Novas Exposições no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia
A fotografia estará em destaque no novo ciclo de exposições do Museu do Vinho Bairrada, em Anadia, cuja inauguração está marcada para o próximo sábado, 20 de dezembro, pelas 16h00, com entrada livre.
Na ocasião, abrirão portas ao público as mostras “A arte da tanoaria – os últimos”, de José Fangueiro, e “Bairrada, a musa do espumante”, de Pedro Nóbrega. Serão ainda apresentados um Espumante Bairrada em homenagem a José Luciano de Castro e o documentário “A Arte da Tanoaria” do realizador Roger Nicolau, num evento onde estará presente Carlos Alberto Moniz, que interpretará alguns temas do seu último trabalho discográfico “O Vinho dos Poetas”.
Neste novo ciclo expositivo, o Vinho continua a dar o mote para a criação artística, sendo a fotografia a técnica escolhida para revelar dois novos conjuntos de perspetivas sobre o universo vinícola da Bairrada. José Fangueiro traz-nos “A arte da tanoaria – os últimos”, uma mostra concebida para o Museu do Vinho Bairrada, contemplando uma vasta coleção de imagens resgatadas de algumas tanoarias portuguesas, homenageando os homens que dão vida a esta arte ancestral. Resgatam-se expressões, habilidades e saberes do passado, culminando com imagens captadas nalgumas caves emblemáticas da Bairrada. A exposição é complementada pelo documentário “A Arte da Tanoaria”, realizado por Roger Nicolau, e tem como pano de fundo uma trilha sonora da autoria de Fernando Alves, jornalista da TSF. Será ainda exposto, pela primeira vez, um vasto conjunto de equipamentos e de ferramentas de associados à tanoaria, que o Museu do Vinho Bairrada tem vindo a integrar nas suas coleções e que não haviam sido ainda apresentados ao público.
“Bairrada, a musa do espumante”, de Pedro Nóbrega, foi igualmente idealizada a pensar no Museu do Vinho Bairrada. Trata-se de um conjunto de fotografias dedicado aos Espumantes Bairrada, e que, segundo o seu autor, “recria um círculo entre o espumante e a sua musa”, sendo sua intenção “mostrar, em cada peça, uma fase distinta da sua produção em que a sua musa a influencia”.
Para além deste tributo ao Espumante Bairrada, que, no próximo ano celebra o seu 125º aniversário, esta inauguração dá ensejo a uma outra homenagem. No ano em que se completa o primeiro centenário da morte de José Luciano de Castro (n. 1834 – m. 1914), a Câmara Municipal de Anadia tem vindo a promover uma série de atividades evocativas da vida e da obra desta influente personalidade da história de Portugal, que deixou profundas na história de Anadia e da região, nomeadamente no que respeita às origens do próprio Espumante Bairrada. Estadista, deputado, chefe do Partido Progressista, por várias vezes ministro e em três ocasiões presidente do conselho de ministros, jurisconsulto e jornalista, José Luciano de Castro é recordado pelos anadienses como grande benemérito. Ligado à criação da Escola de Viticultura e Pomologia da Bairrada (atual Estação Vitivinícola da Bairrada), acabou por ser um dos pioneiros no fabrico de vinhos espumantes em Portugal, na qualidade de associado da “Associação Vinícola da Bairrada”, fundada no seu palacete de Anadia. Esta sucessão de efemérides justificou, no entender da Câmara Municipal de Anadia, a criação de um Espumante Bairrada em homenagem ao estadista, contando, na concretização deste projeto, com a colaboração da Comissão Vitivinícola da Bairrada.
A tarde encerra com a atuação do maestro e compositor Carlos Alberto Moniz, que traz à Bairrada o seu disco “O Vinho dos Poetas”, que, segundo João Paulo Guerra, “tem castas, tem canções frutadas, tem canções com regiões demarcadas, tem aromas, elegância, perfil, equilíbrio, estrutura, complexidade e definição. Um disco com bouquet”.
