Douro: Entre vinha e pipas, uma enóloga à conquista de área dominada por homens
Agroportal | 09-03-2006
A trabalhar há sete anos numa área dominada pelos homens, a enóloga Marta Casanova passa a maior parte dos seus dias entre a vinha e as pipas de vinho que produz numa quinta do Douro.
Aos 32 anos, é a enóloga responsável pelos vinhos produzidos na Quinta da Brunheda, concelho de Carrazeda de Ansiães, acompanhando, também, os trabalhos na vinha durante todo o ano.
Como se trata ainda de uma área dominada pelos homens, o início de actividade para esta enóloga "foi complicado".
"Os homens daqui, caracteristicamente durienses, não estavam habituados a receber ordens de uma mulher", afirmou hoje Marta Casanova, em declarações à Agência Lusa.
A responsável considera que, também no mundo dos vinhos, as mulheres estão a conquistar um lugar de destaque pela qualidade do seu trabalho.
"Quando provamos um vinho apenas sabemos que é um enólogo que o faz, homem ou mulher, mas estas podem ter uma sensibilidade maior para os odores ou para os aromas", salientou.
Marta Casanova nasceu na Maia e o primeiro contacto com a vinha e o vinho aconteceu quando foi estudar para a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde tirou a licenciatura em Engenharia Agrícola, com formação posterior em Enologia.
"No meu primeiro ano de curso fui fazer uma vindima numa quinta do Douro, um trabalho que passei a fazer regulamente. Foi esse contacto que despertou o gosto pela vinha e pelo vinho", frisou.
Rendida aos encantos do Douro e de Trás-os-Montes, a enóloga afirma que só uma "razão muito forte" é que a levaria a deixar esta região.
O trabalho na quinta é intenso e dura praticamente todo o ano.
"Algumas pessoas pensam que é só a vindima e que depois fica tudo pronto, mas logo após produzirmos os vinhos temos que fazer provas regulares e análises para ver como este evolui e fazer as correcções necessárias", explicou.
Depois do estágio nas barricas, é necessário preparar o engarrafamento, uma tarefa que está a decorrer actualmente.
Também na vinha o trabalho é constante, desde a poda das videiras à enxertia, e porque se preocupa com o ambiente, a responsável está a tentar cortar com os herbicidas de forma a implementar uma forma de agricultura biológica.
A quinta da Brunheda, com 50 hectares, produz vinho do Porto que é vendido a granel e engarrafa uma média anual de cerca de 100 mil garrafas de vinho de mesa, que se destina maioritariamente para a exportação para países da Europa, Brasil e Japão. Mas porque também há tempo para o prazer, Marta Casanova também gosta de se sentar numa varanda a olhar o rio Tua, em cujas encostas está instalada a quinta, a degustar um pouco de vinho.
"Sou muito crítica em relação ao meu trabalho e acho sempre que posso evoluir", frisou.
A UTAD possui a única licenciatura em Enologia do país, criada em 1989.
Gilberto Igrejas, responsável pelo curso, referiu que a maior parte dos licenciados em Enologia da UTAD são homens, mas salientou que o número de mulheres tem aumentado nos últimos anos.
"Hoje o número de homens e mulheres neste curso é praticamente equitativo", frisou.