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Mourinho leva ingleses a voltarem à cortiça em substituição do plástico e do alumínio

Público | 22-04-2007 | Geral, Outros
A Associação Portuguesa de Cortiça colheu frutos. Notoriedade da cortiça teve sabor diferente no Reino Unido. The Special One deixou a sua marca e aumentou o interesse pelo sector.

Depois do sucesso obtido com a campanha protagonizada por José Mourinho, a Associação Portuguesa de Cortiça (Apcor) prepara-se para promover o sector da cortiça sobretudo nos mercados alemão e francês, com iniciativas pontuais em Inglaterra, Austrália e Estados Unidos da América. A Campanha Internacional da Cortiça III já está a dar os primeiros passos, assegura o presidente da Apcor, António Amorim. Mas a nova campanha terá alterações de metodologia. "Até hoje andámos a explicar o que temos feito para reduzir as questões técnicas e os problemas da rolha de cortiça. Esse discurso está esgotado". Daí a alteração de estratégia. O novo discurso destaca a parte ambiental. "De um produto renovado, de um produto reciclado, que preserva um ecossistema", salienta o mesmo responsável.

Objectivos atingidos

A recomendação das cápsulas de plástico e de alumínio por parte dos supermercados ingleses não é tão acentuada; a notoriedade da rolha de cortiça aumentou; os pedidos de informação sobre o sector cresceram; artigos de opinião na imprensa britânica começaram a tirar o chapéu às vantagens da cortiça como vedante; e quase 40 por cento dos consumidores de terras de Sua Majestade inquiridos recordam uma frase que marcou a campanha em que José Mourinho deu a cara em defesa da rolha de cortiça: If"s not a real cork, take a walk.

O rosto de Mourinho num fundo preto marcado com frases em tom imperativo. "Choose cork", "Don"t settle for less", "Put a cork in it". Textos que valorizam as qualidades da cortiça completam a mensagem. A Campanha Internacional da Cortiça (CIC) II promovida pela Associação Portuguesa de Cortiça (Apcor) no Reino Unido - e paralelamente nos Estados Unidos e na Austrália, para públicos distintos - não passou despercebida e alterou atitudes. Entre Maio e Dezembro do ano passado, em outdoors e folhetos, Mourinho colou a sua imagem à rolha de cortiça em seis cidades inglesas. Uma campanha considerada, pelo Instituto do Comércio Externo de Portugal e pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento, um exemplo na internacionalização de um produto português.

"Conseguimos atingir uma notoriedade diferente", garante o presidente da Apcor, António Amorim. O mercado inglês é importante para o sector e havia pouco tempo para organizar uma estratégia comunicacional que fosse direitinha ao alvo. Ou seja, aos consumidores de vinho e aos supermercados ingleses. Mourinho surgiu com a pessoa ideal para promover um conceito de utilização de um produto natural e ecológico. "E isso foi conseguido." 

As razões para a escolha do treinador do Chelsea saltam à vista. "É uma personagem portuguesa muito conhecida não só em Portugal mas sobretudo, e neste caso, em Inglaterra. Representa um novo Portugal e um novo sector da cortiça. Ou seja, um sector que se revolucionou a si próprio, autoconfiante, que olha o futuro não mais com os telhados de vidro do passado, mas com a confiança de termos feito o trabalho de casa para podermos olhar o futuro com maior optimismo - não com a base da tradição, mas na performance", explica o responsável.

A mediatização da personagem também foi tida em conta. A conferência de imprensa em Londres para apresentação da campanha mobilizou mais de 30 meios de comunicação social. Mas a campanha também teve impacto em Portugal. E sem a Apcor precisar de investir um tostão. "Tivemos um efeito gratuito." A imprensa interessou-se pelo assunto e Mourinho explicou a razão de participar na iniciativa. "Sabemos que fez isto por uma causa nacional, mais do que por um interesse pessoal", recorda António Amorim. Por razões contratuais, continua em segredo o valor cobrado por Mourinho, mas sabe-se que a quantia foi doada a obras de caridade portuguesas. 

Recomendação do plástico

O Reino Unido é um mercado precioso para a Apcor por ser um grande consumidor de vinhos. "É um mercado e a porta de entrada de muitos mercados produtores de vinho a nível mundial."
A CIC II no Reino Unido surgiu numa altura em que interessava consolidar uma imagem de respeito pela rolha de cortiça. E o vento corria a favor. As desvantagens dos vedantes alternativos estamparam-se na imprensa. "Há uma tese que diz que a Inglaterra quer ter os 70 mil produtos que diariamente vende em supermercados com uma tabuleta a dizer quanto é que emite e retém de CO2. E aqui temos uma vantagem única face a um produto altamente poluente, o alumínio, e a um produto sintético, o plástico".

"No final dos anos 90, a proliferação dos plásticos começou a sentir-se porque os supermercados ingleses prescreveram, na prática, a utilização de plásticos a muitos países de onde importavam vinhos. Começámos a ter a ideia de que o mercado da pres-crição, da recomendação, é tão ou mais importante quanto o nosso mercado directo", diz António Amorim. É simples de fazer as contas. "Se conseguirmos influenciar uma cadeia de supermercados a optar pela cortiça, estamos a influenciar dezenas de milhões de garrafas", sublinha. 

A campanha também não passou despercebida na imprensa. "Jancis Robinson [Financial Times], uma das mais distinguidas críticas de vinho da Europa - que participou no funeral da rolha de cortiça em 2001, na estação central de Nova Iorque - é a primeira pessoa que em Junho de 2006 escreve um artigo a dizer como é possível alguém usar rolhas de plástico que não são nada atractivas, nada apelativas, porque oxidam os vinhos. É um artigo que não é favorável à cortiça, mas é um artigo claramente a criticar os plásticos", realça o presidente da Apcor. 

António Amorim destaca ainda a contribuição do World Wildlife Fund (WWF) - organização ambientalista que há dois anos se interessa pelas questões da cortiça - para os resultados alcançados. A entidade esteve na feira de vinhos internacionais de Londres, em Maio do ano passado, com um stand que alertava para a protecção do montado, dos sobreiros, chamando à atenção para a preservação dos ecossistemas e promoção dos produtos em cortiça. "Numa altura em que se muda de sacos de plástico para sacos de papel, em que cada supermercado inglês quer ser mais verde que o seu vizinho, em que as alterações climáticas são um tema na ordem do dia, o aparecimento da WWF também teve impactos".

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