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O que é nacional é bom

Expresso | 09-06-2007 | Geral, Outros
O enólogo Paulo Laureano adquiriu vinhas, uma adega e prepara-se para lançar novas marcas no mercado

Quem olha para Paulo Laureano, enfiado no meio das barricas com o seu ar divertido e o bigode retorcido, não imagina as enormes responsabilidades que o enólogo assumiu nos últimos tempos. Apesar do seu ar despreocupado, tem bem a noção da nova aposta que fez, que envolve vários riscos, mas vai ao encontro do seu grande sonho: divulgar pelo mundo as castas portuguesas através da produção de vinhos de qualidade.

Paulo Laureano é um dos mais conhecidos enólogos portugueses, que ajudou a melhorar o perfil dos vinhos alentejanos na última década. Recentemente, investiu na aquisição de uma adega e 70 hectares de vinha na Vidigueira, um facto que veio permitir a imposição definitiva da sua filosofia de trabalho. Com este investimento Laureano quer implantar definitivamente a sua filosofia de trabalho: divulgar e promover as castas portuguesas.

Consultor de diversos produtores de norte a sul de Portugal (incluindo ilhas), entre os quais a conhecida Herdade do Mouchão, no Alentejo, Paulo Laureano apostou também na produção dos seus próprios vinhos, em 1998, altura em que fundou a empresa Eborae Vitis e Vinus. Da sua gama de vinhos incluem-se as marcas Dolium, Singularis e Vale da Torre elaboradas, até há bem pouco tempo, com uvas seleccionadas compradas a diversos produtores ou oriundas de uma vinha própria de 10 hectares, que entretanto adquiriu ao redor de Évora. Outra marca que também lançou no mercado através da sua empresa foram os vinhos Auster, fruto de uma parceria com o produtor José Lacerda, da Quinta da Estrada, no Douro, que ainda hoje mantém.

Agora, com o nome já bem solidificado no mercado, Paulo Laureano resolveu dar um passo em frente. Comprou uma adega e setenta hectares de vinha a um produtor para o qual trabalhava (Vidisava) investindo, no total, três milhões de euros. O crescimento da empresa e o desejo de assumir uma estratégia mais definida, obrigou-o a separar a produção de vinhos das suas consultorias: “A Eborae Vitis e Vinus deixou de existir, dando lugar à Paulo Laureano Vinus, que assegura a produção dos nossos vinhos, e à Eborae Consulting, que presta os serviços de consultoria”, explica o enólogo.

Até há bem pouco tempo, os vinhos de Paulo Laureano eram produzidos em várias adegas. Com a aquisição de uma adega própria - ampliada e equipada com as mais modernas tecnologias - e de vinhas, o enólogo alcançou a estrutura que há muito desejava para finalmente assumir a sua paixão pelas castas portuguesas, solidificando as marcas já existentes e lançando outras no mercado, assinadas com o seu nome: “As castas portuguesas são a identidade dos nossos vinhos, possuem aromas e sabores próprios, de qualidade reconhecida no mundo vinícola, assegurando uma diferenciação exclusiva”, afirma Paulo Laureano. “O mercado está saturado de vinhos de boa qualidade, com base nas castas francesas que se espalharam por todo o mundo, por isso, é fundamental sermos diferentes. A receptividade dos mercados internacionais a vinhos com identidade própria é imensa. Por isso assumimos um orgulho claro e genuíno nas nossas castas”.

Tal como na adega, a aquisição da nova vinha na região demarcada da Vidigueira foi pensada ao pormenor. As características do local que o cativaram para a compra foram o solo de origem xistosa e as vinhas velhas nele existentes onde, inclusivamente, existem castas portuguesas pouco conhecidas, de que é exemplo a Tinta Grossa. No entanto, apesar de defender as castas portuguesas, Paulo Laureano assume utilizar uma francesa, a Alicante Bouschet: “É uma casta adoptada, assumidamente portuguesa e, especialmente, alentejana. Não conheço nenhum país ou região onde ela se tenha adaptado tão bem”, defende o enólogo.

Marcas e Mercados

Segundo Paulo Laureano, os novos vinhos terão “uma tradução clara e fiel de onde são desenhados, ou seja, do quente clima transtagano, dos solos de xisto de qualidade ímpar e das castas que aí crescem”. Assim, se por um lado o perfil dos vinhos já existentes sofrerá uma evolução qualitativa, a nova gama - que será lançada para o mercado entre Setembro e Outubro deste ano - traduz-se nos vinhos tintos Paulo Laureano (o topo de gama, que rondará os €35/ €40), Paulo Laureano Premium (€15) e Paulo Laureano Clássico (€5), elaborados à base de várias castas tintas e brancas.

Com uma produção que em 2005 pouco ultrapassava as cem mil garrafas, a Paulo Laureano Vinus espera chegar acima das quinhentas mil. Por esta razão, a estratégia da empresa passa, também, pelo aumento da sua quota de exportação, que no ano passado era de 35% mas que cujo objectivo é atingir os 50%.

O enólogo alentejano

Paulo Laureano, alentejano de Alter do Chão, é formado Engenharia Agrícola na Universidade de Évora. A produção vitivinícola e a emotividade que a caracteriza foram factores decisivos na escolha da sua profissão. Em 1993, tirou duas pós-graduações em Enologia na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto e na Universidade de Charles Sturt, na Austrália. Ao regressar a Portugal, torna-se consultor de vários produtores e, em 1998, funda a empresa Eborae Vitis e Vinus, através da qual produz e lança os seus próprios vinhos. Entre 1993 e 2003, ocupa ainda o lugar de docente de Enologia na Universidade de Évora, sendo também o responsável pelo Laboratório de Enologia. Em 2003, o crescimento da empresa obriga-o a abandonar a Universidade de Évora para se dedicar, por inteiro, à produção vitivinícola. Em 2004, Paulo Laureano foi considerado o ‘Melhor Enólogo do Ano’ pela ‘Revista de Vinhos’ e pela ‘Revista Néctar’. Em 2005, a revista ‘MaisAlentejo’ atribui-lhe o prémio de ‘MaisEnólogo’. Em 2007 a Eborae Vitis e Vinus dá origem à Eborae Consulting (que gere as consultorias) e à Paulo Laureano Vinus (que assegura a produção de vinhos do enólogo).

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