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2015, mais um ano perfeito para os vinhos portugueses

Público | 14-09-2015 | Geral, Economia
Nas regiões do Douro e do Alentejo, onde a vindima vai adiantada, já se celebra mais uma colheita memorável. Nos Vinhos Verdes há quem fale em "vindima do século". Se o tempo continuar assim, 2015 promete ser um ano histórico para os vinhos portugueses.
No Douro, os figos costumam ser um bom barómetro da vindima. No ano passado, houve muitos e grandes, mas eram pouco doces e começaram a desfazer-se mal caíram as primeiras chuvas. Este ano, os figos estão mais desidratados, não cresceram tanto, há menos, mas são dulcíssimos. Vêm aí grandes vinhos.
 
Apesar da seca e do calor extremo que as vinhas do Douro tiveram que suportar em Junho e Julho, a região pode estar a viver uma nova vindima histórica. A última foi em 2011, considerada uma das melhores de sempre- pelo menos desde que há registos-, ao ponto de a revista americana Wine Spectator ter incluído três vinhos do Douro dessa colheita nos quatro primeiros lugares do seu top 100 de 2014. Dirk Niepoort, por exemplo, acredita que 2015 vai ser “ainda melhor do que 2011”.
 
“Este ano é perfeito, genial, para vinho do Porto e para DOC Douro, se não for vindimado tarde”, diz. “Os vinhos que me interessava fazer já os fiz. As uvas estão muito maduras, têm suportado bem o calor até agora, mas vão começar a entrar em sobrematuração, criando desequilíbrios que são favoráveis para o vinho do Porto mas desfavoráveis para os DOC Douro, uma vez que a acidez vai cair a pique”, explica.
 
No grupo Symington também já se antecipa um novo ano vintage. “Embora o ciclo de maturação tenha sido simultaneamente um dos mais quentes e secos dos últimos 36 anos, as reservas de água no solo foram suficientes para suster as vinhas, em virtude das abundantes chuvas do início do ano vitícola, que se revelariam determinantes. Em segundo lugar, o mês de Agosto tem sido [foi] menos quente do que é habitual com valores de temperaturas diurnas e nocturnas abaixo das médias para a época e isto tem sido muito favorável para a vinha”, sublinha Charles Symington, o responsável pela enologia. Charles lembra que “é fácil centrarmo-nos apenas no aspecto da precipitação, quando na verdade a temperatura do ar, nesta fase do ciclo da vinha, tem igual influência na capacidade das videiras em produzirem uvas sãs com bom equilíbrio entre grau de açúcar e acidez.”
 
O ciclo final de maturação está a ser perfeito, com noites frias e dias não muitos quentes. Mas o excesso de calor e a falta de água aceleraram a degradação dos ácidos das uvas, sobretudo das oriundas das zonas mais baixas, o que está a obrigar os produtores a fazer grandes correcções com ácido tartárico (um produto natural). “Nada a que o Douro e o Alentejo não estejam habituados”, como referia, com algum humor, o crítico João Paulo Martins. A este propósito, o bairradino Luís Pato conta uma experiência recente com um vinho José de Sousa Rosado Fernandes 1940, um tinto do Alentejo. “Devem ter usado tartárico com força, para durar tanto tempo. Em novo devia ser imbebível, mas agora está muito bom.” 
 
Tirando a acidez baixa, no Douro, os vinhos estão a nascer cheios de cor e sabor, com boa concentração e estrutura. O ano vai, sobretudo, de feição para as vinhas situadas nas zonas mais altas e para a Touriga Nacional, que consegue preservar melhor a acidez do que a Touriga Franca. Por seu lado, esta variedade, que assume um papel decisivo nos vinhos durienses, está a compensar a sua baixa acidez com um teor de álcool mais generoso e uvas suculentas e saborosas. A pequena dimensão dos cachos da generalidade das castas também está a ajudar à qualidade geral dos vinhos.
 
Nos Vinhos Verdes, a euforia é igualmente grande. Já se fala em colheita do século. “O século ainda é pequeno, mas tudo se conjuga para que a vindima deste ano seja melhor do que as colheitas de 2011, 2008 e 2005, que foram muito boas”, diz o produtor e enólogo Anselmo Mendes. “As uvas estão num estado sanitário espectacular e a chuva que caiu no final de Julho foi ouro líquido”, acrescenta, enfatizando a elevada qualidade das uvas de Alvarinho, Loureiro e Avesso. “Mas nós trabalhamos a céu aberto e a chuva pode dar cabo de tudo”, avisa.
 
No ano passado, por esta altura, também se esperava uma colheita extraordinária um pouco por todo o país. Porém, as fortes chuvas que caíram na segunda quinzena de Setembro deitaram tudo a perder. O mau tempo afectou, em especial, as regiões que vindimam mais tarde ou que assentam o seu prestígio em castas sensíveis, como é o caso da Bairrada com a variedade Baga. Esta casta tinta necessita, acima de tudo, de sol e calor na fase final de maturação, já que acidez não lhe falta. Este ano, sol e calor é o que não tem faltado, pelo que também nesta região se espera uma colheita "absolutamente fantástica", acredita Dirk Niepoort, que, além do Douro, também faz vinhos na Bairrada e no Dão.
 
 “Os anos 5 são sempre excelentes na Bairrada”, teoriza Luís Pato, dando como exemplo as colheitas de 1975, 1985, 1995 e 2005, todas elas espectaculares. Os críticos da Baga diriam que a sua teoria só confirma, por excesso, uma outra teoria, segundo a qual, na Bairrada, só há dois anos bons de Baga por década… Mas esta é outra história e é sempre perigoso generalizar. Mesmo em anos maus, há sempre quem faça grandes vinhos de Baga. Este ano, se o tempo não se alterar muito, o mais difícil será fazer vinhos maus.
 
E isto é válido para qualquer região do país, em especial para as mais frescas, como Lisboa ou o Dão. Aqui, só mesmo a chuva abundante pode impedir um ano de grandes vinhos. E mesmo no Alentejo, a região mais castigada pelo calor, se esperam vinhos memoráveis. No início da vindima, "parecia que tudo se estava a adiantar", que a "fruta estava a ficar madura antes do tempo, que não íamos ter cor e sabor nas uvas tintas. Mas não. Como sempre acontece quando se trabalha com a natureza, tivemos que esperar para ver, e o resultado apareceu: fruta madura e com muito sabor. A natureza tem os seus tempos", resumia, no site da Sogrape, Luis Cabral de Almeida, enólogo principal da Herdade do Peso, na Vidigueira.
 

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