinícola oriunda da Austrália está em franco crescimento em todo o mundo, e se não tem tido grande aceitação no mercado interno, passa-se precisamente o contrário nos mercados tradicionais para as exportações portuguesas. Com uma produção em franco crescimento desde 1995, os vinhos australianos (que já se encontram no sexto lugar em termos de produção mundial e no quarto no que diz respeito às exportações) têm cada vez maior aceitação. O Reino Unido e os Estados Unidos da América (os dois mercados prioritários da produção nacional) representam já respectivamente 35% e 29% da exportação de vinhos australianos, numa factura total próxima dos 2.440 milhões de euros. Até na Alemanha, outro dos mercados tradicionais para a produção nacional, os vinhos australianos já asseguram uma posição equivalente a 5% do total das suas exportações. Refira-se que as exportações nacionais de vinho atingiram em 2006 um valor que ultrapassou os 562,5 milhões de euros, mais 3,4% que em 2005.