Vinho verde no top das exportações
Em 15 anos, passou de 10 para 40% da produção. Os americanos adoram. As vendas para os Estados Unidos devem ultrapassar os 10 milhões em 2015
Nos restaurantes e nas casas dos estados do Nevada e da Califórnia (o mais populoso dos EUA, com 38 milhões de habitantes) saboreia-se o vinho verde, bem fresco, com sotaque: "vinhou vérdê", como se diz por lá. Mas não são os portugueses a trabalhar nos Estados Unidos que enchem os copos, para lembrar outros tempos – como cantava Paulo Alexandre nos anos 70, "Vamos brindar com verde vinho/ P’ra que possa cantar, canções do Minho/ Que me fazem sonhar/ Com o momento de voltar ao lar". Quem vai em cantigas são os norte-americanos, os principais consumidores dos 4,5 milhões de litros em 2014.
Com um mercado que deve ultrapassar os 10 milhões de euros no final de 2015, as vendas nos Estados Unidos são reflexo do sucesso do produto português no estrangeiro; já há muito que não se limita ao mercado da saudade. "Estes vinhos não são bons, são espectaculares. Reparem que não disse que são muito bons ou agradáveis, disse espectaculares. E os EUA são um grande mercado, de portas abertas. Hoje é preciso menos coragem e ferramentas para chegar lá fora do que há cinco séculos." As palavras são de Robert Sherman, embaixador dos EUA em Portugal. Esteve de visita à Estação Vitivinícola Amândio Galhano (EVAG), em Arcos de Valdevez, para a abertura oficial da campanha das vindimas na região. Diz que quer fazer a ponte entre os produtores portugueses e os consumidores americanos. De chapéu de palha e tesoura na mão, o embaixador ajudou a vindimar e até provou o resultado da sua colheita – não foi vinho (porque lhe faltava o processo de fermentação), mas um sumo de uva, resultado da passagem por um antigo espremedor.
São as características do solo e do clima que tornam este um vinho único. Em comparação com outras regiões, a do Vinho Verde é a que tem mais variedade de uva (45 variedades, comparado com 12 em Napa Valley, Califórnia, e também em Bordéus, França) e a que recebe mais chuva (1.200 milímetros de água, comparado com 944 em Bordéus, 655 na Nova Zelândia e 600 em Napa Valley), dados do INE/Intrastat.
Os valores de exportação mais do que quadruplicaram em 15 anos – de 10% da produção, em 2000, passaram a representar 40% este ano. Os EUA estão em primeiro lugar como destino, logo a seguir vem a Alemanha, depois França e Canadá – países entre os 90 mercados de exportação.
Mas a grande procura levou a que os stocks ficassem à justa. Por isso é preciso trazer mais gente para as vinhas, explica à SÁBADO Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) que criou o EVAG para investigar as vinhas, nos anos 80. Para produtores de leite que plantam milho, explica-nos, optar pelo vinho é uma boa aposta. "Organizamos visitas para os produtores conhecerem as vinhas que já estão a funcionar, para verem que são rentáveis. Se uma vinha tradicional produzia seis toneladas de uva por hectare, hoje pode chegar às dez toneladas."
Não existem três tipos de vinho
Com mais de 20 mil produtores de uva, a Região Demarcada dos Vinhos Verdes, criada em 1908, tem crescido em quota de mercado e é hoje a segunda região com mais vendas, a seguir ao Alentejo – em terceiro vem Setúbal e depois o Douro.
Mas há um caminho a percorrer. Ainda hoje, muitos pensam que existem três tipos de vinho: o tinto, o branco e o verde. A verdade é que o Vinho Verde é a designação de uma região demarcada que produz vinho que pode ser branco, tinto ou rosé. A confusão é considerada sacrilégio entre especialistas, mas o presidente da comissão não lhe dá tanta importância: "Importa -nos que as pessoas gostem. Queremos que percebam que é diferente por ser mais fresco e mais leve e ter menos álcool [abaixo dos 12°] – e, por isso, também é menos calórico." É um vinho para conviver, resume Manuel Pinheiro.