As exposições estarão patentes até 10 de maio de 2015, de terça a sexta-feira, das 09h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, e aos fins-de-semana, das 10h00 às 19h00.
Programa do evento:
Inauguração da exposição de fotografia “A Arte da Tanoaria – Os últimos”. Autoria: José Fangueiro
Inauguração da exposição de fotografia “Bairrada, a Musa do Espumante” – Autoria: Pedro Nóbrega
Apresentação oficial do Espumante Bairrada José Luciano de Castro – projeto da Câmara Municipal de Anadia em parceria com a Comissão Vitivinícola da Bairrada
Apresentação do documentário “A Arte da Tanoaria”. Autoria: Roger Nicolau.
Atuação de Carlos Alberto Moniz – interpretação de temas do seu último trabalho discográfico “O Vinho dos Poetas”
Inaugura às 16:00 do dia 20 de dezembro de 2014 (sábado)
Entrada Livre
ANADIA # MUSEU DO VINHO BAIRRADA
NOVO CICLO DE EXPOSIÇÕES
Inauguração: 20 de dezembro # 16h00
TEXTOS
HUMANISMO DOS INSTANTES
Por Carlos Nuno Granja
A fotografia de José Fangueiro, seja urbana ou rural, de rua ou de espaços interiores, é acolhedora ao ponto de nos transportar para um mundo só nosso, alcançável ao nosso olhar e cativante pela forma como nos domina os pensamentos. José Fangueiro tem uma capacidade extraordinária de captar situações divergentes e diferentes das fotografias comuns. Absorve pelo expressionismo, pelas tonalidades do preto e branco, como se fossem todas elas coloridas pelas formas que se movimentam e pelos realces dos momentos captados. A este expressionismo junta-se o humanismo dos instantes, em cenários únicos, de envolventes muito genuínas, que só um fotógrafo sensível e apaixonado poderia obter.
O percurso de José Fangueiro na fotografia tem vindo a ascender à medida que a sua experiência vai ganhando novos fôlegos, seja pelos projectos em que se envolve, seja pelo olhar atento aos pormenores em cada caminhada pelos vários locais por onde passa. O fotógrafo alia-se ao homem para perceber os objectivos, mas mais essencialmente pretende fazer o que tanto gosta. Captar os rostos, as vidas, os passos e os destinos de tanta gente diferente que lhe vai aparecendo e que não escapa às sua objectiva. A capacidade que imprime e que revela em cada negativo que dá fruto à sua fotografia é respeitadora desse humanismo que trava o olhar de espanto e que o consegue fixar em minutos que mais parecem horas.
A qualidade da sua fotografia tem possibilitado a internacionalização por diferentes países e já também por diferentes continentes. É a prova do seu talento por trás da câmara fotográfica, da sua capacidade de discernir excelentes momentos e cenários que podem passar incólumes aos olhares de outros profissionais. Merece inteiramente o maior sucesso, pois cada sua fotografia se mistura com uma tela pintada, real pela sua essência de disponibilizar realidades únicas e diversificadas.
Em suma, não se deixa escapar uma exposição de José Fangueiro, nem de disponibilizar um pedaço do tempo para admirar as suas fotografias, entendê-las, interiorizá-las e, quem sabe, levá-las guardadas em compartimentos mentais ou em mãos mesmo por merecerem o destaque inteiro de se eternizarem expostas num pedaço de qualquer casa.
O OLHAR QUE TUDO MEDE…
Por Fernando Alves (jornalista / mentor do programa “Sinais”, da TSF)
As imagens persistentemente recolhidas nas antigas tanoarias de Esmoriz e de Penafiel pelo fotógrafo José Fangueiro desvendam rituais iniciáticos, lugares ocultos, mundos e ofícios perdidos só acessíveis aos possuidores de uma senha polida ao cepilho.
