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Associação quer nova taxa para promover vinho do Porto

Jornal de Notícias | 04-06-2010 | Geral, Artigos
António Saraiva admite que as empresas estão dispostas a dar mais dinheiro para aumentar vendas.
António Saraiva está há pouco mais de três meses à frente da Associação de Empresas de Vinho do Porto (AEVP). Pertenceu anteriormente a duas direcções lideradas por George Sandman. Agora é ele próprio, homem do Douro, nascido no Pinhão (Alijó), a comandar os destinos daquela entidade.

Os desafios são muitos, sobretudo numa altura em que a crise mundial também afecta as exportações de vinho do Porto, cujas vendas caíram nos últimos anos. A solução deverá passar pelo aumento da promoção. Para a suportar, António Saraiva defende a criação de uma nova taxa.

Como justifica a nova taxa?

Na verdade, as empresas estão dispostas a dar algum dinheiro para a promoção, mas também esperamos que o Governo nos dê uma contrapartida. O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto tem uma verba de alguns milhões de euros cativa ao Tesouro e que seria importante para ajudar a promover o vinho do Porto e dar-lhe uma noção de estatuto. O dinheiro resulta das taxas dos produtores e empresas e nós estamos dispostos a dar mais algum para que nos libertem aquele fundo. É nos tempos difíceis que temos de atirar para a frente.

Faz sentido promover o vinho do Porto como um todo?


O nosso objectivo é promover as marcas. De modo genérico, podemos estar a promover uma linha branca de uma grande superfície e esse não é o objectivo. A força do vinho de uma região está nas suas marcas.

Como se alarga o consumo de vinho do Porto?


Tem havido algumas inovações, como o vinho do Porto rosé, que poderá contribuir para alargar os momentos do consumo. O problema é que em Portugal defendemos muito pouco aquilo que produzimos bem. Vou a casa dos meus amigos, têm uma série de marcas de destilados e alguns vinhos fortificados estrangeiros e se pedir vinho do Porto dizem logo: "Espera aí. Vou ali à garagem que deve lá haver qualquer coisa..." É um sinal muito preocupante, que também se verifica em pleno Douro. Vou a qualquer café ou restaurante, têm as prateleiras cheias de tudo o que seja bebidas destiladas e de vinho do Porto têm uma ou duas garrafas, se tiverem. Vamos à região de Champagne (França) e têm as prateleiras cheias dos produtos deles. A promoção passa pela visibilidade.

O que tem feito para apaziguar as relações entre produção e comércio?


As coisas não chegam a bom porto tão rapidamente como queremos, mas foi um grato prazer de ter a direcção da Casa do Douro na minha tomada de posse. Um sinal muito bom de aproximação entre as profissões. Só podemos falar de um sector forte se elas estiverem unidas e tentarem defender os interesses comuns. Já tive duas reuniões com o presidente da Casa do Douro, mas é óbvio que a nossa associação não é chamada para os problemas da produção.

Mas tendo o comércio o poder que tem, tem uma palavra a dizer em prol da estabilidade na região...

Sim. Nós estamos extremamente preocupados com o que se passa, mas não temos meios de resolver o problema. Apenas demonstrámos solidariedade institucional. Para todos os efeitos, os problemas da Casa do Douro mexem com a região e com toda a gente, o que nos preocupa, pois nós queremos estabilidade.

Para isso, a produção precisa de regressar ao Conselho Interprofissional...

O presidente da Casa do Douro afirmou-me a vontade de regressar ao Interprofissional, mas tem as suas condições. Numa conversa com ele, tentei dar algumas saídas possíveis. Sei que o presidente teve uma reunião com o ministro da Agricultura, mas não tenho conhecimento oficial do que se terá passado. É para nós extremamente importante que a Casa do Douro regresse rapidamente ao Interprofissional, pois há demasiados dossiês em jogo e a vindima está próxima.

Defende nova redução do quantitativo de benefício?

Tudo depende dos volumes de vendas e os quantitativos que existam na produção. Por outro lado, se houver acordo entre o Governo e a Casa do Douro para que o seu stock possa ser posto à venda, para que as empresas o possam vir a comprar, cumprindo as regras, presumo que terá de haver uma quebra do benefício. Curiosamente, no final de Março, as vendas já estavam a crescer cerca de 4%, pela primeira vez em três anos, o que é excelente.

Os associados da AEVP pagaram as quotas à Casa do Douro?


Os sócios, na sua quase totalidade, pagaram as suas quotas e convencemos os nossos viticultores a pagá-las. Agora, é certo que as quotas deveriam render à Casa do Douro 1,2 milhões de euros e, tanto quanto sei, não chegou aos 300 mil.

Esta Casa do Douro ainda tem futuro?


Eu acho que tem de haver uma Casa do Douro, seja esta ou outra qualquer. Nenhuma região pode funcionar sem um sindicato de viticultores. Existe o Interprofissional e nele têm de estar representados o comércio e a produção. Eu também sou viticultor e penso que tem de haver esse sindicato, com este ou outro formato, que possa defender e ajudar a lavoura a todos os níveis.

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