O abate de 200 mil hectares de vinha na Europa é encarado como globalmente positivo pelos agentes do sector vinícola português. Combater o excesso de produção é a principal razão para proceder a esta reforma num sector que se vê a braços com a concorrência agressiva do designado Novo Mundo.
“Só 200 mil?” questiona Miguel Azevedo, presidente da Companhia das Quintas, para quem os 400 mil hectares inicialmente propostos seriam uma medida mais adequada, já que existe um excesso de capacidade instalada. Segundo avança, a Companhia das Quintas “não vai sofrer nem um cêntimo com a medida. Devíamos agradecer e incentivar” a proposta, afirma. “Vamos tirar vinhos do mercado que nunca deveriam ter entrado”, frisa.
Francisco Spratley Ferreira, sócio-gerente da Quinta do Vallado, considera que a proposta “é benéfica, desde que se assegure que as vinhas a abater produzem vinho de má qualidade”. Como salienta, “toda a gente sabe que há excesso de vinho” na Europa, sendo que esta reforma permitirá “melhorar a qualidade média do vinho”. Além disso, e no caso da região do Douro, esta proposta poderá melhorar “a qualidade da imagem da região”, assegura. O responsável da Quinta do Vallado defende que o abate de vinha deverá ser feito com base num cadastro qualitativo das vinhas em oposição a uma eventual candidatura dos produtores.
Já Paulo Amorim, vice-presidente da ViniPortugal e presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE), teme que “os vinicultores se seduzam pelo aspecto financeiro e arranquem vinha boa”. Do seu ponto de vista, esta medida da Comissão Europeia “é positiva e bem-vinda”, mas alerta para a necessidade de mais apoios ao nível da promoção do Velho Mundo. Para a ANCEVE, as poupanças que a reforma da Organização Comum do Mercado do Vinho irá gerar deverão “ser dirigidas para a promoção dentro e fora do mercado europeu”.
Pedro Silva Reis, presidente do conselho de administração da Real Companhia Velha, considera que o abate “é sempre uma boa solução para as regiões que têm um claro problema de escoamento”. Na sua opinião, esta medida tem pouco interesse para Portugal e sugere mesmo que as vinhas que produzem vinho de fraca qualidade passem a fabricar aguardente vínica que poderá ser utilizada pelos produtores de Vinho do Porto. “Os excedentes acabariam”, frisa.
O presidente da Quinta da Aveleda, António Guedes, pensa que “as medidas são positivas desde que bem regulamentadas”. Irão “prevenir o excesso de vinho de má qualidade” e evitarão que a União Europeia esteja a “pagar um dinheirão anualmente para se queimar vinho que não presta”.
A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana defende que a região “não deverá ser grande beneficiária desta medida”, embora defenda “um possível arranque de algumas vinhas instaladas em terrenos menos favoráveis”. Para as empresas da região, é uma “oportunidade de melhoria do sector, o que é sempre positivo”.
Vinho liberalizado em 2013 com rótulos mais simples
Além do fim dos subsídios às queimas das vinhas de má qualidade, a nova reforma do OMC do vinho prevê ainda a liberalização do mercado vitivinícola europeu em 2013, medida que a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), ouvida pela agência Lusa, diz não concordar.
A simplificação dos rótulos das embalagens é outra das medidas muito bem aceites pelos produtores do sector. “Um rótulo não é nem deve ser uma ficha técnica”, sublinha o presidente da ANCEVE. A discussão do mercado dos vinhos vai ser firmada pela presidência portuguesa da UE, uma vez que Bruxelas quer que a nova OMC do sector entre em vigor ea um de Agosto de 2008, as a decisão cabe aos 27 Estados-membros.
Protagonistas de acordo nas alterações do mercado de vinhos
António Guedes, Quinta da Aveleda
O presidente da Quinta da Aveleda está de acordo com a decisão da Comissão Europeia porque “são medidas para prevenir o excesso de vinho de má qualidade”. Segundo o executivo, esta é uma forma de promover mais radicalmente a redução da produção, mas pode ser eficaz se for bem regulamentada. “ [A alteração] é boa e necessária, mas tem de ser cada país a decidir quais as zonas e as castas a candidatar-se.
Francisco Ferreira, Quinta do Vallado
Francisco Spratley Ferreira não tem dúvidas. A proposta é benéfica e permitirá retirar do mercado os vinhos de má qualidade. A imagem do vinho e das regiões vitivinícolas poderá então melhorar. Mas alerta que as vinhas a abater não concorrem com o vinho de qualidade. A concorrência manter-se-á alta, embora seja reduzida a quantidade de vinho disponível no mercado. Admite que a medida é boa para os pequenos produtores.
Miguel Azevedo, Companhia das Quintas
O presidente da Companhia das Quintas é contra os subsídios anuais que a Comissão Europeia dá para promover a queima. “A destilação [queima] é um cancro das finanças europeias. É deitar dinheiro à rua”, defende. Além disso, Miguel Azevedo não considera que a menor produção faça mexer nos preços, pois “há grandes massas produtivas fora da Europa, como a Austrália, o Chile, a Argentina e a Califórnia”.
Paulo Amorim, ViniPortugal
Paulo Amorim, vice-presidente e presidente da ANCEVE, defende o abate da vinha e reconhece que a reforma da OCM é em geral positiva e bem-vinda. Teme, contudo, que os vinicultores arranquem vinha boa devido aos incentivos dados pela UE. Defende a necessidade urgente de investir na promoção do vinho quer no mercado interno europeu quer externo. Considera que a presença do Estado no sector deve ser reduzida ao mínimo.