Ao acolher esta exposição, o Museu do Vinho da Bairrada pisa o mesmo chão seguro em que firmou cada passo do seu caminho. O mundo que daqui se alcança não termina no muro da vinha, nem na colecção de tambuladeiras de prata, tão preciosa. Deste modo, o Museu do Vinho da Bairrada continua a privilegiar formas diversas de expressão e intervenção artística recusando estreitezas temáticas. Afinal, Dionísio não era apenas deus do vinho, era também aquele que, no Olimpo, tutelava as belas artes.
Estas fotografias de José Fangueiro nos levam ao que dos nossos olhos se está perdendo. Vemos pelo seu apurado olhar um mundo quase desaparecido e percebemos o que queria dizer um velho tanoeiro a quem um dia perguntaram como calculava as medidas, na construção dos cascos de pipas e balseiros. Ele respondeu, simplesmente: “Os nossos olhos são a nossa fita métrica”.
IMPRESSÕES DIGITAIS
Por Luís Baila (jornalista / mentor e apresentador do programa “A Verdade do Vinho”, da RTP)
Tenho poucas certezas na vida, uma delas é que nada acontece por acaso. A forma como conheci o José Fangueiro e a sua obra é um bom exemplo. O que eu vi primeiro foram as fotos, quase sempre a preto e branco. Fiquei preso ao realismo que encontrava naquelas fotos, que na altura para mim eram de um autor desconhecido. Foi tanta a curiosidade, que quis ir à procura da pessoa que tinha conseguido captar a “alma” daqueles homens, que com as mãos trabalham a madeira na construção de barricas.
Os tanoeiros retratados nas fotos de José Fangueiro. No olhar do fotógrafo, uma arte. Mais uma que está em vias de extinção. O mundo hoje não se compadece com este tipo de arte. Infelizmente! Mas estes homens já conquistaram o seu lugar, a verdade é que não se pode contar a história do vinho em Portugal sem falar neles. Nestes tanoeiros que durante muitos anos ajudaram com as suas pipas, barricas e toneis os produtores de vinho em Portugal, a fazer o que de melhor o nosso país tem para dar.
E como era importante, tal com acontece em França, se Portugal conseguisse ter nos dias de hoje uma indústria forte no sector das tanoarias. Num país como o nosso, onde a floresta tem um papel tão importante e ocupa tanto espaço do nosso território, apesar de nós nos lembrarmos dela só no verão, quando as chamas nos oferecem hectares de negro e destruição. Uma boa indústria tanoeira bem podia ser o seguro de vida para as nossas florestas.
O que restou para José Fangueiro retratar foram apenas pequenas tanoarias, onde poucos homens transformam troncos de carvalho em barricas. Verdadeiros artesãos que só conseguem sobreviver no nosso mundo com uma inquebrável força de vontade. Uma vida feita de realismo. É esse realismo cru que está nas fotos fantásticas de José Fangueiro. Um realismo que nos transporta para dentro daquelas oficinas, que são o berço desta arte. Um trabalho quase artístico que está marcado em cada ruga na cara daqueles homens, em cada calo nas mãos daqueles “artistas”, iluminados por belos raios de luz que estão em todas as fotos de José Fangueiro.
Cada foto desta exposição é um quadro que nos transporta para dentro dos locais fotografados, as tanoarias. Que nos faz imaginar que vidas difíceis escondem cada um daqueles homens, que dão vida a estas tanoarias, que são palco da obra de José Fangueiro.
Olho para estas fotos e consigo sentir a emoção de ver ao vivo o trabalho destes homens. Sinto o calor das fogueiras que estão nas tanoarias, sinto o cheiro a queimado da tosta personalizada de cada barrica, que no fundo é a impressão digital de cada uma destas pipas que saem das tanoarias. Aliás, é aqui que se aproximam as obras dos tanoeiros e de José Fangueiro, porque cada foto é a impressão digital do fotógrafo.