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Dão Sul quer tornar Santar na Saint Emilion de Portugal

Agroportal | 11-01-2007 | Geral, Outros
A vila de Santar, no coração do Dão, poderá nos próximos anos vir a tornar-se na Saint Emilion portuguesa, no âmbito de um projecto de enoturismo que está a ser desenvolvido pela sociedade vitivinícola Dão Sul.
Casimiro Gomes, um dos sócios da Dão Sul, disse à agência Lusa acreditar há mais de uma década que "Santar tem potencial para ser a Saint Emilion de Portugal", aludindo à vila medieval francesa cercada de vinhedos e situada a 35 quilómetros de Bordéus.

"Saint Emilion é uma vila que vive do turismo do vinho e não tem mais do que Santar em termos de história. Achamos que podemos ser o motor do desenvolvimento de Santar", frisou o responsável da Dão Sul, que produz vinhos em várias regiões de Portugal.

Fundada em 1990, a Dão Sul apostou já no enoturismo na Quinta do Cabriz, em Carregal do Sal, onde tem um restaurante, salões de banquetes e uma loja de venda ao público, mas pretende agora prosseguir com um projecto mais ambicioso em Santar, onde prevê investir 10 milhões de euros nos próximos anos.

"O vinho hoje não é só uma bebida e quem o vir como tal falha estrategicamente", defendeu o engenheiro agrónomo, considerando fundamental a sua ligação ao património e à cultura da região, até porque o líquido em si é produzido a preços mais baratos do que em Portugal em países como a Austrália e a Argentina.

Neste caminho, a Dão Sul comprou há dois anos, a 23 herdeiros, o Paço dos Cunhas (datado de 1609) e a Casa do Soito (construída no século XVIII), que fica no interior dos seus muros, bem como 35 hectares de vinha, tendo esta já sido recuperada nos últimos dois anos.

Neste local, surgirá um dos pólos do projecto de enoturismo de Santar que, segundo Casimiro Gomes, "pretende agradar a toda a família e não só a quem gosta de vinho".

A necessitar de obras urgentes, o Paço dos Cunhas ficará dotado de um conjunto de infra-estruturas para receber eventos de empresas.

Nos talhões de terreno à sua volta, serão plantadas hortas de onde sairão produtos biológicos para um restaurante e que também terão uma função didáctica, "para que as crianças saibam de onde surgem as couves e os alhos".

A Casa do Soito, que tem um valioso recheio avaliado em mais de 1 milhão de euros (nomeadamente armas e quadros de família), será transformada num hotel de charme, à semelhança dos muitos que existem em Saint Emilion.

"Queremos que a sua história seja o elemento de atracção. Não será apenas mais um espaço para dormir, porque isso faz-se em qualquer lado", explicou Casimiro Gomes.

Também a Casa de Santar, um solar do século XVII e XVIII propriedade da Condessa D. Tereza de Lencastre de Mello que se mantém na mesma família há 15 gerações, estará envolvida no projecto de enoturismo.

A Casa de Santar, que dá nome a um dos vinhos produzidos nos 103 hectares de vinha plantada à sua volta, ligou-se há pouco mais de meio ano à Dão Sul.
"Em menos de um ano criou-se uma sintonia com a família que não é fácil neste tipo de negócios", congratulou-se Casimiro Gomes, que conta com a ajuda de Pedro de Vasconcellos e Souza, conde de Santar após a morte do seu pai.

O espaço da adega da Casa de Santar será uma zona permanentemente virada para os clientes", com locais para restaurante e provas de vinhos.

Pedro de Vasconcellos e Souza, engenheiro agrónomo e mestre em enologia, disse à Lusa que a parte de baixo da Casa de Santar - onde se situa a capela, a cozinha velha e sala dos coches - já é actualmente visitada por turistas, bem como os seus jardins.

A família explora também uma loja onde vende os seus vinhos.

"Mas este projecto representa o futuro, porque não se pode ter uma perspectiva individual. Nós temos a história e as vinhas, porque não juntarmo-nos em vez de estarmos a puxar cada um para seu lado?", questionou.
Também o conde considera que "Santar tem coisas tão boas como Saint Emilion, têm é de ser valorizadas".
Casimiro Gomes está convencido de que as obras no Paço dos Cunhas, em fase final de licenciamento, podem arrancar ainda na Primavera deste ano e ficar concluídas a tempo de comemorar os seus 400 anos, em 2009.
No que respeita à Casa de Santar, numa primeira fase será construída a sala de jantar do restaurante nas adegas e, posteriormente, em 2008, os grandes salões para eventos nos pavilhões do exterior.

A Dão Sul pretende que, a partir de 2009, Santar se assuma como um espaço de identificação internacional do vinho português, dando o mote a outros produtores para lhe seguirem o exemplo e investirem na vila.
Espanha é, "pela proximidade e porque tem uma cultura da vinha muito forte", um país que o projecto de enoturismo quer atrair.
"Mas também os países do Norte da Europa, que têm grande poder de compra e valorizam muito o passado, e os mercados onde estamos bem instalados, nomeadamente o Brasil e os Estados Unidos", acrescentou.
Casimiro Gomes disse ter a noção de que "os próximos 10/15 anos são de investimento sem retorno", mas frisou que, "apesar dos protestos dos economistas, a Dão Sul funciona com uma estratégia de longo prazo".
"Óbidos só tem a dinâmica actual porque houve um projecto de décadas a requalificar", sublinhou.
Em Santar existem actualmente poucos empregos, porque a industrialização nunca chegou à vila.

A Dão Sul, com 25 postos de trabalho fixos, aos quais acrescem muitos mais em épocas como as da poda e da colheita, é um dos maiores empregadores da vila.

Casimiro Gomes considera que, no caso de Santar, a falta da industrialização acabou por ser uma vantagem, porque permitiu-lhe manter um ar de nobreza, dado pelo granito das ruas e pelos seus inúmeros solares.

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